Dedicado a Augusta Vilalobos
Por vezes há palavras convulsas. Como peixes a
quererem saltar para fora do lago na ilusão que fora dali
terão melhor sorte. Como algas na subida das marés acabando
condenadas a secarem ao sol. Por isso temos necessidade de
as dizer. Toda uma ânsia de dizer. Palavras.
Há palavras que surgem em verbo. Que se educam no
verbo. São um verbo. E educar é um deles. Transitivo ele
resulta convulso. Educar é um verbo convulsivo. Traz essa
condição aristotélica, quando este nos diz que somos aquilo
que fazemos repetidamente. O ser convulso.
Ser é dizer. E dizer repetidamente. Educar é ser
repetidamente. Até a exaustão sem nunca poder ser exausto. E
é essa fronteira limite o abismo entre o desastre e a
sabedoria.
Educar é a navegação nesse fio de navalha. O perigo.
EducAção é uma EducArte. Uma Arte perigosa, por isso
todo o seu vulto de fascínio. Vulto de um corpo mutável.
Mutante. Que tantas vezes nem existe. Porque é já em si a
própria existência. Existência de conceito.
Educar é traballhar o conceito. É o querer saltar para
fora do próprio conceito. Nessa ilusão de redescobrir o
sentido que quer ganhar novo sentido. Como o peixe que, na
ilusão, quer saltar fora do lago.
Educar é ser peixe voador.
Ser um ser de voo recidivante, entre o salto e o
mergulho. Entre a luta e o sossego. Entre a guerra e o
repouso do guerreiro. Todo esse abismo.
Ouso repetir, repetidamente, "até a exaustão" [sem
querer ser exausto] que fazer arte, fazer poesia é educar.
Mas esse dizer, repetidamente, é poema, é um grito. Um
gRito. E todos os gritos se ritualizam. Se repetem.
Repetidamente. É um grito a querer dizer que a Arte é.
EducArte.
Casa da Escrita, Coimbra, 27 março, 2016
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