REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


ns | número 63 | março-abril 2017

 
 
 
ANTÓNIO BARROS

O Ser Convulso
Dedicado a Augusta Vilalobos 

Por vezes há palavras convulsas. Como peixes a quererem saltar para fora do lago na ilusão que fora dali terão melhor sorte. Como algas na subida das marés acabando condenadas a secarem ao sol. Por isso temos necessidade de as dizer. Toda uma ânsia de dizer. Palavras.

Há palavras que surgem em verbo. Que se educam no verbo. São um verbo. E educar é um deles. Transitivo ele resulta convulso. Educar é um verbo convulsivo. Traz essa condição aristotélica, quando este nos diz que somos aquilo que fazemos repetidamente. O ser convulso.

Ser é dizer. E dizer repetidamente. Educar é ser repetidamente. Até a exaustão sem nunca poder ser exausto. E é essa fronteira limite o abismo entre o desastre e a sabedoria.

Educar é a navegação nesse fio de navalha. O perigo.

EducAção é uma EducArte. Uma Arte perigosa, por isso todo o seu vulto de fascínio. Vulto de um corpo mutável. Mutante. Que tantas vezes nem existe. Porque é já em si a própria existência. Existência de conceito.

Educar é traballhar o conceito. É o querer saltar para fora do próprio conceito. Nessa ilusão de redescobrir o sentido que quer ganhar novo sentido. Como o peixe que, na ilusão, quer saltar fora do lago.

Educar é ser peixe voador.

Ser um ser de voo recidivante, entre o salto e o mergulho. Entre a luta e o sossego. Entre a guerra e o repouso do guerreiro. Todo esse abismo. 

Ouso repetir, repetidamente, "até a exaustão" [sem querer ser exausto] que fazer arte, fazer poesia é educar. Mas esse dizer, repetidamente, é poema, é um grito. Um gRito. E todos os gritos se ritualizam. Se repetem. Repetidamente. É um grito a querer dizer que a Arte é. EducArte.

Casa da Escrita, Coimbra, 27 março, 2016

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Natural do Funchal, António Barros (1953-) estudou na Universidade de Coimbra e na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Barcelona. Trabalhou na década de 1970 com Wolf Vostell, Alberto Carneiro e José Ernesto de Sousa. Organizou diversas exposições e ciclos de performance, entre os quais Projectos & Progestos (1979-83, Coimbra). Participou em inúmeras exposições coletivas desde os finais da década de 1970 e realizou várias exposições individuais. A sua obra artística está representada nas colecções do Museu de Serralves, do Museu Vostell de Malpartida, Cáceres, e do Museu de Arte Contemporânea do Funchal. Biografia mais extensa em:

http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-alografas/antonio-barros-biografia

 

 

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