Shuntarō Tanikawa
(Japão). Nasceu a 15 de Dezembro de 1931, em Tóquio. É poeta e
tradutor, sendo frequentemente referido quando se fala no Prémio
Nobel.O seu livro Floating the River in Melancholy,
traduzido por William I. Eliott & Kazuo Kawamura,
ganhou o American Book Award em 1989.
Tanikawa escreveu já mais de 60 livros de poesia e traduziu os
Peanuts de Charles Schulz e os poemas infantis da
Mother Goose. |
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SHUNTAR0 TANIKAWA
Seis poemas de
Minimal
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Traduções para português por Francisco José Craveiro de
Carvalho, com base em traduções para inglês de William I.
Elliott & Kazuo Kawamura.
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Trapos
A poesia
chegou
antes do amanhecer
vestida
de
palavras sórdidas.
Nada tenho
para lhe dar.
Dão-me antes
o seu corpo nu
vislumbrado
entre farrapos.
Mais uma vez
lhe remendo
os trapos.
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Rejeitar
Uma montanha
não rejeita
a poesia;
nem as nuvens
a água
ou as estrelas.
São sempre
as pessoas
que a rejeitam,
com medo,
ódio
e palavrosas.
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Sentado
Estou sentado num sofá
como uma amêijoa na concha
nesta tarde parcialmente enevoada.
Tenho coisas para fazer
mas, encantado,
não faço nada.
As coisas belas são belas.
Mesmo as coisas feias
têm em si algo de belo.
Só estar aqui
é extraordinário
e deixo de ser eu.
Levanto-me
e bebo água.
Até a água é fantástica.
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E
Quando chega o verão
as cigarras
voltam a cantar.
Fogos de artifício
congelam
na minha memória.
Os países distantes atenuam-se
mas o universo
está mesmo à frente do
nosso nariz.
Que bênção
podermos
morrer
deixando
apenas a conjunção
“e”.
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Uma canção
Alguém
está
a cantar-me
tons das nuvens
e a harmonia
das árvores.
Um dia
parará,
o pulsar do coração.
Mas a canção continuará
em teu
louvor.
A melodia da água
desliza
pelo leito do rio.
Sobre as ruínas
a pausa da noite
ressoa.
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Uma face
Uma face –
a única
no mundo...
Uma face –
um afloramento
do destino...
Desorientada
pela luz fraca
na profundidade do espelho,
incapaz
de procurar
outra face,
espero,
na noite do coração
o último raiar do solo.
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