Cabeçalho de Manuel A. e Sousa
Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . nº61. novembro-dezembro 2016 . ÍNDICE
Homenagem de A viagem dos argonautas e do Triplov a José Afonso



 

JOSÉ DO CARMO FRANCISCO (Santa Catarina, Caldas da Rainha,1951). Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Colaborou no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses do Instituto Português do Livro. Poeta. Possui uma antologia da sua poesia publicada no Brasil. Jornalista, colaborou entre outros em "A Bola", "Jornal do Sporting", "Remate", "Atlantico Expresso"... Autor de "Universário", "Jogos Olímpicos", "Iniciais", "Os guarda-redes morrem ao domingo", etc., bem como de antologias como "O trabalho", "O desporto na poesia portuguesa e "As palavras em jogo", entre outras. É secretário da Associação Portuguesa de Críticos Literários. Contacto: jcfrancisco@mail.pt


JOSÉ DO CARMO FRANCISCO

José Afonso: «Dediquei-me ao desporto, fiz animação.
Gostei muito de ensinar.»

 

Esta frase retirada de uma exposição de 1994 na Oficina da Cultura da Câmara Municipal de Almada pode parecer algo inesperada mas de facto José Afonso (José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos) sempre foi ao longo da sua vida (1929-1987) um apaixonado pelo desporto. Nos seus tempos de Coimbra nos anos quarenta Coimbra não é uma Coimbra, «Coimbra são duas – a dos estudantes e a dos futricas. Nos anos cinquenta «Coimbra permanece dividida: a Porta Férrea e a Portagem estão longe uma da outra.» A citação é do livro de José A. Salvador «Livra-te do medo – Estórias e andanças do Zeca Afonso» (A Regrado Jogo Edições).

Já em Belmonte, em criança, Zeca Afonso olhava de lado o Urbano, «um tipo que jogava bem futebol e por quem eu nutria uma certa inveja, talvez porque jogasse menos do que ele». Depois em Coimbra, outras memórias: «Andava nas cantorias, cenas de pancadaria com os chamados futricas, vivi o meu apoio incondicional à Académica que era quase um partido. Idas nos comboios pendurado nos estribos, leituras múltiplas apesar de ser um aluno medíocre, inquietações, vivências que já não lembro. E paixonetas». Uma paixão a sério foi o seu primeiro casamento. Segundo o poeta Luís Andrade (Pignatelli) «A Amália era órfã. Praticamente ele raptou-a da casa da família. Ela era mais nova do que ele e excepcionalmente bonita. Foram grandes amores, julgo, e o casamento desfez-se por grandes dificuldades económicas.» Nasceram dois filhos – José Manuel e Maria Helena – no mesmo ano. Um em Janeiro, outro em Dezembro.

A paixão pelo futebol concretiza-se no tempo do Liceu no Campo de Santa Cruz onde as equipas formavam a partir das turmas do Liceu no meio de grandes «sarrafadas» Mais tarde Zeca Afonso joga na Académica onde era conhecido por «Cerqueira». Começou nos juniores e chegou a jogar nas reservas ou equipa B - como agora se diz. Jogava por norma a extremo-direito mas só aguentava a sério vinte minutos de jogo. Foi seu treinador o húngaro Peics que através das olheiras dos jogadores controlava as suas fantasias extra-desportivas. Mais tarde foi treinado por Micael e por Alberto Gomes, seu ídolo. Tal como ídolos foram o Zé Maria Antunes, o Lomba, o «Faísca» e o Bentes, o irrequieto extremo-esquerdo que «metia a maior parte dos golos da Académica».  

Por causa da Académica Zeca Afonso chegou a andar à porrada quando a equipa dos estudantes jogava fora de casa: «entendia que desse modo cumpria condignamente o meu papel, era uma obrigação, um dever, um juramento, uma profissão de fé defender a Briosa.» 

Em 19-12-1949 escreve a sua irmã Mariazinha: «Agora só se fala no «foot ball» que por cá vai sendo moda mesmo para as «élites» femininas». Era outro o tempo, outro o futebol ainda com muito de paixão artesanal. A fase industrial viria depois mas esta não se pode apagar. O futebol foi no seu tempo uma das grandes paixões de Zeca Afonso. 

 

José do Carmo Francisco

 
 


 
 
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