REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


NS | número 59 | julho-agosto | 2016

 


OMAR PEREZ

Poemas

Apresentação e tradução de Francisco Craveiro
 

A primeira pessoa a quem ouvi referir, não o nome, "Omar Pérez", sim uma obra dele, foi Michael Kelleher, quando traduzia o seu poema «Cuba» (DiVersos - Poesia e Tradução n.º 24). As suas palavras exactas foram “He is the son of the father, yes. In this case, it was actually a poet I met in Cuba who was the lovechild of Che Guevara.”

Não foi difícil depois descobrir o nome do poeta.

Omar Pérez nasceu e cresceu em Havana. Estou inglês na Universidade de Havana e italiano em Universitá per Straniere di Siena.

As suas recolhas poéticas incluem Lingua Franca (2010), Oíste hablar del gato de pelea? (1999),  e Algo de lo Sagrado (1996).

Estas traduções foram feitas com base em originais e versões inglesas de Kristin Dykstra.

Francisco Craveiro

A progressão

 

Quando um não chega, precisamos de dois

quando dois não chegam. Precisamos de quatro

com quatro começa a progressão, em direcção a um número

chamado absurdo pelos professores na escola.

Pergunta: Quantos homens são necessários

para construir uma casa?

Resposta: São precisos absurdos homens

quando um não basta e dois não chegam para fazer

o trabalho de Um.

E quanto se deve dar a estes homens

para os remunerar?

São precisas absurdas moedas quando  uma

dividida ao meio e distribuída

não é suficiente.

E de quantas palavras precisamos

para os mudar?

Absurdas, absurdas e absurdas palavras

quando o o silêncio não basta.

A isto chamam progessão:

Absurdos homens não chegam para construir uma casa,

absurdas moedas não os tornam felizes

absurdas palavras não conseguem  dissuadi-los. 

 

Congregações

 

Um pescador  mais  outro

uma gaivota  mais  outra

gaivotas a voar sobre eles 

Quinze Babéis

 

Discordando da existência hegemónica

do sistema de Babel única

propomos criar quinze

para o fazer discutiremos o programa em três línguas durante cinco anos

ou em cinco durante três até se obter o efeito pretendido

discutir numa só língua durante quinze anos pode levar ao mesmo resultado 

A vitória dos desobedientes

 

Na multidão

um homem empurrou disfarçadamente com o pé uma pomba

muitas vezes antes de a apanhar.

Há uma vida apenas e envolvê-la-emos com(?) escamas

há uma vida apenas e cobri-la-emos com as palavras dos outros

dissimuladamente apalpá-la-emos várias vezes

antes de decidirmos que a queremos. 

História do beijo

 

cinco sentidos

um lábio

e outro

e outro

e outro

A história do raio

 

O raio pode voar

de cima para baixo pelo menos

nesse sentido é

um pequeno pássaro.

O Paulo tem cinco anos

quer tornar-se um raio

mas quer também ser quixote

sancho não

A vitória dos desobedientes

 

Na multidão

um homem empurrou disfarçadamente com o pé uma pomba

muitas vezes antes de a apanhar.

Há uma vida apenas e envolvê-la-emos em escamas

há uma vida apenas e cobri-la-emos com as palavras dos outros

dissimuladamente apalpá-la-emos várias vezes

antes de decidirmos que a queremos.

 
 

Omar Pérez is a poet, essayist, and translator. Born in 1964 in Havana, Cuba, Pérez has published an array of work on the island. He won Cuba’s Nicolás Guillén Award for Poetry in 2010 with the collection Crítica de la razón puta. Other books of poetry include Algo de lo sagrado (1996), ¿Oíste hablar del gato de pelea? (1999), Canciones y Letanías (Extramuros, 2002), and the unusually multilingual Lingua Franca (2009). An early collection of essays, La perseverancia de un hombre oscuro (2000), received a National Critics’ Prize. Following that award Pérez worked as an editor specializing in the essay at Letras Cubanas, an editorial house in Havana, and has returned to the essay in projects such as El corazón mediterráneo (2011). Among his many literary translations are works by contemporary writers in Italy, Africa, Great Britain, and the United States, as well as a rendition of Shakespeare’s As You Like It. In addition to working with multilingual poetry and prose, Pérez has explored an interdisciplinary arts practice. He participates as a percussionist in collaborative works with dancers and among his writing projects are a variety of notebooks with visual components, including collages for his new manuscript La carrera (The Race), from which several of the selections above are excerpted.

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