REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


NS | número 59 | julho-agosto | 2016

 
Foto de Melanie Havens
Fernando Naporano. Nascido em São Paulo, passou a primeira infância entre Madri e Dublin. Adulto, teve uma banda, Maria Angélica não mora mais aqui, trabalhou por anos como crítico cultural em publicações como Folha de S. Paulo, mas desistiu da profissão em 2004. No livro de poemas Agonia dos Pássaros, primeira obra sua publicada, mostra versos de caráter reflexivo, que partem de sensações e registros cotidianos.

FERNANDO NAPORANO

Com as portas da alma arrombadas

De "A Respiração Da Rosa"

Quando A Água Estende Seu Gesto

 

Fabienne, teu rosto, entre as unhas do dilúvio,

era o que restava na restinga do Tiede

 

Com as portas da alma arrombadas

era visível o peso do coração

a refletir na taça de champagne prateada

a sintonia com o corpo só das Estrelas

que nunca distinguiram

o caminho das estradas

 

Fabienne, assim teu, sem mais nada em água,

a escorrer; enfim ser a respiração do desejo

Solaris Contínuo Ao Envio Da Pedra

 

Finalmente, pintado pelo cheiro lilás da alfazema,

havia chegado ao espelho das Águas,

a derradeira embarcação dos sentidos,

a luz relativa do barco negro

atracado para todo o fim do sempre

no centro do infinito rio

que proibiu aos homens

a desgraça de ter nome.

Composição Com Argila, Acrílico e Algodão Art-Nouveau

 

As camélias respiram a prata do amanhecer

vísceras de jerez em ouro castanho

ensaiam uma tenue despedida de cristal

as mágoas esperam a primeira gota de sol

para secarem-se do escuro

as éguas do longe permanecem ainda mais longe

onde sempre deveriam ter ficado

o esplendor das definições

é talhado pelas barcas do orvalho

a indumentária das transparências

conforta tudo o que deveria ser esquecido

a partida das cigarras

tem sua lógica transcedente

estrelas do mal assomam suas hastes de gelo

nos infernos secretos que vivem nos raios

caos líquido em gravetos fosforescentes

quase-bruma descrita ao verde do sol iniciante

 

a origem volta a ser o único ponto de partida

e fita o infinito com as duas mãos no queixo 

 

A Brancura Não Sabe Pensar

 

A geografia fatal de teu rosto

- Hockney em     ********    espuma-esmeralda-minimal

com a temperatura dos >>>               aero-portos de Eno

& temperamento                                    de mapas inéditos -

é a zona do sonho, oh único transporte de permanência

 

O fluor de teu sorriso (es)corre-em-cristal

parece molhar a T-- shirt do Grateful Dead

a fazer com que os tons de natier-turquesa

tenham o sabor do perfume .    mais antigo

de minha memória,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,

 

onde passarás a viver no futuro.

Poemas Do Livro Inédito :  "Detestável Liberdade" 

Reles Subúrbio Em Cul-De-Sac Lúgubre. Viena.

 

Três ou cinco dias se passaram dentro de mim

sem que me desse por isso

 

Ocupo ao meu corpo sem mesmo ser escultura

eis-me a flanar em Pintura Sistémica

 

Reinicio o lacerado Vazio

aprofundando o olhar dentro do agora

 

Vejo-me inteiro em serragem por fora do Eu

cercado de estradas nuas com línguas de ar

 

e juro por tudo que posso jurar

que não sei mais para onde ir

 

Bonsoir, Bête Bleu-Foncé De Brest

 

                                           <

Neste quarto, em suor de musgo, nos confins de Brest

- a leste do pensamento, na carroça dos recalques -

habito a espera do tempo recuar ao século XVIII

deixando as janelas verdes & as cortinas roxas

hermeticamente seladas,

lixadas a quaisquer manifestações do céu

oh véu, bandos-de-quantos mais-cigarros acesos

ao pé de cestos sensacionistas

da existência embaçada,

eneblinada de Nada ou de Espada-vaga.

 

                                                   <>  <>

 

Desde que a Bretanha tornou-se meu esconderijo

despido em círios de fel fiquei

deitei ao lixo de mim mesmo

os esmos passeios de Wordsworth ou John Muir

a ruir, a ruir Sou & Estou

destarte, Soul, hemisfério de Sal

com o Mar Vazio a carregar-me na barca do mal.

Puerto Del Carmen Com Dvorák

 

As longas unhas do sol

compõe um quadro de incêndio

ao arranharem

o topo das montanhas

 

A claridade sabe cegar

os olhos mareados da neve

e também os meus

que jamais querem navegar

 

na infância da noite

Brunida Permanência Cubista Em Desequilíbrio

 

Seguro entre as mãos

a pedra luminosa do exílio,

o fundamental peso das despedidas.

 

Ser estrangeiro,

oh fugaz opção dos sortilégios da tristeza,

resguarda o segredo errante de ser

 

ou nem mais isso haver.

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
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