REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


NS | número 59 | julho-agosto | 2016

 
 

Arlinda Mártires nasceu em Alfundão, Baixo Alentejo, na madrugada fria de 13 de Novembro de 1955. Entre as voltas pelo mundo, reside em Alvito, no Alentejo, local de culto, onde, impreterivelmente, tem de voltar, para preparar nova partida.

Licenciou-se, pela Universidade Nova de Lisboa, em Estudos Portugueses e Ingleses e fez Pós-Graduação em Literaturas e Culturas dos Países Africanos de Expressão Portuguesa.

 É professora do ensino secundário desde 1989 e tem servido a língua e a literatura portuguesas em Portugal, na Guiné-Bissau, na Namíbia, em Angola e em Timor-Leste. Momentaneamente está de regresso à escola a cujo quadro pertence, em Viana do Alentejo.

Tem quatro obras publicadas: Além-Rio, poesia, prémio nacional Raúl de Carvalho (1999); Guynea, poesia; Sete Histórias de Gatos, contos, em co-autoria com Dora Gago; e Impressões do real, poesia, prémio de poesia do Concelho de Alvito, no âmbito do prémio nacional de poesia Raúl de Carvalho (2013). Integra ainda a Nova Antologia dos Poetas Alentejanos, cuja direcção é de Eduardo Raposo.

Obteve Licença Sabática e realizou um projecto literário do qual resultaram três obras: Fábulas de Portugal e da Guiné-Bissau (ensaio), Contos da Terra Vermelha (ficção) e Guynea (poesia; já publicado).

Tem artigos e poemas dispersos em jornais e revistas e participa em conferências, tertúlias e eventos relacionados com a língua portuguesa, a literatura e a música.

ARLINDA MÁRTIRES

Rubane

(In: Guynea, Uneas, S. Tomé, 2014)

I

  Em Rubane  

  

serenas são as águas.

 Cantares e risos

 de um dia de cada vez.

 Efémero o choro

 que a vida

 quer-se bailada

 até na morte.

 

 

 

II

 

Em Rubane

serenas são as gentes.

Mansos os dedos

de ninar

e aceitar destino.

Ébano o corpo

alma veludo

do poilão.

III

                                                                             

                                                          

Em Rubane

as águas vão serenas

levam o olhar

de palha de arroz

e a voz das crianças

a correr  na brisa.

A alma aquece

o inverno imaginado.

 
menino de criação

 

Meio – dia

na tabanca

sol vertical 

palha e barro.

Deserto

o caminho arde rubro.

O silêncio mora

na sombra do poilão.

Correm nus no bantabá

 os meninos de criação

mãos sujas de terra e de chabéu

pedem ao branco a caneta, o chapéu

e chove o riso e a alegria.

Por tão pouco se ganha o dia!

 
bajuda

 

Vem pela tarde

passear na praça

guarda o sol no olhar

nos cabelos teceu a esperança.

Todo o corpo

é uma dança

de tecer:

pêra abacate

pernas de chocolate

pele de amêndoa crocante.

Zás!

Cai um cooperante

na teia de amor tecida

p’ra dar de comer à Vida.

 

tecedeira de cabelo

 

Na esteira

 sentada

 tece o cabelo

 da amiga

 deitada.

 A cabeça

 abandonada

 ao colo

 às mãos

 esguias.

 

 Pela tarde,

 passada, riso

 sono e sonho

 fintam

 o Tempo

 em bordado

 de trançado.                       

 

costureiro

  

                                                    Toc – Toc – Toc

                                                    Toc – Toc – Toc

                                                    baloiça o pedal

                                                    basin, seda,

                                                    linho, legoss.

 

                                                    Toc – Toc – Toc

                                                    Toc – Toc – Toc

                                                    mastiga a agulha

                                                    boubou, folhos,

                                                    rendas, taille-bas.

                                     

                                                    Toc – Toc –Toc

                                                    Toc –Toc – Toc

                                                    cavalgam os dias

                                                    turquesa, esmeralda,

                                                    rosa

                                                    pretu nok                         

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
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