REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 47 | agosto-setembro | 2014

 
 

 

 

JOSÉ ROBERTO BAPTISTA

Trabuzana: a saga do editor de livros

José Roberto Baptista (Brasil). Editor da ARTE-LIVROS Editora. Foi professor universitário e Diretor-Acadêmico de tradicionais instituições de ensino superior em São Paulo. É estudioso da fenomenologia parapsicológica e autor, entre outros, do livro Introdução ao Estudo da Parapsicologia (Arké, 2007), além de já ter escrito vários artigos sobre o tema. Dirigiu o IEP-SP - Instituto de Estudos Psicobiofísicos de São Paulo voltado, exclusivamente, ao estudo e ao ensino da Parapsicologia.

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
Revista InComunidade  
Apenas Livros Editora  

Arte - Livros Editora

 
Jornal de Poesia  
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
   
 
 

Falar-se sobre o trabalho do editor, particularmente do editor de livros impressos, é tarefa que exige cuidados.

De fato, desde o recebimento do texto original, potencialmente bom para publicação, até o produto final, o livro impresso e acabado, há um longo percurso a ser vencido. Destaque-se, logo de início, que esse caminho assume contrastes sutis a cada nova obra publicada - que a particulariza, o que significa dizer que cada edição é única.   

 

QUEM É O EDITOR?

As variáveis, para ser um editor,  são muitas. Contudo, como estamos tratando especificamente da edição de livros impressos, devemos ressaltar, embora pareça óbvio, que o editor deve gostar de livros. Esse é o ponto fundamental. Isso significa dizer, ainda, que deve gostar de ler, de aprender coisas novas - sempre. Cada original que lhe é apresentado é um universo novo de conhecimento, mesmo que o assunto não seja novo, sempre a forma como é tratado é, no mínimo, particular. Cada autor-escritor tem sua forma, sua maneira de se expressar através das palavras e também através de cada ilustração que venha a inserir em seu trabalho. Isso se constitui sempre um “algo novo”, um novo olhar, uma nova forma de dizer. Assim, o editor deve estar preparado para entrar em contato com esse universo, pois é a partir desse primeiro contato que um original começará seu longo trajeto, até a sua transformação em livro.

Torna-se dispensável dizer que é importante para o editor conhecer todo processo de produção de um  livro. Desde o projeto de capa, a diagramação, o papel que será utilizado no corpo e na capa etc. Contudo, todo o projeto editorial exige uma participação ativa de vários profissionais. O capista, o diagramador, o selecionador de imagens, o revisor, enfim, uma equipe que contribuirá com o editor responsável nesse trabalho de transformação de um original em um livro acabado. Mesmo porque a simples escolha de um determinado tipo de letra, quando realizada de maneira descuidada, pode “deformar” o livro, subtrair o equilíbrio necessário a toda e qualquer publicação.

 

A SELEÇÃO DO ORIGINAL

Tenho convicção formada de que a grande angústia para um editor é responder, para si mesmo, às seguintes questões: 1. Este texto é bom? 2.  Merece ser publicado?

A questão se apresenta friamente. É uma decisão que deve ser tomada. Contudo, nesse contexto decisório orbitam e antecedem outras questões. O que é um bom texto? Qual ou quais os critérios que norteiam uma tomada de decisão sobre o que é um bom ou um mau texto? E, mais que isso; não podemos afastar de nós que, em termos editoriais, um bom texto, além de bom, tem que atingir um grupo (maior ou menor) de interessados naquele assunto. Afinal, o livro é feito para ser lido e é nesse momento que acontece a simbiose entre autor e leitor. É aí que encontramos a “certidão de nascimento” do livro.

Consideremos, também, diferentemente do que muitos pensam - e dizem - que não basta o bom senso, que tanto louvamos, sempre ligado à ideia de sensatez, para selecionar este ou aquele texto. O bom senso, alguém já disse, não é senão uma rotina da inteligência...   

 

UMA PEQUENA PAUSA PARA ESCLARECIMENTOS

Aproveito aqui para antecipar-me a qualquer crítica que venha no sentido de dizer que o editor só quer publicar aquilo que dinheiro, caso contrário, não publica. Não pretendo aqui desenvolver uma defesa frente a esse tipo de comentário. Contudo, talvez valha a pena lembrarmos alguns aspectos importantes na produção de um livro. Vejamos: O livro, em termos editoriais, não pode ser pensado como um texto em si. Lógico que sem o texto não existiria o livro; contudo, o texto enquanto parte integrante e essencial de um livro é um texto que está impresso e impressão custa – desculpe-me a má palavra – dinheiro. Além disso, a impressão é feita em papel, que também custa dinheiro. A folha de papel passa por um processo de produção para transformar-se em livro, ou seja, é cortada, costurada, colada etc., etc., etc. e tudo isso, custa dinheiro. Tem, ainda, o trabalho do capista, do diagramador, do revisor etc., etc., etc., que também custa dinheiro. Consideremos, ainda, que muitos livros ficam em estoque por anos – o que não significa serem textos de baixa qualidade acadêmica. Não. É o contrário. Via de regra são textos complexos, especializados e voltados para uma camada pequena de leitores também especializados. Contudo, isso não muda o fato de o livro ficar a espera de leitores e, consequentemente, potenciais compradores. Desta forma, não podemos apenas dizer que o editor quer ganhar dinheiro. O editor também quer – ou pelo menos gostaria - de ganhar, o que me parece legítimo. Parece-me também dispensável dizer que não estamos tratando de edições pagas. Essas merecem uma discussão à parte. Portanto, “Dai a César, o que é de César”. 

        

VOLTANDO AOS ORIGINAIS

Digamos que, numa situação ideal, todas as objeções sobre um bom ou mal texto sejam superadas e, em vista disso, a publicação é certa. Inicia-se, então, o trabalho que dará vida, na forma de livro, ao texto.

A primeira tarefa que se impõe é a releitura do texto para as devidas, se necessárias, correções. É trabalho que exige bons dicionários de língua, por vezes dicionários etimológicos, de sinônimos, de verbos, também, em muitos casos, conhecimento de outras línguas etc. É um misto entre trabalho braçal e intelectual. É um trabalho de cumplicidade entre editor e autor. Todo esse trabalho resume-se em apresentar o conteúdo enviado pelo autor em algo agradável, sob o ponto de vista editorial, ao leitor.  

 

ADAPTANDO UM TEXTO

Uma das maiores queixas por parte dos autores está focada na relação entre o texto original e a proposta final para publicação. Há, em muitos casos, por parte do autor um - não reconheço o meu texto.  Um grito desesperado...  O que vocês fizeram com o meu texto?... Uma possível e insana resposta: Nada, apenas fizemos algumas pequenas adaptações para melhor adequar o material à publicação.

De fato, algumas vezes é possível e, em muitas, necessárias, algumas adaptações. Parte delas relacionadas a imagens que não estavam, originalmente, adaptadas à reprodução em papel. Isto, entre outras coisas significa dizer que a qualidade estética pode ficar comprometida caso não haja algum tipo de adaptação ou até mesmo substituição e, em alguns casos, de exclusão dessa imagem.  Contudo, tais substituições, quando necessárias, não podem e não devem ser uma decisão solitária do editor. Toda e qualquer alteração, seja em imagens, tipos etc. deve ser discutida com o autor, sob a pena, caso isso não ocorra, do editor transformar o texto original em um grande simulacro. A questão não é nova.

Paulo de Assunção em seu trabalho, Percepção da natureza e do espaço habitado brasílicos na literatura de viagem, recupera a trajetória dos registros de viagem da Antiguidade até a segunda metade do século XVIII. Assim faz referência às adaptações que esses registros, quando ilustrados, sofriam ao constituírem-se em uma publicação. Vejamos:

Os livros ilustrados de viagem, principalmente com paisagens, conquistaram também um público cada vez mais amplo. A representação de paisagens exóticas acabava por atrair leitores. Deve-se observar que muitos desenhos sofreram alterações quando as imagens passavam a constituir parte de uma publicação. Os gravadores de madeira ou metal faziam adaptações da imagem para o livro de viagem, interferindo na representação original. Nestes casos, a questão estética se sobrepunha ao registro técnico. Intervenções nem sempre possíveis de serem identificadas e que acabaram por serem tomadas como realidade, de fato eram verdadeiros simulacros. (1)

Mas, não devemos ser pessimistas e achar que o editor sempre comete atrocidades em relação aos originais. Não. Muitas vezes, para não dizer na grande maioria dos casos, o trabalho do editor e sua equipe dá uma luz especial ao trabalho apresentado pelo autor. Mesmo porque, a quase totalidade dos originais são apresentados de forma bruta, ou seja, um texto disforme, via de regra com uma quantidade enorme de diferentes espaços e tipos de letras etc. Isso sem considerar que, não é incomum virem acompanhando o texto verdadeiros compêndios de normas a serem adotadas pelo editor: na linha x use tipo tal, sublinhe com duplo traço a palavra y e, em seguida, transforme-a em caixa alta... É uma aventura. A situação agrava-se com os livros de poemas.

 

UMA PAUSA

Talvez devamos, com toda a humildade, fazer um parêntese neste momento. Muitos poetas de final de tarde acreditam que fazer versinhos, diga-se, pouco originais, é o mesmo que construir um poema. Os versistas se acham grandes poetas. Daí, pronto. A coisa começa a andar de lado.

Já começam com aquelas rimas de cartão de aniversário de 15 anos que são... bem deixemos para lá. Mas, antes das rimas, ainda aparecem os famigerados agradecimentos que beiram a insanidade. São um convite a saltar da Ponte Águas Espraiadas. Agradeço ao meu (e aí vem a família toda), e quando pensamos que acabou... Agradeço também à minha madrinha (e vai) ... é infindável, parafrênico e, considere-se, nada a ver. O editor, então, diante disso, e prestes a um AVC – Acidente Vascular Cerebral - tem um desejo quase incontrolável de torturar o astro do tsunami poético no mastro dos três santos católicos. Ora, muitos desses originais, se publicados, nem a mãe do herético autor leria. O avô rico o deserdaria e os cunhados virariam a cara para todo o sempre. Aí... o inevitável:

Agradecemos pelo envio dos originais. Contudo, seu trabalho não foi selecionado para publicação. Atenciosamente – o editor.

Pronto. Sobrou para o desalmado editor. E, muitas vezes, esse doloroso caminho, deveu-se a um professor. Nem pensem que estou falando mal dos professores. Não. Eu também sou professor. Acontece que muitos colegas, quando lhes é apresentada uma “poesia” em vez de dizerem a verdade “doa a quem doer”, em respeito a um apostolado do saber, ficam como em estado de choque. Vagando pelas “Brumas de Avalon” e, nesse estado, o que mais poderia se esperar:

 - Nossa, você escreve bem. É sensível. Olha só, até de Nossa Senhora você fala. Lindo. Amei.

Fico imaginando quando o autor é um colega. Acredito que o “desventurado parecerista” deva sofrer de espasmos noturnos consecutivos e, apesar de todo sofrimento, não vai conseguir dizer a verdade. Imagine dizer a um colega que o que ele escreveu está péssimo. Então... a saída é mentir. Pronto, além de cometer um “pecado”, ainda coloca, num futuro próximo, um editor em maus lençóis.    

 

LEITURA DOS ORIGINAIS

Este é o primeiro contato que o editor tem com o texto e, certamente, um primeiro olhar que ajudará na decisão futura de publicá-lo ou não. É uma fase de curiosidade, de atração, que poderá ou não ser confirmada. Por vezes, é também um calvário. Isso se deve primeiro pelo que já foi dito anteriormente. É um bom texto, ou é um texto ruim? Depois, por que alguns autores utilizam-se de certa formalidade ao escrever, que fica quase impossível continuar a leitura. É o tipo de texto que nos deixa aquela sensação de nossa! – “como não sei nada”. Contudo, muitas vezes essa sensação surge em virtude de um uso inadequado, ou pelos menos, pouco comum das palavras. É um comportamento conhecido por eruditismo.  Muitas vezes é um texto que, junto aos meus botões, costumo classificar como “esquizotexto”. Neles o autor quer mostrar-se como um grande erudito. Usa e abusa de palavras que vão de solilóquio a nosocômio e acepipe.  Diante de um texto com essas e outras pérolas as reações são as mais surpreendentes. As mais comuns: cerrar os dentes, franzir a testa e abrir exageradamente os olhos. Pronto. É um momento solitário, próprio para perguntar-se, como já o fez Castro Alves, Dizei-me vós, Senhor Deus, se eu deliro ou se é verdade tanto horror perante os céus?...   É, de fato, alguns originais nos apresentam sérias dificuldades. Não sabemos se podemos classificá-los como texto ou como crime contra a língua. Bom, no mínimo, deveria ser classificado como uma contravenção penal.  

Por outro lado, há textos que impressionam pela abordagem profunda sem, contudo, perderem a fluidez e leveza. Outros, ainda, são textos simpáticos, elegantes, mas depois da décima quinta leitura, você continua sem saber, sequer superficialmente, do que se trata. Enfim, as variáveis são muitas. O editor deve estar atento e recorrer, sempre que necessário, a especialistas no assunto. Por essa razão existe o conselho editorial.

 

O CONSELHO EDITORIAL

O Conselho Editorial é a esfera de participação mais importante de uma editora. Ele, o Conselho Editorial, é quem vai garantir a qualidade do trabalho que irá ser transformado em livro. É a segurança do editor e, consequentemente, da editora, uma vez que só ele pode chancelar a qualidade do material que foi, em primeira análise, selecionado. Essa primeira análise consiste na leitura dos originais e, em seguida, uma reunião com a diretoria em que é decidido o encaminhamento, ou não, ao Conselho Editorial que deve sempre ser constituído por pessoas de sólida vivência em suas áreas específicas de conhecimento. Desta forma, são cuidados, por vezes exagerados, mas que mesmo assim, não impedem injustiças.  Afinal, já disseram não a Gabriel Garcia Marquez, a Marcel Proust, Ezra Pound, James Joyce ... e a lista não é tão pequena.

 

INICIANDO O TRABALHO OU, DITO DE OUTRA FORMA, O CALVÁRIO

Vencidos todos os obstáculos, o original começa, então, a metamorfosear-se em livro.

O trabalho tem início pela revisão gramatical ampla. Aqui, destaque-se, não existe uma ordem rígida. Dou alguns passos que são os mais comuns entre as editoras.

Depois da revisão, o livro vai para as mãos do diagramador enquanto o capista começa a esboçar algumas propostas que serão, num futuro próximo, discutidas com o autor. Algumas editoras, contratualmente, eximem-se dessa obrigação. As razões são muitas. Desde o autor rejeitar toda e qualquer proposta, até a exigência de que seu papagaio de estimação, que tem nome e tudo, apareça na capa.

O título do livro, muitas vezes, é objeto de atenção e, muitas vezes, de discussão, digamos, acalorada. Afinal, nenhum editor quer ver sua editora associada a títulos com nomes estranhos. O Cotovelo do Galo, por exemplo, admitamos, não é simpático.

Mas, adiante. O trabalho já está sendo pensado em termos de gramatura do miolo, de capa, cor ou cores, e começa a materializar-se.

Uma vez concluído, é tirada a primeira prova que irá para o autor fazer uma revisão detalhada. Aí, é onde Jesus deixa cair a cruz.

Sublinhe a palavra tal, ponha em negrito ou em itálico o verbo recomeçar, da página tal. Elimine o terceiro parágrafo do segundo capítulo. Substitua o quarto parágrafo por... e por aí vai.

Todas essas informações vêm por e-mail, via de regra. É um outro livro que está sendo, agora, apresentado. Mas, o que fazer? Reencaminhamos novamente para o revisor, o diagramador e, nova impressão, agora final, retorna ao autor. E acabou.

Não! não acabou. O texto volta agora com mais correções, infindáveis. É hora, então, de o editor dar um basta. Chega. É a última revisão, depois vai para impressão.

Autoritário? - Não. Apenas humano.

Mas, alguém pode estar, neste momento, se perguntando: será sempre assim? - A resposta é não. Alguns escritores, diga-se uma minoria, entregam seus textos convictos daquilo que fizeram. Com estes não há o que corrigir. É o que é.

Nessas horas o editor tem plena certeza de quem é quem.

Alguns escritores são inseguros. Outros escrevem por obrigação profissional. Os vieses são muitos.

 

LICENÇA POÉTICA

A chamada "licença poética", em linhas gerais, é uma permissão para o escritor ter liberdade para dizer da forma que mais se aproxime daquilo que ele quer expressar. Contudo, é um equívoco pensar-se a "licença poética" como um caminho para se cometer abusos. Não é isso. Dizer-se que termos de baixo-calão, descontextualizados e, portanto, sem sentido, são permitidos pela "licença poética", não passa de desconhecimento, inconveniência e mau gosto, aliado a uma imensa incapacidade para fazer, etc. etc. etc. Estes pseudoqualquercoisa, com permissão do neologismo, "não sabem sequer onde o galo canta". Por isso, são rejeitados. Simples assim.

Não adianta sentirem-se perseguidos por editores. A verdade é outra e, para muitos, difícil de ser encarada.

 

TRABALHOS ACADÊMICOS

Um grande problema para as editoras, de um modo geral, é a publicação de trabalhos acadêmicos.

Muitas não publicam dissertações nem teses, a menos que estejam em formato de livro. Mesmo assim, "não é tão simples como refritar almondegas". A questão é complexa.

Via de regra, tais trabalhos são altamente especializados e atendem a um número reduzido de interessados. Mas reduzido mesmo. Então, por melhor que seja o trabalho, o editor não pode ser suicida e levar sua editora à falência. Aqui não se trata de ganhar dinheiro. É o contrário. Trata-se de não rasgar dinheiro. Esse equilíbrio é importante. Já tocamos no assunto anteriormente. Temos que tirar essa visão romântica e atabalhoada de se pensar que uma editora é uma casa beneficente. As Editoras são empresas constituídas, portanto, com obrigações.

Quem paga os funcionários, a água, a luz, os impostos etc. etc. etc. Mesmo as universidades, que são as que mais se beneficiam dos trabalhos produzidos pelos seus professores, na sua grande maioria, pouco contribuem. Isso não significa dizer que ninguém publique tais trabalhos. Há excelentes editoras acadêmicas. Mas, via de regra, suas publicações são subsidiadas pelos órgãos de fomento à pesquisa. É diferente, portanto, quando se trata de publicações não subsidiadas. Aqui, vale um aparte.

Quando o autor tem subsídio para publicação, ele busca editoras acadêmicas que, pela sua trajetória, os destacam dentro da comunidade. Quando não são subsidiados, aí procuram outras editoras e, se recusados, sentem-se aviltados. Muitos, que perderam a humildade nos caminhos do saber, acham que seu trabalho irá mudar o rumo das ciências, das artes etc. Não sei, nem quero entrar no mérito da questão. Mas estou convicto que alguns trabalhos podem mudar o rumo de algumas editoras. Por exemplo, levá-las a bancarrota.

Já recebi trabalhos, por e-mail, sem prévio aviso, em que o autor sequer teve a sensatez de juntar as partes. Enviou-me um link para acessar e juntar o seu fabuloso estudo. Diga-se, ainda, que tal estudo já estava circulando pela Internet e, consequentemente, pelo mundo. Ora, até para a insensatez temos que ter limites.

 

À GUISA DE CONCLUSÃO

Tentamos mostrar neste resumido texto que o editor de livros vive angústias nem sempre declaradas.

Se entrarmos nos sites de busca, veremos que são criticados por se assemelharem a multiplicadores gráficos de preciosas edições e, sempre, se aproveitam dos autores, sem os quais nada se faz.

Desconhecem, tais autores, que não precisam de um editor para publicar suas obras. É possível a qualquer um utilizar um programa, como o Publisher, por exemplo, e diagramar seu próprio livro. É possível, também,  a qualquer pessoa registrar-se na Agência Brasileira de ISBN, e tirar o número necessário que torna sua edição oficial. Também desconhecem tais autores, que basta pagar uma bibliotecária para fazer sua ficha catalográfica, exigência legal, assim como montar o processo para solicitação do ISBN e pagar as taxas relativas à solicitação, para publicação de um livro. Desconhecem, ainda, que poderão pagar um  diagramador, para formatarem seus livros, um revisor, um capista, lógico, caso não queiram fazê-lo, e ainda, desconhecem que podem pegar esse trabalho em um formato digital e levar a uma gráfica e pagar pela impressão do número de cópias que assim desejarem. Aí, ao percorrerem, e colocarem a mão no bolso, talvez mudem de opinião em relação às editoras e, consequentemente, seus editores. A recusa de um original, como já o dissemos anteriormente, passa por vieses que nem sempre apontam para a conta corrente da editora. Ao contrário, se isso fosse verdade, não teríamos novos títulos, de autores completamente anônimos, todos os dias nas livrarias.

As editoras investem em novos talentos sim. O que as editoras não podem fazer sempre é investir em novos talentos. Há novos talentos reconhecidos pelos conselhos editoriais e é feito um investimento neles. Mas, muitos que são recusados, são recusados por não terem talento algum. Essa conversa que muitos não foram reconhecidos ao longo da história, é verdadeira. Citei alguns exemplos anteriormente.. Muitos, insisto, são recusados por não terem talento algum e, vou mais longe, sem querer ofender a ninguém, são péssimos em qualquer estação do ano. É o caso de poetas que acham, e declaram, que quebram regras. Contudo, esquecem-se que para quebrar regras, antes é necessário conhecê-las. Sentem-se ofendidos por que vão de porta em porta e ninguém os aceita. Ora, considero que a maioria matou Cristo. É verdade. Considero, com Nélson Rodrigues, que "toda unanimidade é burra". Mas, também levo em conta que (nem sempre) de esperança também se vive.

 

 

NOTAS

[1] Paulo Assunção. Percepção da natureza e do espaço habitado brasílicos na literqtura de viagem. p. 37. São Paulo, Arte-Livros Editora.

   
 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL