REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 44 | fevereiro-março | 2014

 
 

 

 

MANUELA NOGUEIRA

Dois poemas

Manuela  Nogueira (Portugal). Maria Manuela Nogueira Rosa Dias Murteira é poeta, ficcionista, autora de obras para a infância, colaboradora de jornais e revistas, rádio e televisão. Co-fundadora da Fundação Fernando Pessoa.

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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  Viajante de apeadeiros
 
Cheguei tarde a muitos apeadeiros

entrei por nesgas de portas

esbarrei nos pórticos de eleição

acolhida, não é consentida

admirada, não é amada.



Se houvesse outra vida

e por magia recebesse

o elixir acre da fama

em estátua de sal me tornaria

olhando a cidade destruída.



Sou uma visita neste mundo

Onde nem em funerais e festas

sou bem vinda

trago um segredo profundo

sem selo, sem destino.



Sou viajante de apeadeiros

perco-me nessa liberdade

de conhecer antes o que acontece

de sempre me escapar a verdade.



Manuela Nogueira

Março 2013
 
 

A VISUALIDADE DA IMAGINAÇÃO

Escrito na lente convexa do cérebro 

Ao Mestre Alberto Caeiro

 

Desculpa Oh Alberto Caeiro

sou tua discípula pobre e amorfa

-Tatuaram em meu cérebro o mistério de Cristo-

Olho para a flor como um jardineiro

que só repara na espessura e cor da terra,

na humidade do ar, na linha do vento

 esperar que a flor abra para todos nós

-Ser jardineiro é apenas meu sustento.

 

Desculpa Oh Alberto Caeiro

tanto te amo sem poder seguir-te

buscar-te na Grécia a frescura da nudez

numa filosofia de máscara teatral

sou um poeta cego que oiço teus passos

persigo-te de bengala branca cuidando

que teu paganismo é ardil de Deus

- Pensar é o contrário de estar feliz -

 

Desculpa Oh Alberto Caeiro

esta cegueira de amar-te sem futuro

és o amor em fotografia sem moldura

um dia, quando em mim morreres

saltarei todas as sebes   até ao muro

serei o que perdeu o traje de fantasia

amar-te-ei com um destino sinérgico

prá lá da nostalgia de haver ou não deuses.

 

Desculpa Oh Alberto Caeiro

mas não te enganas quando dizes:

Que nada é o fim, que nada é o abismo, que nada é mistério

e que tudo é Deus, e que tudo é Ser, e que tudo é vida.

Só na Unidade do Universo é possível     repouso

com os sentimentos arrumados no estaleiro

a vida corre inexoravelmente para o mar

barco de pensamentos viajando num veleiro.

   
   
 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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