REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências

nova série | número 41 | outubro-novembro | 2013

 
 

JOAQUIM CARVALHO


«Poema às cerejas» e outro

Joaquim Carvalho (Portugal). Poeta e artista plástico. Licenciado em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, Lisboa, e licenciado em Química, Ramo de Formação Educacional, pela Faculdade de Ciências de Lisboa. Frequentou as Oficinas de Pintura e Desenho do Ar.Co, Lisboa, em 1987/1988. Curso de Serigrafia organizado pela Câmara Municipal de Oeiras, em 1989. 

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
Revista InComunidade (Porto)  
Apenas Livros Editora  
Arte - Livros Editora  
Agulha - Revista de Cultura  
Domador de Sonhos  
   
   

 

 
 
 
 

Poema às cerejas

                                                (à minha querida amiga Teresa Rebordão

pelas excelentes cerejas que me ofertou da sua quinta)

 

 

Divinos frutos matizados de luzidios vermelhos,

as cerejas,

fazem despertar em quem é tocado pela sorte de as ter,

voluptuosas vontades — 

as mesmas que Adão e Eva experimentaram no paraíso

e que os levou a ganharem, na Terra, humana natureza.

 

Porque as tive, surgiram bonitas de ver e suculentas para comer!

— eu e os tordos!, os melros e os pardais!,

que, avaliando bem, foram os que comeram mais!:

 — mais alto, sim!; mais maduras, também!,

pois,

por não conhecerem cativeiro,

dispuseram  do tempo todo para as escolherem  bem!

 

Mas não faz mal!

O que a natureza propicia,

de um modo ou de outro, todos beneficia.

— Pode não ser por igual,

mas Deus — que é quem tudo cria e detém —,

não faz mal a uns para a outros fazer bem!

 

E, se a mão do homem semeia sem jeito,

logo aparece  Deus, a equilibrar a colheita,

com amor que dEle brota do peito!

— O que com amor é criado

e dado,

aos olhos de quem recebe

tal preito,

sempre se apresenta perfeito! 

 

Joaquim Carvalho,

Paço de Arcos, 3 de Julho de 2013

 
 

ver - ter – te

lua

 

lua-cheia em perigeu!

lua suprema!

suprema lua!

 

és

a lua mais próxima

a mais próxima lua

a mais próxima

a mais lua

a mais

a

 

olhei-te:

vi-te e senti-te

te vi e te senti porque te olhei

 

sorri-te:

aluaste-me e… aluaste-me! Despiste-me!

quis tocar-te e amar-te

mas por amar-te fiquei…

 

mas amei-te

amei-me

amei

…a

 

a…

aquela que me ama

e que em silêncio

por mim chama...

sempre!

 

e

em puro deleite

bebi teu brilho

que de leite me pareceu

 

e

sem perda ou dano

teu especular luar

como que coalhado

na noite pereceu

 

e

quatrocentos e treze dias passados

como que encalhado

e coberto por um véu

espero de novo teu maior brilho

no… céu!

no mesmo lugar do céu!

no mesmo céu do lugar!

no mesmo lugar!

no mesmo do céu!

no mesmo…

no…

 

ó…

como gostaria

ver-te

ter-te

te ter

te ver

 

ver-ter-te todas as noites

em mim

a recriares o mais esplêndido

e luminoso apogeu!

todo o breu

se renderia à espessura da luz;

toda a noite contrária à alegria

morreria

subtraindo peso à minha cruz!

 

mas

porque sei

que o que anseio

não é sim

 

até

mais

ver!

 

… por mim!

 

por         fim!...

 

melhor: pim!

 

que é como quem diz:

fim! do fim!:

fim do fim de um poema desajeitado

à lua!

que sem enfado!

deito à rua!

 

plim!        plim!

                                                                                              Joaquim Carvalho,

Paço de Arcos, 22 de junho de 2013

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL