REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 22

 
 

 

 

JÚLIO CONRADO

 

Eugénio Lisboa

O ensaio e outros prazeres

 

Ensaio incluído no livro de homenagem a Eugénio Lisboa distribuído na sessão que lhe foi dedicada pela Universidade de Aveiro em 22 de Outubro de 2011. Título da obra: Eugénio Lisboa: Vário, Intrépido e Fecundo, organização de Otília Pires Martins e Onésimo Teotónio de Almeida, Editora Opera Omnia.      

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
TriploII - Blog do TriploV  
Apenas Livros Editora  
O Bule  
Jornal de Poesia  
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
Arte - Livros Editora  
 
 
 
 

A minha amizade por Eugénio Lisboa não vem de longe. A minha admiração por ele, sim. Como escreve a propósito dos viciados em Camilo que se sinalizam uns aos outros como uma espécie de tribo silenciosa cujos membros comunicam por gestos, olhares, esgares, assim os amadores (em sentido literal: aqueles que amam algo) da literatura cujo apetrechamento foi consumado fora da instituição universitária, se topam espontaneamente uns aos outros. Sem ligarem a diplomas, cargos, pequenos ou grandes sucessos profissionais, de que ninguém fará uso corrente fora dos circuitos para que foram criados, define-os atitudes típicas das de um grupo insurrecto reunido por sensibilidades afins, disposto a arranhar um establishment constrangedor, canónico, corporativo – como era, pelo menos, o das faculdades de Letras portuguesas no tempo em que numa delas E. L. poderia ter feito o seu aprendizado de feiticeiro. Sabem-se “membros” da conspiração que os junta num largo e fraterno espectro de partilha de saberes e alvoroços. O apego à ideia de que extensas e apaixonadas leituras só ganham em que se lhes acrescente a experiência vivida de cada um, torna-me parte interessada nesse pacto subterrâneo de afectos, por ínfimo que seja o meu contributo para a sua consolidação.

Eugénio Lisboa é o paradigma de um certo homem de Letras que subiu a pulso mas que excedeu largamente o projecto de se fazer a si mesmo escritor. Ao ultrapassar brilhantemente essa meta, imiscuiu-se na pesquisa das causas do que o levou a alcançar tão para lá do que já seria uma proeza de indiscutível merecimento enquanto objectivo de realização pessoal. Chegou, efectivamente, longe. Visando o horizonte ontológico de pés bem assentes na terra, foi capaz de sobrevoar o pessimismo existencial e o niilismo pedante e cínico, territórios de acesso franco aos de menor capacidade de reacção à adversidade, propensos ao queixume, à melancolia e ao sarcasmo inócuo. As vicissitudes por que passou o homem social num específico momento histórico, com o abandono não desejado de bens, Terra e família, trouxe à superfície a fibra do cidadão corajoso, já conhecido pela frontalidade e pelo desassombro em pugnas travadas nos jornais moçambicanos, mas agora tendo como perspectiva o futuro ensombrado pela míngua de soluções que permitissem a correcção de um percurso, indo já adiantada a fase das oportunidades e das escolhas. Doravante, digamos, era a doer. A resposta à emergência circunstancial que pudesse ter criado nele estados de espírito propícios ao fermentar de ressentimentos, deu-a resistindo: dobrou a realidade hostil até a deixar de joelhos.

Sim, Lisboa foi um indivíduo que as vicissitudes da História puseram severamente à prova, num curto mas decisivo e conturbado período da sua vida. Vicissitudes que o obrigaram a ter de refazer tudo, desde partir do nada para outra aventura até enxadar o chão de onde colher o sustento. Veio a terreiro reivindicar um espaço para si, bateu-se na guerrilha pela sobrevivência, ganhou, logrando estancar “a descida fulminante, quase até zero”, da sua “magra conta bancária” (1). Graças às dificuldades, no contexto funcionando como um desafio a vencer, o homem acossado abriu caminho a uma nova carreira. Consolidou o estatuto de grande ensaísta em atmosferas culturais de prestígio que o enriqueceram intelectualmente e que ele também enriqueceu, dando a conhecer aos outros muito do que ignoravam a respeito da literatura portuguesa. Riqueza de que abriu mão com generosidade para conforto de várias gerações de fruidores dos seus textos. 

Reflectindo, então, sobre o currículo profissional em apreço, conclui-se que apenas em certa medida está este ligado às nomenclaturas universitárias que promovem o estudo das Humanidades, ou seja, que a formação literária a ficou o nosso autor a dever a um esforço autónomo de aquisição de saber, na juventude, baseado na curiosidade sem limites e na atenção, questionadora, à palavra dos mestres. A execução de tarefas nos antípodas da actividade literária tout court (só acolher as primas donas que lhe chegavam a Londres, idas de Lisboa, devia dar-lhe uma trabalheira das boas) como conseguiu ele alcançar a docência universitária e tornar-se membro da Academia das Ciências, não por causa das Ciências mas por causa das Letras? A descodificação é, a meu ver, simples: a paixão pela literatura aliada a uma fantástica capacidade de trabalho e temperada pelas vivências cujo lado adverso desdramatizou apoiado no bordão dos romances, novelas, poesias e ensaios, a um tempo escape e salvação nas horas más, logrou reconverter em energia motora, quando não mesmo em inspiração para comportamentos edificantes decalcados do melhor da lição dos livros. Sempre que foi chamado (ou forçado) à polémica deu prova de atributos de coragem cívica – outro traço marcante de personalidade que se lhe trouxe algumas antipatias, também, com certeza, lhe granjeou inúmeras admirações tanto pela rectidão de juízo como pela inflexível defesa dos seus pontos de vista, baseados em valores a seu ver acima de qualquer suspeita. Depois, Eugénio Lisboa soube conviver com as duas culturas – a engenharia, a matemática, a técnica, por um lado; a literatura e os seus mistérios, por outro – sempre num grau de convicção, de integração, de não exclusão que torna o seu caso pouco frequente entre nós, sendo de acrescentar que em todos os díspares domínios para que as condições de trabalho o empurraram, o grau de aptidão demonstrado quer pelo engenheiro, quer pelo gestor, quer pelo escritor, quer pelo professor, foi sempre de nota máxima, traduzindo-se em resultados excepcionais como nesta data feliz é atestado em consensual gesto de congratulação. 

Hoje, a Universidade presta-lhe justa homenagem. Mas não foi, repito, nenhuma faculdade de Letras que o formou. Licenciado em engenharia electrotécnica pelo Instituto Superior Técnico, ligado durante vinte anos ao ramo petrolífero, dezassete anos em Londres como conselheiro cultural (e bem sabemos como estes lugares impõem regularmente tarefas burocráticas menores a quem os desempenha, não obstante a sua aura de respeitabilidade mas igualmente condicionados por preconceitos diplomáticos e outros: sobre isto tenho a dizer algo mais adiante) e quatro anos como presidente da Comissão Nacional da Unesco, o que sobrou a E. L. para uma efectiva ligação às Faculdades de Letras limita-se a uma efémera passagem, em 1975, pela Universidade de Lourenço Marques, onde regeu a disciplina de Análise da Narrativa, a um curto período a ensinar em Pretória, aos cursos de literatura portuguesa que dirigiu na Universidade de Estocolmo, o que perfará uns três, quatro anos, e aos seis anos que leccionou na Universidade de Aveiro, esta mesma que hoje aqui congregou um grupo de pessoas para uma justíssima homenagem ao intelectual, ao amigo e especialmente ao ensaísta a cujos  luminosos escritos tanto devemos.

Voltando ao cargo de conselheiro cultural e logo numa cidade como Londres: a ideia que prevalece é a de que Eugénio Lisboa, mal chegou, começou a querer fazer andar as coisas a cadências diferentes das dos seus antecessores, pese embora a estima pela pessoa que foi substituir. (2) Ainda assim, os quatro primeiros anos, de sufoco financeiro, espevitaram no novo C. C. o engenho e a arte de agir pragmaticamente num contexto de necessidade, já que o que tradicionalmente seria um cargo para carreiristas acomodados queria-o ele para desbravar terreno virgem a pedir o rasgo de alguém disposto a arrotear e a semear, que a seara farta não se faria esperar. L. C. Taylor, o grande amigo inglês da Gulbenkian e lusófilo dos pés à cabeça foi o grande cúmplice na criação de uma fundação, inicialmente chamada Anglo-Portuguese Foundation, (3) que, ao profissionalizar a angariação de fundos, criou a base financeira para a execução de um vasto projecto de divulgação da cultura portuguesa com grande expressão no plano editorial. Obras de Eça, Pessoa, Régio, José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, David Mourão-Ferreira, Fernão Mendes Pinto, entre vários outros, ganharam uma nova montra ao serem vertidas para inglês graças ao esforço conjunto (por vezes tenacíssimo) de Eugénio Lisboa e Taylor. Ninguém permanece num cargo durante dezassete anos consecutivos se o que tiver realizado não for positivo, a menos que protecções espúrias contrariem esta lógica. A Eugénio Lisboa não faltaram nem o poder de fogo da sua vasta cultura, nem o domínio completo da língua inglesa, nem o “descaro” para enfrentar os ingleses quando se tratava de lhes lançar ao rosto as suas, deles, distracções, relativamente a obras de certos escritores portugueses por traduzir, ou reeditar traduzindo-se melhor alguns deles. Isto, que poderia ser contraproducente do ponto de vista diplomático, acabou por render ao Conselheiro Cultural um estatuto de autoridade junto dos britânicos traduzido em convites para proferir conferências e ministrar cursos nas universidades mais prestigiadas do Reino Unido, uma das quais lhe conferiu, inclusive, o grau de Doutoramento Honoris Causa, a Universidade de Nothingam. Por outro lado, não só Lisboa gostava do que fazia como aproveitava intensamente a oferta de uma cidade como Londres para se valorizar culturalmente e viver. Diz ele numa entrevista que me concedeu para a revista que eu então coordenava, a Boca do Inferno, de Cascais: (4)

            “Mas, a seguir a Lourenço Marques (onde vivi, ao todo, 39 anos), a mais longa estadia foi em Londres, a que dei 17 anos, tendo dela recebido outros 17; 17 anos cheios, inesquecíveis, de teatro (de teatro!), de música, de livros, de viagens, de encontros, de inspiração e da verificação de como pode haver uma televisão de qualidade e, simultaneamente, de prazer. Não descanso enquanto não escrever as minhas memórias de Londres.”

            Por esta amostra se percebe com que entusiasmo extraiu Eugénio Lisboa o máximo partido da sua permanência na capital inglesa e como a vida se encarregou de o resgatar, com juros vultosos, à memória dos acontecimentos dolorosos prévios a essa empolgante mudança. Que me recorde, as ´”memórias de Londres” ainda não vieram cá para fora. Todavia, quem nelas falou não costuma prometer em vão.

**

Um parêntese apenas para um apontamento sobre a ligação de Eugénio Lisboa a José Régio e de como se contextualizou a amizade entre o escritor e o mais importante estudioso da sua obra. Em 1976 começou a ganhar grande visibilidade o interesse e pela personalidade do autor de Benilde e a Virgem Mãe, ao editar na prestigiada colecção A obra e o homem, da Arcádia, José Régio, uma biografia valorizada pela abordagem ensaística do espólio do escritor, obedecendo à risca aos pressupostos da referida colecção. Estudos subsequentes sobre o mesmo tema “responsabilizariam” E. L. por ter dado uma “segunda vida” ao injustamente esquecido Régio, segundo fôlego que pôs as novas gerações em dia relativamente a um vulto e a uma obra merecedores de melhor fortuna póstuma do que aquela que até então lhe fora reservada. É preciso recuar, porém, até à juventude, para se perceber como Lisboa se tornou íntimo de Régio muito antes de o conhecer pessoalmente. Um amigo oferecera-lhe um exemplar de Uma Gota de Sangue e desde então a admiração do jovem leitor pelo consagrado autor não parou de crescer. Quando as maldades da tropa atiraram o laurentino para Portalegre, colocação que não desejou uma vez que interferia com a sua assiduidade às aulas no Instituto Superior Técnico, adquirira já uma familiaridade com a obra regiana enquanto jovem autodidacta militante que surpreendeu o próprio escritor. Com efeito, perante as dúvidas postas por E. L. a José Régio quando este insistiu em que fosse ele a escolher os poemas para o 2º volume da sua poesia, (editada pela Livraria Tavares Martins, do Porto, 1957, na Colecção Poetas de Ontem e de Hoje) disse: “Tem de ser você a fazê-lo. Conhece a minha obra muito melhor do que eu.”

A convivência com José Régio até nem começou de forma muito calorosa / ostensiva. Amigo comum (Dr. Falcão) juntou-os numa tertúlia no Café Central, de Portalegre, e só a pouco e pouco o gelo foi derretendo até desaparecer, quando Régio viu naquele aspirante miliciano um leitor, não só bem documentado a respeito do seu trabalho literário, como particularmente dotado para o analisar e comentar; e o militar destacado a contra gosto na província foi a pouco e pouco mandando às urtigas a timidez dos primeiros tempos ao ganhar consciência de quão fértil era o terreno à disposição da sua insaciável curiosidade para adicionar ao pecúlio aforrado novas e mais excitantes informações. Assim principiou uma sólida amizade que, alicerçada na admiração recíproca, viria a incentivar Eugénio Lisboa a produzir a vasta obra ensaística em torno do legado do criador de Há mais Mundos e cujo último testemunho veio a lume há poucas semanas com a publicação de Ler Régio – mais um conjunto de estudos consagrado ao insigne mestre.                     

**

Chega a impressionar como em Eugénio Lisboa “o estilo é o homem”. Talvez constitua intrigante fenómeno para muita gente que ele, possuindo um estilo literário tão cristalino, repleto de sonoridades e ritmos encantatórios, que muitos dos chamados criadores não desdenhariam cultivar, o tenha exprimido quase exclusivamente no ensaio. E que nas breves intervenções no domínio da poesia, por exemplo, um outro estilo, mais tenso e contido, se cinja ao essencial despido de artifícios nocivos à pedagogia do mensageiro na transmissão do conteúdo da mensagem. Se a escrita age diferentemente no ensaísta e no poeta, talvez não seja despiciendo sustentar que na lírica a emoção fica de fora para fazer acordar no seu lugar o ser eminentemente racional que Eugénio Lisboa também é, e que o intérprete do recado alheio é mais capaz de assistir em alternâncias de ritmo e de tom, de agilidade mental e de “sentimento”, o acto receptor, numa coabitação dos princípios da realidade e do prazer (do texto) nele  alteridade perturbadora de que emerge o homem das duas culturas – a emoção para a crítica, a dureza e o rigor para a poesia, num quadro de funcionalidades discursivas cujas direcções se diriam trocadas.  

O que torna este dilema interessante será porventura o facto de o ensaísta ter sempre um interlocutor alvo, omnisciente ou não – fora o grande interlocutor que é o leitorado anónimo – chamem-se eles Régio, Montherlant, António Barahona da Fonseca ou Maria Filomena Mónica. Quer dizer: através do ensaio comunica, autobiografa-se, medeia, polemiza – escrevive, como diria o Urbano de outros tempos. Na poesia, o único interlocutor é o próprio, de aí vir ao de cima o estofo metódico do matemático, o escrúpulo do engenheiro. Sem o estímulo do mundo, sozinho diante do espelho, a secura do poema como que recorta o perfil austero do homem de ciência; ao invés, o ensaio, porta aberta para a vida, devolve-lhe a alegria de se sentir parceiro de facto num processo comunicacional intenso. Desta opção sai a ganhar o leitor. O modo quase ficcional com que o ensaísta embala a prosa crítica ajuda a despir o ensaio da sua reputação aborrecida e transfigura-o em paisagem solar de que apetece tirar proveito. No exercício do ensaísta recreando-se a recriar a Língua encontra o leitor, por contágio, todos os ingredientes que melhor podem contribuir para se sentir próximo do livro – para o adoptar ou para o rejeitar. Esta preferência pelo ensaio e pela crítica como estrada prioritária na realização literária suscitou-me uma pergunta ao entrevistado no referido número de Boca do Inferno tendo obtido a resposta de que selecciono a seguinte passagem:

“[…] A vida não pára onde começam os livros: inclui-os. Se um romance comenta a vida, tornando-se vida, não menos o faz um comentário de Steiner ou uma meditação de Thomas Mann sobre Goethe ou Cervantes. O autor da Montanha Mágica não é mais criador quando escreve esta enorme massa ficcional do que quando prefacia, de modo esplendoroso e vingador, o pensamento vigoroso de Schopenhaeur. De resto, nem sempre fiz, como sugere, qualquer sacrifício: falando de Montherlant, Gide, Mann, Pessoa ou Régio, quantas vezes me não terei servido deles para exorcizar os meus próprios fantasmas… É preciso acabar com esse preconceito de que só a poesia e o romance são criativos! Quanto romance o não é e quanta poesia o é tão pouco.[…]”

Há ainda uma outra característica pessoal anunciadora de um regresso, mais tarde ou mais cedo, como uma inevitabilidade, à docência activa: Eugénio Lisboa gosta de ensinar. Essa qualidade é transparente na sua ensaística, toda ela uma espécie de lição. Em cada peça, fala o pedagogo: elenca os princípios, fornece as pistas (mesmo que tenha de citar, segundo os seus críticos mais ardentes, demais, no que é ainda, declaradamente, o professor a endossar conhecimento) (5) e opina em conformidade com os postulados enunciados, em moldes favoráveis ao despertar de cumplicidades de amplas comunidades de leitores para o que está para além das leituras: emoções, choque de sensibilidades, motivações causais, vida, em suma.

Seria, naturalmente, uma pena, que E. L. não se cumprisse também como professor ao mais alto nível, tendo em conta o extraordinário capital de saber acumulado e a sua inata vocação para o doar. A Universidade de Aveiro, ao chamar a si o emérito ensaísta como professor catedrático convidado, prestigiou e prestigiou-se, enxergando mais adiante do que outras universidades com maiores responsabilidades. Para Eugénio Lisboa terá sido a cereja no topo do bolo. Percebe-se que viveu a situação como um justo prémio pela militância na Literatura, e que os seis anos de docência em Aveiro, não apagando a jubilosa e produtiva experiência londrina nem as saudades do remansoso tempo moçambicano, o privilegia ele de entre os que mais generosamente o recompensaram das muitas horas, dias, anos, em que o conluio com os enredos dos livros se fez enredo da sua própria existência.

Ao colocar no lugar certo o pedagogo, que assim pôde dar expressão plena a essa sua vocação confidencial, ou nem tanto, e que aos oitenta anos continua vivo e bem vivo, quer na regularidade com que vai publicando, quer na constância com que continua a intervir na cena literária portuguesa, a Universidade de Aveiro deu um exemplo de como todo um trabalho cultural exterior à Universidade pode ser assumido pela instituição que, implicitamente, ao “recuperá-lo”, o reconhece e celebra. 

 

 

 Notas

 

1. Ver Lusofilias, L. C. Taylor: Malhas que a lusofilia tece. Eugénio Lisboa, U. Aveiro,

2. Ibidem

3. Ibidem

4. Boca do Inferno, nº 3, 1998, Câmara Municipal de Cascais

5. “Cito para melhor me exprimir”, escreveu Montaigne, citado por E. L. em Indícios de Oiro 

 

  Bibliografia
 

 

 

O Objecto Celebrado, 1999

José Régio, A Obra e o Homem, 1976

Portugaliae Monumenta Frivola, 2000

Indícios de Oiro, 2010

 

 

 

 

Júlio Conrado  (Olhão, 26.11.1936, Portugal) 
Escritor, crítico literário. Durante vários anos alternou a crítica literária com a ficção (incursões esporádicas na poesia e no teatro), centrando-se actualmente no romance a sua principal actividade. Fez crítica no Diário Popular, Vida Mundial, Colóquio Letras e Jornal de Letras. Colaborador de Latitudes, Cahiers Lusophones (Paris) e Revista Página da Educação (Porto). Coordenou a revista Boca do Inferno, de Cascais. Integrou os corpos sociais de Associação Portuguesa de Escritores, Pen Clube Português, Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários e Associação Portuguesa dos Críticos Literários. Participou nos júris dos principais prémios literários portugueses. Textos seus estão traduzidos em francês, alemão, inglês, húngaro e grego. Obras principais: Romance: Barbershop (2010), Estação Ardente (Prémio Vergílio Ferreira / Gouveia (2006), Desaparecido no Salon du Livre (2001), De Mãos no Fogo (2001), As Pessoas de minha casa (1985), Era a Revolução (1977) e O Deserto Habitado (1974); Poesia: Desde o Mar (2005); Teatro: O Corno de Oiro (2009). 
Ver currículo alargado no site do Pen Clube Português

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL