MIGUEL GARCIA

Francisco Miguel Gouveia Pinto Proença Garcia
ANÁLISE GLOBAL DE UMA GUERRA
(MOÇAMBIQUE 1964-1974)

Dissertação para a obtenção do Grau de Doutor em História
Universidade Portucalense
Orientação dos: Prof. Doutor Joaquim da Silva Cunha e
Prof. Doutor Fernando Amaro Monteiro
Porto . Outubro de 2001

II Capítulo

A conflitualidade global permanente, o despertar dos movimentos independentistas e a afirmação da soberania portuguesa em Moçambique

3. Apoios externos aos movimentos independentistas e sua importância no confronto.

3.1. Apoio das grandes potências.

No século XX, tal como no século XIX, os territórios continentais portugueses em África, foram contestados por potências que apenas pretendiam substituir Portugal. No contexto da época em análise, a situação que se vivia era a do equilíbrio pelo conflito mútuo assegurado, situando-se os territórios ultramarinos portugueses na zona de confluência dos poderes políticos das superpotências em competição. Aquelas vieram, assim, a apoiar os movimentos independentistas que se mostraram dispostos, mal a vitória fosse alcançada, a incluírem-se na zona de influência da superpotência apoiante.

Tendo em consideração que as ameaças aos países “Alcora”, de acordo com o pensamento expresso em documentos da época, provinham ou do comunismo ou do nacionalismo africano (este último um instrumento do primeiro) (1), decidimos analisar o apoio proveniente da fonte primeira, o “comunismo expansionista”.

Verificámos, em 2.1, a preocupação da estratégia maximalista da URSS de «laqueação» dos domínios vitais da Europa, revelando, desde o Congresso dos Povos Oprimidos em Baku (1920), interesse por África, continente vital para o domínio do Mundo. Aí, procurou alcançar uma plataforma indirecta para poder atacar os povos “capitalistas ocidentais”. A sua contribuição internacional não pode ser isolada do “(...) movimento histórico de «libertação nacional» da corrente socialista mundial (…)” (2), pois a guerra revolucionária parte de uma base marxista-leninista, e dificilmente um movimento independentista, de per si, poderia atingir as suas finalidades sem o apoio de países fomentadores dessa ideologia (3).

Os apoios da URSS a movimentos de libertação eram, assim, missão de primeiríssima ordem (4). No caso concreto de Moçambique, Eduardo Mondlane referiu à Rádio Moscovo a importância do seu auxílio: “(...) nenhum estado fora de África apoia a FRELIMO no mesmo grau que a URSS (...)”(5), e Samora Machel, anos mais tarde, salientava, em intervenção no 24º Congresso do Partido Comunista Soviético, que: “(...) o povo moçambicano está convencido que o vigésimo quarto congresso do PC da URSS promoverá decisivamente a consolidação de todas as forças anti-imperialistas, e isso possibilitará a intensificação do processo de destruição do imperialismo e do colonialismo. Queremos expressar a nossa gratidão pelo auxílio prestado à nossa luta (...) o vosso auxílio contribui largamente para a intensificação da nossa luta (...)”(6). Contudo, apesar do apoio prestado à FRELIMO, emergiram divergências sobre os conceitos de doutrina militar (7).

Os EUA, que, já desde Berlim, surgiram como defensores da doutrina da autodeterminação, apoiaram os movimentos independentistas quer através do longo braço invisível da CIA (Central Intelligence Agency), no caso concreto do apoio à UPA, quer, como veremos, através de organizações não governamentais (8) ou, ainda, de organizações internacionais como a ONU. Neste fórum internacional, o apoio decisivo surgiu, nomeadamente, no período compreendido entre 1957 e 1961. Quanto ao caso português, Kennedy dera luz verde à moção da Libéria, colocando-se, em 15 de Março de 1961, ao lado da URSS, da RAU e do Ceilão no Conselho de Segurança (9).

Pequim apoiava quer os governos estabelecidos quer os grupos revolucionários que se lhe opunham, como aconteceu na Nigéria e no Gana. Em consequência, os diplomatas de Pequim foram escorraçados de dez estados membros da Organização Comum dos Países Afro-Malgaxes (10), sendo a China acusada de constituir um factor de subversão (11). Porém, e apesar da campanha desencadeada, os estados da África Central e Oriental, excepto o Quénia e o Malawi, nunca deixaram os seus contactos próximos com o governo em Pequim (12).

Em Moçambique, foi feita a selecção dos quadros do partido para a frequência de cursos de formação política, normalmente na URSS e na China Popular. Após o regresso, eram destinados a exercer funções de maior responsabilidade, no âmbito da organização do Partido.

Apesar da FRELIMO ser apoiada (13) e solicitar apoio (14) à China, era o COREMO que recebia o apoio mais significativo, considerando fontes militares portuguesas, que esse apoio era quase exclusivo (15).

 
 

 




 



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