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LIVRE PENSAR
Do ponto mais Oriental das Américas
- João Pessoa - Paraíba - Brasil
Número 617 - 01 de fevereiro de 2005

 

FOI MESMO?
Ivaldo Gomes

 

Havia um monge que coordenava um mosteiro num sopé da montanha. Por ser muito humilde e bondoso, todos os moradores que habitavam as cercanias do mosteiro aprenderam a admirá-lo como um homem bom e amigo, que vivia recolhido as suas orações e no treinamento de outros monges mais jovens.

 

Um dia, apareceu no vilarejo uma moça grávida. Forçada a dizer quem era o pai do seu filho, espantou a todos quando garantiu, por juramento, que o pai da criança era o monge que todos aprenderam a respeitar. Apesar da apreensão e da surpresa, um grupo de homens da comunidade resolveu falar com o monge, para saber se de fato era ele o responsável por aquela gravidez.

 

Ao ouvir toda a história sem dar uma palavra, olhou para os seus inquisidores e perguntou com simplicidade:

 

- Foi mesmo?

 

Abandonou o mosteiro e suas funções, mudando-se para a periferia da vila. Enquanto durasse a suspeição, ficou morando sozinho e vivia da sua reza e da sua devoção. Ocupava-se do trabalho como qualquer morador da vila. Fazia panelas de barro para sobreviver e as vendia na feira toda semana.

 

A jovem que acusou o monge pela gravidez teve seu filho, e tudo parecia correr bem. A criança crescia e cada vez mais ficava parecida com o padeiro da cidade. Todos acompanhavam aquele menino com curiosidade. E passava o tempo, e o monge continuava a vida de fazer potes e rezar.

 

Um dia, quando a mentira não tinha mais condições de ser sustentada, a moça resolveu contar o que de fato houve e confessou o que todos já desconfiavam. O monge não era o pai da criança, apesar da desconfiança inicial. O pai era mesmo o padeiro.

 

Reunida à liderança da comunidade, tomaram a decisão de procurar o monge e foram se desculpar pelo fato de terem desconfiado dele.

 

O monge ouviu toda a história, pacientemente silencioso, e concluiu:

 

- Foi mesmo?

 

Voltou para o mosteiro e reassumiu suas antigas funções.

 

O Tempo se encarrega de colocar as coisas no seu devido lugar.

             

Essa coluna é editada por Ivaldo Gomes e colaboradores. ivg@terra.com.br

"A verdade é filha do tempo, não da autoridade".
   Francis Bacon