Wilson Daher - Triplo II: O blog do TriploV - Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências
 
 

Vivemos como se nada nos afetasse. Às vezes enxergamos o óbvio e fugimos da possibilidade de interpretá-lo, uma escolha cômoda, porém perigosa, pois nos coloca em situação acrítica, acéfala.           

Muitos exemplos poderiam aqui ser citados, mas antes gostaria de falar sobre o abismo que se formou entre a tecnologia e a arte, esta seqüestrada por aquela, nos mais diversos campos de nossa atividade. Certo cliente, com muita propriedade, me revelou certo dia sua preocupação com os filhos e com as mudanças genéticas das futuras gerações que, segundo ele, estariam já começando como uma síndrome de adaptação aos novos tempos e novos costumes. O que ele dizia estava, aparentemente, muito próximo de uma ficção científica, mas interpretando depois as colocações feitas naquele dia, tive algum arrepio, pois ao acreditarmos em mudanças genéticas evolutivas (Darwin), não achei fora de propósito o que ele temia, como a idéia de que futuras gerações teriam dedos pontiagudos, próprios para digitações e inábeis para a arte de escrever. 

WILSON DAHER

Contradições

Wilson Daher, formado na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (Rio de Janeiro), é mestre e doutor em ciências da saúde. É professor de História da Medicina da FAMERP - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.  Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura e articulista de jornais e revistas, é autor de várias peças teatrais. Publicou os livros Antes e Sempre (poesia), Diga adeus ao velho Aristóteles (novela) e Memorial de uma Faxineira (contos).

   
 

É fato que a tecnologia chegou para ficar e, hoje, nem sonhamos viver sem ela, tal a facilidade que ela nos proporciona, como no momento em que digito esse texto. Isto não me preocupa. O que me leva a pensar de maneira mais profunda sobre o tema,  tem outro viés: a tecnologia matará a arte, ou ambas poderão conviver em harmonia, cada qual ocupando seu devido espaço? Filmes de arte sobreviverão ante o impacto cada vez maior dos chamados efeitos especiais, ou o futuro nos reserva somente histórias robotizadas pela mecânica tecnicista?

Sei lá, sei apenas que estamos seduzidos por tantas novidades objetais, que o conteúdo de tais objetos andam nos escapando pelos desvãos da indiferença e, sobre isso, tenho minha opinião: há falta de sentido naquilo que andamos fazendo. Sempre penso que seria bastante interessante, a cada ação efetuada, perguntarmos pelo sentido. Muitos me perguntam, por exemplo, porque não tenho ainda uma TV da tecnologia LCD, de imagem ultra-definida, clara, cristalina e muito mais. E respondo que isto é bom, mas seria além de bom, ótimo, se os programas da TV não continuassem na mesma mediocridade com que acontecem em nosso dia a dia. Afinal de contas, teria uma imagem de alta definição para enxergar as mesmas pasmaceiras de sempre? Tô fora, porque não vejo sentido nessa aquisição.

Pense em um carro cada vez mais sofisticado, última geração, de múltiplos botões que tornam o veículo totalmente digitalizado: não seria bom ter um carro assim? Claro que sim, mas se você pensar no trânsito caótico que enfrentamos dia a dia, qual o sentido de um carro de última geração? Não vejo nenhum, mas talvez qualquer dia, eu mesmo caia na armadilha da sedução e mando às favas o sentido: o ser humano é muito contraditório.

Dediquei esta crônica ao Dr. Afiz Nassif, por razões óbvias contidas nesse texto: não seria por causa de um AVC que ele deixaria de exercitar sua tão amada arte da pintura.

Tal exercício, para ele, naturalmente tem um sentido bastante profundo na convivência com aquilo que ama.                                

                                                                      

   
   
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