TERESA FERRER PASSOS
Tochas Floridas

O céu azul entremeado de nuvens largas, esparsas ou acasteladas em tufos de cinza. As tonalidades sombreadas, com instantes de penumbras ou de luz solar ofuscante. As claridades súbitas deslumbrantes. É Domingo de Páscoa. Na igreja matriz de S. Brás de Alportel, logo pela manhã cheia de amenidade no ar, canta-se: «Aleluia, aleluia, Jesus Ressuscitou!».

Engalanada com faixas brancas-vermelhas a cruzarem o cruzeiro frente ao altar-mor, a nave central ostenta colunas ornadas de longas palmas enfeitadas com flores brancas, amarelas, azuis. Depois do tradicional ofício litúrgico, há grupos de rapazes a saírem do átrio, cantando «Aleluia», «Ressuscitou»! Nas suas mãos erguidas, há longos paus a terminar numa pequena vela profusamente florida.

É a chamada Procissão das Tochas Floridas. Floridas com o funcho, o rosmaninho, as rosas, o alecrim, os jarros, as zínias e tantas outras flores. Entrelaçam-se uma nas outras, como um bordado matizado, sob a forma de sacrário, livros religiosos ou pequenas cruzes.

O som dos tambores completa o quadro desenhado entre a multidão que ladeia as pequenas tochas, tão floridas que mal se descobrem, que quase se abandonam e querem continuar apagadas. Como se deixariam ofuscar pela cor irradiante de tantas flores a rodeá-las. Parecem ainda mais pequeninas porque as flores tão variadas no colorido as substituíram hoje, Domingo de Páscoa, Domingo de Ressurgimento para a Vida.

O chão das ruas pelas quais segue a Procissão até ao centro da vila, está coberto de perfumados tapetes de pétalas, rosmaninho e palmas. Todos os participantes neste ritual secular seguem as ruas num delírio de vozes a martelarem «Aleluia», «Aleluia», «Ressuscitou»! E as flores, num profusão de espantar, atravessam o ar como se só elas existissem verdadeiramente, como se só elas fossem a coroação do Cristo Ressuscitado.

Sob o pálio, o «Resplendor», símbolo do Espírito Santo, diviniza a Festa a exaltar Jesus Cristo saído do túmulo, como se vê num estandarte de fundo azul celeste. O Espírito Santo diviniza a Festa, a exaltar Jesus Cristo. Saído do túmulo, Porta Aberta para a Salvação do Homem, Cristo é o Caminho rumo ao arrependimento e à conquista do Bem supremo.

Os olhares, a transbordar de emoção, seguem a Procissão das Tochas Floridas. Nela sentem uma profusão de sentidos, a transmitir o sentido mais profundo da Páscoa: a Alegria no interior de cada cristão, porque o Ungido do Espírito Santo, ressuscitou!