Nova Série

 
 

 

 

 

 

 

NICOLAU SAIÃO
Da simbologia lusa como uma das Belas Artes...

Não assisti, nem em directo nem pela televisão, nem pela rádio e só hoje pelos jornais (por um jornal que me foi gentilmente oferecido) aos sucessos e insucessos do Dia de Portugal e das, creio eu se acaso digo bem, Comunidades & etcetera. 

 Não por desinteresse e, muito menos, por desprezo ou desconfiança para com a nobilíssima data, mas porque muito chãmente estive fora, na saborosa Espanha, a falar a meia-dúzia de convivas sobre voltas e revoltas de "Alguns impressionistas e pós-impressionistas" (textote com que em breve, no salutar TRIPLOV, conto posicionar-me ante a vossa nunca desmentida paciência para com o meco). 

  E, tendo voltado ontem pela tardinha ao meu poiso portalegrense, para além do aludido jornal de que aliás transcreverei um artigo que proponho a seguir à vossa leitura - uma vez que o acho notável de engenho e verve - tinha no aparelhómetro correspondência de vários amigos da corda: Floriano Martins e a sua especificidade bem cearense, Lionel Crabowe que aos 87 anos afivela o fresco perfil de um rapaz de 45, o grande poeta C.Ronald e a sua fraternal postura e, the last but not the least (como usa dizer um formidando crítico luso) o meu compadre Manuel Caldeira que com frequência e vivacidade é por vezes quem lá de fora me alerta a atenção para factos e coscuvilhices cá de dentro. 

  A certa altura dizia-me, a secas, "E então aquilo do Cavaco?". O que me deixou digamos que a zero - pois além das costumeiras...inabilidades do nosso mais alentado magistrado da nação, não me havia tocado as orelhas nada de especial sobre o digníssimo cavalheiro de alta estirpe. 

  E foi só hoje, ao catrapiscar o tal jornal que me ofereceram, que soube - com natural consternação e ligeiro estremecimento, ainda que póstumos - que Sua Excelencia havia tido em directo um delíquio, vulgo desmaio ou xilique, quando se encontrava frente às câmaras discursando nobremente, como é seu apanágio, a propósito da honrosa data. 

   E o texto que agora vos transcrevo, na íntegra pois não é muito longo (mas é bem apaladado!) é do publicista Francisco J. Gonçalves, editor de Mundo do referido diário matutino a quem se endossa a devida vénia: 

"MELHOR QUE FALECER -  O Presidente da República portuguesa caíu em direto durante as celebrações do Dia de Portugal. Desfalecer é, por certo, melhor que falecer, mas o que a queda põe em destaque não é a fragilidade de Cavaco Silva; é a sua imensa capacidade de ler simbologias. Sabedor do que ele mesmo fez pelo País, quis dar-nos, com esta encenação física, um símbolo poderoso da situação de Portugal neste tão desalentado início do segundo decénio do novo século.

  Os antigos mares portugueses e a sua conquista, que tanto orgulho ainda nos suscitam - como se a nobreza dos avós, embora discutível, pudesse desculpar a falta de raça dos netos - servem de pouco para compensar e dar alívio à miséria de valores em que vivemos. Estamos em queda acentuada e imparável, e por isso mesmo, neste dia 10 de junho, no qual celebramos mais o passado do que o presente sombrio que nos coube em sorte, o desfalecimento presidencial significa a queda de toda uma nação no buraco negro da mediocridade dos coelhos, cavacos e sampaios, dos sócrates, guterres e barrosos que nos têm servido de comandantes e que tão eficazmente souberam conduzir o navio português a sucessivos portos de saque."  - in Correio da Manhã, secção Dia a Dia.

  Recebam o proverbial abraqson firme do vosso

  ns

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.

Blog : Ablogando, em: http://ab-logando.blogspot.pt/