NICOLAU SAIÃO

El perfil de la frontera
(Entrevista ao diário Hoy)

Nombre y apellidos:
Nicolau Saião, pseudónimo artístico de Francisco Garção (Monforte do Alentejo, 1946).

Profesión:

Publicista (colocado até à aposentação no Centro de Estudos José Régio, adstrito à casa-museu municipal  desse escritor), poeta, pintor, ensaísta e declamador.

Breve nota biográfica explicando su vinculación con España:

Participou em mostras de Arte Postal em diversos países, entre as quais a Espanha. Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Nesse, como nos seus outros, a presença deste país faz-se sentir, nomeadamente por versos escritos em língua espanhola. Um capítulo do livro “Escrita e o seu contrário” - Cantos do Deserto – é integralmente referido ao deserto de Tabernas (Almeria). Foi traduzido em língua espanhola por argentinos. Tem publicado em espaços culturais espanhóis, entre os quais “Espacio/Espaço Escrito” (Badajoz) e “A Xanela” (Betanzos). Coordenou antologias e suplementos nos quais autores espanhóis estão representados. Nos seus textos são frequentes as referências a Espanha.

Co-organizou a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”(1984) e a mostra de mail art“O futebol” (1995), apresentando nelas também pintores da Espanha. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”. Traduziu e publicou em conceituados espaços culturais portugueses e estrangeiros poemas de líricos espanhóis ou de língua espanhola como Pere Gimferrer, Salvador Espriu, Juan Ramón Jiménez, Carlos Alvarez, Carlos Oquendo de Amat, Emílio Adolpho Westphalen, Nicolás Guillén, Alfredo Trejos, César Vallejo, Jorge Luís Borges...

Tem efectuado palestras e participado em colóquios nas localidades de Badajoz, Jerez de los Caballeros, Cáceres, Zafra, Sevilha, Ciudad Real, Madrid, Villanueva del Fresno... Grande apreciador da arte e da literatura de Espanha, é também nela um viajeiro interessado e pertinaz. 

Nicolau Saião na ponte de El Marco

¿Qué significa para usted España?

- É uma entidade, uma palavra e um país que para mim faz simultaneamente parte do real e do imaginário: minha mãe viveu parte da sua infância, com parentes emigrados, em Alburquerque – e a língua castelhana e o lugar Espanha desde sempre ecoaram em mim. De muito cedo comecei a visitar esses rincões. Devido a isso só passada a primeira infância me dei conta, com alguma surpresa, de que era só português, até aí não tinha essa noção, pertencia a um espaço onde não se punha a questão da nacionalidade. Interiormente, continuo assim. Sinto tanto afecto por Arronches, Coimbra, Montargil ou Lisboa como sinto por Alburquerque, Valencia de Alcantara, Ciudad Real, Sevilha ou Madrid. Sem ser deliberadamente tenho, digamos assim, um coração ibérico: amo Raul Brandão e Camilo, Afonso Duarte ou Pascoaes em paralelo com Unamuno, Jiménez ou Pio Baroja. E, digo-o sem ironia mas muito a sério, gostava de ter dupla nacionalidade. Seria como que uma certificação de alma, uma fidelização à infância! 

¿Qué ha sido lo mejor y lo peor de su contacto con España?

- Não tive ainda, por circunstâncias específicas ou de acaso, más experiências em Espanha. Tanto quanto me lembro só tive uma vez, em Badajoz, umas palavras desagradáveis duns indivíduos parados ao pé duma praça de táxis, que em vez de me esclareceram onde poderia estacionar me sugeriram que fôsse antes para a minha terra (sic). Mas isto é irrepresentativo!

O melhor: um ar de limpeza interior, de clara inclinação pelo progresso sustentado e humanizado e de caballerosidad, de interesse pela cultura – nomeadamente a portuguesa. E de generosidade pessoal das pessoas com quem tenho tido contacto.

¿Cuál cree que debe ser el papel de Extremadura como región fronteriza?

- Precisamente aproveitar esse facto de proximidade para tentar que o povo estabeleça laços efectivos, contornando adequadamente algum oficialismo redutor. Em Portugal, em certos locais, os mandantes são muitas vezes gente de letras grossas, provincianizados ou egoístas, quando não meros oportunistas ou áulicos a quem só interessa granjear carreiras, políticas ou de ordem mais civil... Creio que me faço entender.

A Extremadura, tanto quanto julgo saber, tem organismos e pessoas que podem “puxar” pelo que de melhor existe nos dois lados da fronteira, em ordem a progredir-se e crescer-se qualitativamente, sem falsos e espúrios “nacionalismos”, que por vezes nada mais são do que tentativas de manter domínios ilegítimos sobre populações ingenuizadas.

No respeito mútuo, evoluamos em conjunto!

¿Cuáles son sus principales proyectos y retos, de cara al futuro, en su relación con España?

- Digo-o com mágoa...e com alguma ponta de esperança: com mágoa porque, sem acinte, nada me suscita a esperar algo das gentes que controlam a região onde vivo (região portalegrense). A meu ver, ou não agem com lucidez e real interesse ou, quando o fazem, é frequentemente epigrafando como positivos coisas e operadores que o não são ou, nos casos mais negativos, operacionais e factos promovidos administrativamente...

Ponta de esperança, pois se por um lado a população lusitana começa decididamente a recusar pactuar com gente sem qualidade, conto com a vontade digna dos extremenhos (o melhor do povo e das instituições) para estenderem a sua mão, duma forma franca,  fraterna e efectiva aos operadores e às entidades, dignos e de qualidade, que aqui actuam quantas vezes com entraves ou com apoios diminutos ou mesmo inexistentes.

Enquanto ser pessoal, continuarei a ler, a escrever e a pintar (e a relacionar-me tanto quanto o possa fazer) sem planos estreitos mas visando a comunicabilidade que esse acto transporta em si.

ns

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.

  Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc. 

   Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).  

  No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).     

  Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).

  Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”.

  Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz),  “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil)...

 Prefaciou os livros “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras) e “Estravagários” de Nuno Rebocho (Apenas Livros Editora).

   Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Com João Garção e Ruy Ventura coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003.

  Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).

   Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.

  Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.

     É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.