MÁRIO MONTAUT

EM QUE OITAVA VOCÊ ME OUVE?
"O fato é que ainda não há ouvintes para essa música." (Luiz Antonio Giron)
 

Toda aventura humana já pode ser apreendida, inicialmente, pela mera contemplação de um teclado de piano, simétrico, na arquitetura de suas oitavas. Ampliem esse teclado os olhos e ouvidos da nossa imaginação, que também pode dar início à música humanamente audível, e continuá-la nos mais sensíveis ouvidos, dotados da maior musicalidade imaginável. Lírico? Dramático? Bizarro? Infantil? Tudo relativo, nos (In)determinismos de oitavas paralelas tocando em constelações do paradoxo, e reverberando além. "A música produz sempre este efeito. Imagino um homem que, tendo vivido sempre a mais banal das existências, descobre, ao ouvir casualmente um intenso trecho musical, que a sua alma atravessou terríveis provações, alegrias estonteantes, amores selvagens e vastos sacrifícios ignorados até então!", diz Gilberto, heterônimo de Oscar Wilde no ensaio "The critic as an artist".

Literalmente, uma verdade relativa que se agiganta e nos confunde no universo deste piano. O cidadão comum raramente se distancia daquele Dó Central, enquanto Bach, Shakespeare e Da Vinci tocam todas as teclas, e outras, mais distantes ainda das notas escritas na partitura de certas obras, somente para a audição do espírito. Os excessos de vida estão nos domínios da música, como bem iluminou em seu "Conto",

Jean Arthur Rimbaud: "Falta ao nosso desejo a música erudita".

(Mário Montaut)

MÁRIO MONTAUT é brasileiro, paulistano, de ascendência italiana, espanhola, indígena, moura, francesa e outras. Desenvolve uma sequência de composições que vêm à luz, já em dois trabalhos: "Bela Humana Raça", Dabliú, 1999, e "Mário Montaut: Samba De Alvrakélia", a sair nos próximos dias pelo selo MBBmusic. São muitos anos de vivências artísticas, num panorama que inclui Dorival Caymmi, René Magritte, Manoel De Barros, João Cabral De Melo Neto, Borges, Chico, Caetano, Gil, Dalí, Fellini, Buñuel, Webern, Cartola, Breton, Blavatsky e muitos amores mais, indispensáveis à sua criação, que abarca, além das canções, poemas, textos, roteiros e outras coisas interessantes. Mário Montaut é basicamente um parceiro de todos os seus contemporâneos e ascendentes, humanos ou não, saibam eles ou não. Índios, Negros, Europeus, Sem-terra, Brisas, Baleias, Maremotos, Chuvas, Livros, Discos, Beijos e Trovões Em Todas As Roseiras. Atualmente grava um disco de parcerias suas com o poeta Floriano Martins, onde a talentosíssima intérprete Ana Lee canta grande parte do repertório. Mário Montaut é um pouco de tudo isso. E muito mais, com certeza, pode ser descoberto em seus discos lançados, em suas tantas canções já gravadas, poemas, textos, e múltiplos achados.