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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
POEMAS DO SILÊNCIO

INDEX

De que fala o silêncio?
Poema com desenhos de António Ramos Rosa
Os violinos e os nomes
Os pomos de Dioniso
As hipérboles da luz
Ciclos eternos
Os anéis da claridade
O corpo e os seus lugares
Os nenúfares de música

Ciclos eternos

«Couleur de soufre, de miel, couleur de choses immortelles»
Saint-John Perse

O Concerto em Lá Menor, Opus 54, de Schumann,

as cores do mel, terra sigillatta, colares de vidro,

o torso de um Sileno, divindades romanas,

uma monografia do Museu de Conimbriga.

 

Foi há dois dias que visitei as ruínas da cidade antiga

e, na luz demiurga, vi Neptuno, um cavalo marinho,

o labirinto, o Minotauro,

colunas, lírios roxos, mosaicos de estrelas, trevos,

a água verde, a Casa dos Repuxos,

a luz da manhã incidindo nas ruínas.

 

Depois, o Forum, as termas, restos imperiais.

E o sortilégio termina, enquanto o olhar se alonga,

durante o almoço ― frango à Apicius,

e a natureza pujante enumera ervas aromáticas,

rebentos de anis, alfinetes de osso,

besouros, zimbro e alecrim:

 

ciclos eternos impregnados, entre nascentes sulfurosas,

estelas de mármore,

a tarde sabendo a molho de mel,

legumes estufados com uvas coríntias, Schumann,

florestas de ouro desmembradas,

na música intrínseca do múrex antigo,

 

as flores ardendo, libertando o fogo, as entranhas,

entre violinos rasgados que floriam

..............................pela tarde, ..................acidulada, azul.

In Mealibra. Revista de Cultura, do Centro Cultural do Alto Minho,
Viana do Castelo, Janeiro. de 2001