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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
As vindimas da noite
Clareiras/Fronteiras

A penúltima estrela ecoa, como uma infindável

Kreisleriana,

nos pianos lunares de Robert Schumann.

Falar de ilusões sempre foi inventar a própria

nudez do coração, o amor em surdina,

quando floresce uma eternidade selvagem,

na ruína despojada, na aludida separação, ruptura,

berço, identidade,

movimento e música, harmonia imperceptível.

 

Nos antípodas do medo, no corpo, ecoa o perfume,

simbiose de cigarras deslumbradas, despertas

nos fios cutâneos, visíveis nas árvores brancas,

despedaçadas,

trazidas de uma floresta apodrecida de esporos

de vento.

 

Falar de ilusões sempre foi afastar as máscaras

corroídas, fluir com o ópio da memória,

as mandrágoras do silêncio,

quando a noite irradia a estrela, a lira,

a madrepérola,

designando o cântico da lua misteriosa ,

na nuvem aquática que flutua junto às grutas

e os lagos que serpenteiam argutos,

nas ambiguidades do ser,

 

amor-perfeito.

Maria do Sameiro Barroso é licenciada em Filologia Germânica e em Medicina e Cirurgia, pela Universidade Clássica de Lisboa. Exerce a sua actividade profissional como médica, Especialista em Medicina Geral e Familiar.

Em 1987 iniciou a sua actividade literária, tendo publicado livros de poesia e colaborado em antologias e revistas literárias. A partir de 2001, a sua actividade estendeu-se à tradução e ensaio, tendo publicado, em revistas literárias e académicas.

Em 2002 iniciou a sua actividade de investigadora, na área da História da Medicina, tendo apresentado e publicado trabalhos, nesta área.