JOAQUIM SIMÕES

Suspeita fundamentada

Esta é a minha homenagem ao poeta e o meu abraço fraterno a um homem de bem.
(No 70º aniversário de Nicolau Saião)

 

Não tenho a certeza, mas…

 

Antes percorria-lhe a pele fresca e macia

Um mapa feito de pele humana

Onde me espreguiçava em viagens que procurava

Inesperadas obscuras de onde sairia sempre terrivelmente

Vencedor amante oh sempre sempre

Amante

Para todo o sempre

 

Mas hoje consigo subir apenas

Ao alto de uma ruga que ontem não havia

Nesse mapa e ver que afinal é

Tudo uma sucessão de rugas quase todas iguais e que

Entre elas pouco sobra para viagens e que

Tudo ou quase tudo é para ser visto do alto e que

O que antes me parecia

Ser uma planície não passa de um pequeno vale

Onde nem um riachozito aprazível anda à sua vida

 

Como se eu tivesse sido toda a vida uma criança

E as coisas me surgissem maiores do que realmente são

 

Já disse, não tenho a certeza…

Mas acho que foi mesmo o Tempo

Que envelheceu

 

Joaquim Simões, Fevereiro de 2016

 

Joaquim Simões nasceu em Paço d’Arcos, em 1950.

Licenciou-se em Filosofia, na Universidade Católica Portuguesa. Frequentou o mestrado em Cultura Clássica da Universidade de Lisboa, sob orientação do Professor Victor Jabouille, tendo sido investigador da Linha de Acção 1 do Departamento de Línguas e Cultura Clássicas da mesma Universidade, abandonando, porém, ambas as actividades por motivo de doença.

Foi professor do Ensino Secundário em diversas escolas da área de Lisboa e, para além da actividade docente, exerceu funções de orientador de estágio profissionalizante e de representante de uma delas em alguns encontros, nacionais e internacionais, sobre multiculturalidade.

Em 1979, publicou um livro de poemas em edição de autor, com prefácio de Manuel Grangeio Crespo.

Entre 1980 e 1983 participou no projecto de teatro para a infância e juventude do Teatro do Nosso Tempo, em Lisboa. Em 1982, em parceria com o músico Francisco (Xico Zé) Henriques, constrói um espectáculo, “Astrolábio”, composto por canções feitas a partir de poemas seus.

Entre 1989 e 2010, colaborou permanentemente com Manuel Almeida e Sousa e a Mandrágora em diferentes realizações na área da performance teatral.

Em 2010, colabora com Maria Morbey Henriques no espectáculo “Banjazz – Um bichinho esquisito”, levado à cena, em Fevereiro, no Centro Cultural de Belém.