ANTÓNIO JUSTO...
Caravana privada em busca de refugiados - uma iniciativa à rebeldia?

Accionismo devido a falta de informação objectiva


Na sexta-feira passada 25.09, tal como informa VISÃO, partiram de Portugal 6 automóveis com destino à Hungria/Croácia/Eslovénia (a caminho decidir-se-ão), no intuito de voltar a Portugal com os carros “cheios de refugiados”. “Seis carros - sete, a contar com o da equipa da SIC -, cada um com duas pessoas, um piloto e um co-piloto…” reza a VISÃO. Os activistas pensam com esta acção dar uma bofetada na burocracia dos Estados europeus e “gastar provavelmente o que gastaríamos numa semana de férias” e talvez ajudá-los até ver. Que ideias fazem da situação Nuno, Pedro, Vera, Abdul e outros colaboradores da iniciativa? Tudo isto em nome e à responsabilidade de quem? Para imigrantes é suficiente a improvisação e o mostrar boa vontade?
 

Uma tal acção será legítima se as pessoas que transportam os refugiados se comprometerem a dar guarida, formação e emprego aos refugiados enquanto estes não puderem viver à custa própria e se suponha que tal acção seja coberta pelas autoridades, doutro modo correriam o perigo de serem inculpados de passadores (Na Alemanha estão 1.500 pessoas em observação por cumplicidade de negócio de tráfico com refugiados; naturalmente que estes não poderão ser comparados com sentimentos de bondade espontânea). Com acções do género servem-se, por vezes, mais os jornais do que os afectados pela injustiça. 

Armar-se em samaritanos à custa do Estado ou de outros, que depois terão de assumir responsabilidade pelos refugiados, cheira a leviandade criticável, ingenuidade pura ou cumplicidade; tudo isto pode ser encarado como o accionismo da UE que agora começa a acordar, porque começa a sofrer as consequências das formatos que ajudou a criar ao desestabilizar a Síria e outras nações apoiando o terrorismo daqueles que usam de movimentos populares por vezes bem-intencionados.  

Os autoproclamados bombeiros da necessidade, agem como se refugiados, na condição de pobres estivessem dispostos a aceitar viver em qualquer condição e como se Portugal tivesse aberto as fronteiras aos imigrantes. Aqui na Alemanha tem havido revoltas entre refugiados alojados em centros de acolhimento, embora as autoridades alemãs se esforcem imensamente por os ajudar; estas são secundadas pelo povo com iniciativas de apoio e ajuda com bens materiais e no ensino da língua, condição essencial para os imigrantes se autoafirmarem no mercado! Um exemplo: refugiados acolhidos numa caserna e a viver provisoriamente como vivem os soldados em geral consideram tal situação desumana. 

Com isto não quero levar pessoas a olharem para o lado! A responsabilidade deve perceber o que está deveras a acontecer e a complexidade da situação de uma crise reveladora de situações desumanas em que se encontram inocentes, vítimas, muitos necessitados (à procura de maior felicidade) mas também, entre eles, pessoas com energia criminosa; em tal situação só o Estado ou organizações humanitárias terão a competência para ajudarem efectivamente sem correrem o perigo de uma ajuda questionável só para inglês ver!  

Não chega dar peixe, é necessário ensinar a pescar, já sabia o nosso povo! A Síria está a ser sangrada e a ver-se envelhecer vendo os seus jovens a fugir e estados como a Turquia interessados em continuar a guerrilha não são questionados. Com a crise dos refugiados continua a desaviar-se a bola para canto. 

Ao cinismo europeu e americano (intervenção no Afeganistão, destruição dos Estados no Iraque, na Líbia, na Síria e instabilização de toda África do norte, aos interesses concorrentes entre Turquia e Irão) segue-se uma reacção afectiva em relação ao êxodo provocado que se pode tornar tão questionável como o cinismo. O mau desenvolvimento na Europa em consequência das duas grandes guerras não pode ser argumento justificador de políticas à deriva ou à vela dos ventos de ideologias e dos interesses xiitas ou sunitas. 

A Europa e cada europeu precisam de maior reflexão sobre o que se faz e o que se deixa de fazer: política de investimento nos referidos países para que os cidadãos não se vejam obrigados a emigrar na procura legítima de uma vida melhor! Precisa-se do empenho de todos, instituições e cidadãos, numa acção conjunta, não para fortalecer o próprio ego em atividades publicitárias de relações públicas à custa de “refugiados inocentes” mas para colocar a humanidade e a justiça no centro do agir individual e político!

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

 

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.

Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .

PUBLICAÇÕES  

- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.

- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel

- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)

- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)

- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.

- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.

Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.

http://blog.comunidades.net/justo

 http://antonio-justo.blogspot.com/