ANTÓNIO JUSTO...

PODER RENOVADOR DA MULHER
Ventre da Mulher – Um Factor Político

Nas culturas patriarcais a mulher era e é praticamente um apêndice do homem. Também as sociedades mais desenvolvidas, se encontram ainda muito distantes duma sociedade equilibrada construída na base da reciprocidade de feminidade e virilidade. Apesar dos esforços do conveniente movimento de libertação da mulher, temo-nos limitado ao nível de adaptação de imagens ao masculino sem interesse pelo ser da feminilidade e do ser mulher. O que tem interessado é a mulher industrializada como produtora, consumidora e cliente ao serviço da cultura, uma imagem dinâmica mas obediente à norma social masculina.  

Uma mera adaptação da mulher aos parâmetros da nossa sociedade corresponderia apenas a uma masculinização da mulher, dado o modelo das sociedades contemporâneas ser também ele masculino. Na sua inconformidade com o status quo, a mulher conseguiu muito. A sua força criativa e reformadora ainda não encontraram plataforma. O objecto de combate não deve ser o homem mas sim as suas estruturas viris afirmadas à custa da feminidade reprimida.  

A mulher tem sido, em parte, reduzida a um complemento do homem, da família, da sociedade com as correspondentes necessidades a serem saciadas e que determinam a imagem mais ou menos elevada e ocasionalmente propagada. Homem e mulher funcionalizados no sentido duma adaptação inconsciente a superstruturas que os prendem…  

As ciências humanas reduzem, geralmente, a mulher ao seu carácter sociológico mais ou menos aferida ou contraposta à norma masculina. Assim se reduz a mulher ao seu carácter fisiológico ou a uma função sociológica enquadrada num projecto de homem entre a sua sombra e Vénus, um ser acessório de que se vai mudando a imagem conforme a conveniência cultural do tempo. Nas fotos das mulheres e nos cartazes, poderíamos ver materializado o espírito de cada época.  

A insegurança do homem ocidental perante a mulher leva-o a considerá-la como um ser antagónico e o medo da sociedade muçulmana perante ela levam o homem a aprisioná-la debaixo da burca ou do lenço. Em sociedades em que o sexo ou o exótico não eram tão tabuizados a mulher tinha mais voto na vida do dia a dia. Pelo menos é o que se podia constatar na imagem da mulher da Índia dos tempos dos Vedas em que havia igualdade de direitos do homem e da mulher. A ocupação islâmica da Índia (1009-1526) transformou a sociedade fazendo da mulher uma escrava do homem. A poligamia é o sinal mais visível do poder do homem. Na Europa a imagem da mulher anda muito ligada ao sistema económico.  

O homem e a mulher são seres em processo em continua mudança sócio-cultural. A mulher, porém, não é reduzível a um psicologismo, a um sociologismo nem a um economicismo. O mesmo se diga do homem; ao afirmarem-se na contradição negam o seu ser humano de seres em relação, o seu carácter trinitário. Ao reduzir-se a mulher reduz-se automaticamente o homem e consequentemente desequilibra-se a sociedade, desfuncionalizando-a do seu verdadeiro fim.  

O homem não perdoou a Eva o facto de ser ela a primeira a atrever-se a dar o salto colectivo para o individual, o salto do anonimato animal e emocional para a racionalidade humana que adveio com a vontade de ser diferente e a liberdade de comer dos frutos da árvore da vida. A vergonha do homem leva este a projectar na mulher a culpa. Assim a fatalidade das virtudes ou defeitos da mulher continua a encontrar-se em relação à norma homem e aos seus medos perante o ser dela. Por um lado o amor cúltico por outro o desejo de a ver submissa como se observa hoje também na prática da procura do homem pela mulher distante: a brasileira, a russa e a polaca. Hoje como ontem procuram-se papéis de mulher que interpretem as necessidades do homem e da sociedade masculina do tempo e não a mulher em si. São reduzidas a ícones à disposição.  

O destino da mulher não poderá ser condicionado ao seu rol, ao seu papel, nem tão pouca à redução do homem a cultura e da mulher a natura. Um e outro são de valor integral não podendo ser reduzido a um perspectivismo unilateral; cada um encontra-se bem em sua casa, sem ter necessidade de operar os ovários ou de se castrar. Socialmente tem havido uma aproximação nos papéis a executar socialmente. A emancipação da mulher não passa porém dum bluff se a sociedade em que se encontra não lhe possibilitar novas formas de vida para ela adquirir respeito. O empreendimento da mudança do tipo de sociedade máscula que somos terá de ser obra da mulher e do homem na descoberta do humano que não é masculino nem feminino.  

A igualdade dos sexos deve trazer vantagens para os dois. As suas necessidades não se reduzem às necessidades biológicas de reciprocidade mas também a necessidades existenciais que possibilitem o realizar e experimentar do ser homem e do ser mulher na própria pessoa numa relação de tensão entre um eu e um tu. “Deus criou o Homem como homem e mulher” (Gen 1,27) e não apenas como homem ou como mulher,  porque Ele mesmo é relação. O homem só o é perante a mulher e a mulher só o é perante o homem. Deste modo, mais que uma emancipação um do outro, será oportuna uma libertação em parceria. Tal como Deus partilha o seu ser com o Homem também a mulher partilha o seu ser com o homem, não só estando mas sendo com ele e vice-versa. O ser da pessoa é relação sendo o homem mais que ele e a mulher mais que ela. Para lá da sexualidade está a união transcendente, o laço “matrimonial” do Homem todo na entrega mútua.  

Nas grandes revoluções do futuro a mulher terá de desempenhar um papel activo muito grande. Do seu acordar dependerá em grande parte o desenvolvimento das sociedades subdesenvolvidas, a humanização das sociedades desenvolvidas. Precisamos dum novo modelo de sociedade.  

Nos Estados muçulmanos serão elas que terão de provocar o desenvolvimento das sociedades patriarcais. O sofrimento da mulher e a sua resignação interiorizada são fenómenos sociais que bradam aos céus. Encontram-se abandonadas a si mesmas. Pena é que as mulheres em processo de libertação se não solidarizem com as poucas que conseguem levantar a cabeça contra o patriarcado insuportável que as domina em culturas que usam a amordaça da vergonha fazendo delas pessoas envergonhadas. O mundo muçulmano precisa duma época do renascimento e do humanismo tal como a Europa teve há 500/600 anos e que provocou o seu grande desenvolvimento a nível material. Só uma revolução cultural aliada à mulher poderá quebrar as amarras do patriarcado aí vigente.  

O grande trunfo do poder dos povos árabes está não só na sua capacidade de guerrilha mas especialmente na instrumentalização da mulher como geradora de muçulmanos. A imprensa relata que o presidente do governo Turco afirmou em relação à Europa que a barriga das mulheres realizará o que a política na consegue. De facto a comunidade turca na Alemanha manifesta-se resistente a qualquer integração, acontecendo que onde se radicam formam uma sociedade paralela. Em 1975 eram quinhentos mil na Alemanha, altura em que a Alemanha fechou as portas à emigração, hoje já são três milhões.  

O problema crucial da „bomba demográfica“ é sentido de maneira especial em Israel. Vinte por cento da população israelita é de origem árabe. Israel fomenta a maternidade das israelitas. Cada mulher israelita dá à luz 2,7 crianças. Sentem-se responsáveis pela sobrevivência de Israel. Além disso ter filhos é uma bênção. “Uma mulher sem filhos é incompleta” pensa o povo. Toda a mulher israelita tem direito a fertilização gratuita in vitro, em clínicas de fertilidade. A religião, a economia e a sociedade fomentam a família e as crianças, também com infra-estruturas adequadas. A planificação familiar é muito importante em Israel atendendo à explosão de nascimentos muçulmanos, à necessidade de soldados e de cidadãos. A sua terra prometida é aquela, não tendo mais para onde ir como povo. A solidariedade familiar ajuda as mães a ter emprego e a ter filhos. Patrões também ajudam famílias a partir do quarto filho.  

O ventre da mulher está ao serviço da política agressiva masculina, como se verifica, dum lado e do outro. Umas e outras são instrumentalizadas, fazendo-o porém na consciência de que são livres ou de que prestam um serviço à sociedade máscula.  

No sentido da libertação da mulher seria importante ser feita uma hermenêutica, um estudo comparativo da mulher nas diferentes sociedades. Um compêndio tipo planta das consciências culturais e da auto-compreensão e posição da mulher.  

Uma sociedade em mudança, com novas contornos, precisa de desenvolver novos valores sem medo de novos modelos de pensamento e de vida. Um dos papéis importantes da política será integrar a vida familiar na vida social e laboral.  

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal). E-mail: a.c.justo@t-online.de.

Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel .

PUBLICAÇÕES  

- Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel em alemão com secções em português, italiano, turco, françês, grego, editada pela cidade de Kassel, tiragem 5. 000 exemplares.

- Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", editada na Caritas, Kassel

- Editor de "O Farol" , jornal de carácter escolar e social em colaboração com alunos, pais e portugueses das cidades de Bad Wildungen, Hessisch Lichtenau, Kassel, Bad Arolsen e Diemelstadt( de 1981 a 1985)

- Editor de „Boletim da Fracção Portuguesa no Conselho de Estrangeiros de Kassel (1984)

- Autor da Brochura „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“ editada pela Câmara Municipal de Kassel, Fevereiro de 1987.

- Co-autor da Brochura „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, editada pela AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.

Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.

http://blog.comunidades.net/justo

 http://antonio-justo.blogspot.com/