Cena IV

Mesmo ambiente e visual da Cena III.

NARRADOR

Os que marcham, senhores, vasculham ainda esta cidade. Mas nada encontram nas casas sem ninguém, e nas ruas e nas praças, também silenciosas e desertas. Por isso, senhores, a espera é longa e o tempo não passa. Nas igrejas de pedra antiga o tempo não passa e as divindades esperam em vão que se acendam as velas dos altares. Nas ruas, nas praças, nos hospitais e nos cafés, nas igrejas e nas escolas, e até nos cemitérios, o tempo também não passa e os mortos também esperam em vão que as botas cardadas deixem de pisá-los.

O Compositor entra.

NARRADOR

Tudo nesta cidade, senhores, agora, espera em vão.

O Compositor aproxima-se do canhão.

VOZ DE HOMEM

Pára!

COMPOSITOR (Parando e voltando-se na direção da voz)

Mas eu só quero...

HOMEM VESTIDO DE MARINHO (Entrando)

Pára!

COMPOSITOR

Quem é você?

HOMEM VESTIDO DE MARINHO

Não interessa!

COMPOSITOR

Mas eu só quero compor um acorde.

HOMEM VESTIDO DE MARINHO

Não interessa! É proibido!

COMPOSITOR

Mas é o último!

HOMEM VESTIDO DE MARINHO

Já disse, é proibido!

COMPOSITOR

Mas eu sou um...

HOMEM VESTIDO DE MARINHO

Não interessa!

COMPOSITOR

Mas eu não quero matar ninguém!

HOMEM VESTIDO DE MARINHO

Não interessa!

O Compositor começa andando na direção do canhão.

HOMEM VESTIDO DE MARINHO (Apontando um revólver)

Pára ou eu te mato!

O Compositor pára.

NARRADOR

Agora, é assim esta cidade, senhores. Até os sons são proibidos.

 

APAGA A LUZ