CUNHA DE LEIRADELLA
O CIRCO DAS
QUALIDADES HUMANAS



Longa metragem

INDEX

Nota preliminar
Narrativas
Personagens (ordem alfabética)
Figuração
Perfil dos personagens

ROTEIRO:

01-15
16-18
19-25
26-32
33-34
35-37
38-40

41-43
44-45
46-50
51-58
59-62
63-67
68-70

71-72
73-79
80-83
84-91
92-101
102-110
111-121

 

63 - CASA DE NOCA. QUARTO DELE. INTERIOR. NOITE.

 

Bosco e Noca estão quase deitados no chão, encostados na parede. A garrafa de gim, vazia, está caída ao lado deles. A mulher drogada continua dormindo.

 

NOCA

- Preciso te mostrar.

VOZ DE BOSCO

- My kind...

NOCA

- Ô! Não quer ver, não, pô?

VOZ DE BOSCO (Continuando)

- ... and my girl...

NOCA

- Ó, só.

 

Noca levanta-se com esforço e, cambaleando, fica na frente de Bosco.

 

NOCA

- Ó, só, caralho!

 

Noca abaixa a calça e a cueca. No lugar do pênis aparece uma pequena árvore com as raízes entrando nas pernas. Bosco levanta-se de um salto e esmurra a porta, querendo sair.

 

64 - COLONIAL HOTEL. APARTAMENTO DE EDUARDO. INTERIOR. NOITE.

 

Eduardo, com a mesma roupa da seqüência 59, está encostado na janela, fechada, fumando. Toca o telefone na mesa-de-cabeceira. Eduardo joga o cigarro no chão e atende no primeiro toque.

 

EDUARDO (Ansioso, quase gritando)

- Eduardo! (Decepcionado.) Alô, Fábio. Não, não. Não esqueci, não. Só que eu tive um compromisso e... Não. Não. Apareceu assim... (Ri, meio sem graça.) Tá difícil essa nossa saída, né? Não, não. Deixa que eu telefono. É melhor, tá? Obrigado, Fábio.

 

Eduardo bate com o telefone no gancho e fica rígido, olhando através da janela.

 

65 - COLONIAL HOTEL. QUARTO DE ULYSSES. INTERIOR. NOITE.

 

Recostado na cama, Ulysses parece não escutar as batidas na porta. As batidas soam mais fortes. Ulysses levanta-se e abre a porta. Maria Germana entra rápida, fecha a porta e encosta-se nela.

 

MARIA GERMANA

- Puxa!

ULYSSES

- Desculpe. Eu...

MARIA GERMANA (Apontando a cama)

- Você tava...

ULYSSES

- Não. Não. Eu só tava... (Aponta a cadeira.) Sente.

MARIA GERMANA

- Você não parece muito...

ULYSSES

- Não. Não. É que...

MARIA GERMANA

- Se preferir, eu vou embora.

ULYSSES

- Não. Não. De jeito nenhum! Eu é que tô, sei lá...

MARIA GERMANA (Rindo)

- Dêprê?

 

Ulysses olha Maria Germana, mas não responde. Maria Germana aproxima-se.

 

MARIA GERMANA

- Diga.

ULYSSES

- Meio desconjuntado, sei lá.

MARIA GERMANA (Rindo)

- Ah, mas isso tem solução.

 

Maria Germana abraça e beija Ulysses.

 

MARIA GERMANA

- Ou não tem? Hem?

 

Maria Germana agarra Ulysses com força, lambe-lhe o rosto e o pescoço, entremeando os gestos com as palavras.

 

MARIA GERMANA

- Tem, sim. Tem, sim. Tem, sim.

 

Maria germana tira o baby-doll e esfrega-se em Ulysses.

 

MARIA GERMANA

- Tem, sim! Tem jeito, sim!

 

À medida que aumenta a intensidade das carícias de Maria Germana, aumenta também a excitação de Ulysses. De repente, Maria Germana arrasta Ulysses para a cama, despe-o e ambos rolam, engalfinhados, em cima da coberta.

 

66 - COLONIAL HOTEL. APARTAMENTO DE EDUARDO. INTERIOR. NOITE.

 

Eduardo, com uma roupa diferente da seqüência 64, fuma e anda pelo quarto, nervoso. De repente, joga o cigarro no chão, pega o telefone e disca.

EDUARDO

- Alô? É da casa do Dr. Fábio? Eu poderia falar com ele? Obrigado. Fábio? Eduardo. Não, não. Tá tudo bem. Desculpa, mas eu preciso falar com você. Agora. Não. Por telefone, não. Eu preferia passar na sua casa, pode ser? Sei, claro. Já perguntei na portaria. É coisa rápida. Obrigado.

 

67 - CASA DE BOSCO. EXTERIOR. NOITE.

 

Eduardo desce a rua em passos rápidos, olhando os números das casas, pára na frente de uma porta e bate. Instantes depois, abre uma janela e aparece Jussara.

 

JUSSARA

- Quem é?

EDUARDO

- É um colega do Dr. Fábio. Ele já...

JUSSARA (Cortando)

- Um momento.

 

Jussara fecha a janela. Instantes depois, a porta abre e aparece Fábio.

 

EDUARDO (Nervoso)

- Você me desculpe, Fábio, mas...

FÁBIO

- Ora, Dr. Eduardo. Mas o senhor não quer entrar, não?

EDUARDO (Mesmo tom)

- Não. Não. Obrigado. Eu só... Quer dizer, é uma pergunta que eu...

FÁBIO

- Algum proble...

EDUARDO (Cortando, mesmo tom)

- Não. Não. Problema nenhum. Eu é que...

FÁBIO

- Dr. Eduardo, o que eu puder fazer...

EDUARDO (Tentando recompor-se)

- É só uma pergunta boba. Boba mesmo.

FÁBIO

- Mas que é isso, Dr. Eduardo?! Por favor!

EDUARDO

- Fábio, você conhece uma mulher...

FÁBIO (Rindo)

- Ah, Dr. Eduardo, mulheres eu conheço...

EDUARDO (Cortando)

- Eu sei. Eu sei. Mas é uma...

FÁBIO (Sorrindo, cúmplice)

- Bem especial, claro.

EDUARDO (Encabulado)

- Digamos que...

FÁBIO (Rindo)

- Ora, Dr. Eduardo! Se é assim tão especial, claro que eu conheço! O senhor encontrou ela onde? Lá no...

EDUARDO (Cortando, nervoso)

- Não. Não. Eu só a vi... Quer dizer... É uma mulher vestida de branco...

FÁBIO

- Vestida de branco? Dr. Eduardo...

EDUARDO (Mesmo tom)

- É. Ela apareceu... Quer dizer... Ela...

FÁBIO

- Apareceu onde? Lá no...

EDUARDO (Rápido)

- Não! Não! Aqui!

FÁBIO

- Aqui? Dr. Eduardo...

 

Eduardo aponta o fim da rua.

 

EDUARDO

- Lá, naquelas ruas.

FÁBIO

- Dr. Eduardo, eu moro aqui...

EDUARDO (Ansioso)

- Então, você sa...

FÁBIO (Continuando)

- ... desde que nasci e posso lhe garantir que, uma mulher assim, do jeito que o senhor tá falando, não mora por aqui, não. Se morasse...

 

Eduardo olha Fábio com incredulidade.

 

FÁBIO (Incisivo)

- Não mora mesmo, Dr. Eduardo. Se morasse eu já teria visto. A não ser...

EDUARDO (Ansioso)

- Sim?

FÁBIO (Sorrindo, tentando acalmar Eduardo)

- A não ser que seja algum anjo. Ou algum demônio.

 

Eduardo, decepcionado, olha Fábio, fixamente.

 

FÁBIO

- Sério, Dr. Eduardo. Aqui em Congonhas, as mulheres...

EDUARDO (Cortando, seco)

- Obrigado, Fábio.

FÁBIO

- Dr. Eduardo...

EDUARDO (Mesmo tom)

Boa noite. E me desculpe o incômodo.

 

Eduardo começa se afastando.

 

FÁBIO

- E o nosso passeio, Dr. Eduardo? O senhor ainda...

 

Eduardo continua andando, sem responder. Fábio cala-se e abre os braços, num gesto de impotência, espantado com a reação.