A reforma ortográfica que, em breve, será posta em prática nos países que falam a língua portuguesa nas suas múltiplas variantes é, quanto a mim, uma desnecessidade e um desperdício de energias.
Ao contrário do que defendem os advogados deste acordo político, o que divide as diversas variantes da nossa língua materna não é, nem nunca foi, a ortografia. Nunca a grafia diferenciada impediu o entendimento dos escritos brasileiros em Portugal ou dos textos portugueses no Brasil ou noutras partes. Temo-nos entendido até agora - e assim continuaríamos, mesmo que não nos impusessem este processo de simplificação (?) da escrita. Quem tenha mínima consciência das várias formas do português falado e escrito sabe que a separação entre elas acontece sobretudo ao nível da pronúncia, do vocabulário e da sintaxe. O que não constitui qualquer problema. É um sintoma de riqueza - que só mentes preguiçosas, amigas da facilidade militante que vai empobrecendo a nossa sociedade, podem rejeitar.
A reforma da ortografia não responde por isto a qualquer necessidade intrínseca. Não partiu de um movimento científico ou cultural de qualquer dos países constituintes da Comunidade de Povos de Língua Portuguesa, mas da mente de alguns políticos e de alguns académicos especialmente preocupados em uniformizar o que nunca poderá ser uniforme e em submeter tudo às "leis do mercado".
Uma pergunta se impõe então no meu espírito. Se não existem neste "acordo" necessidades culturais ou científicas (e muito menos educativas, pois esta reforma pouco alterará no ensino do Português), que propósitos presidiram então à sua elaboração/aprovação? Um amigo meu lembrou-me há dias a frase de um romance policial: "Sigam o cheiro da massinha..." Assim será? Quem ganharia com isso? Entre dúvidas, uma certeza se me impõe: quem esteve/está por detrás disto será tudo, menos ingénuo. |