JOSÉ VERDASCA
José Verdasca dos Santos. 79 anos, licenciado em Ciências Militares pela Academia Militar de Lisboa; em língua e cultura francesas pela Alliance Française; licenciado e pós-graduado em administração/gestão de empresas pela Universidade Mackenzie de São Paulo. Membro do Parlamento Mundial para Segurança e Paz (Itália), de dez academias brasileiras, da Sociedade de Geografia de Lisboa; diretor de relações internacionais das Faculdades Panamericanas e da Associação Alagoana de Imprensa. Condecorado pelo Parlamento de São Paulo com a "Honra ao Mérito" duas vezes e pela Câmara Municipal de São Paulo com "Laurea de Gratidão" além de cerca de vinte outras láureas acadêmicas. Tem oito livros publicados, além de artigos em revistas de cultura, poemas e centenas de outros na imprensa francesa, sul africana, brasileira e portuguesa. Presidente da Ordem Nacional de Escritores (Brasil).
Sarmento Pimentel (IV)

Após o vinte e cinco de Abril, e principalmente depois da tumultuada, irracional, criminosa e indisciplinada revolução que foi o  PREC, comecei a ouvir críticas a Mário Soares, em que o questionavam e até acusavam de “nada ter feito” por Sarmento Pimentel, que todos sabiam alimentava o sonho de representar Portugal no Brasil, o qual – diziam – poderia ter sido concretizado por Soares quando desempenhou as funções de ministro dos negócios estrangeiros. Ignoravam esses críticos que em 1974 Sarmento Pimentel já tinha ultrapassado os oitenta e cinco (85) anos de idade, motivo impeditivo para a sua nomeação como embaixador de Portugal no Brasil, apesar de sua lucidez, de sua vitalidade e de sua perfeita saúde. 

Alguns desses críticos procuraram-me inquirindo se eu poderia fazer alguma coisa, em favor do venerando republicano e democrata, que dedicara a sua longa existência à luta pela democracia em Portugal, que em sua opinião só viu implantada após o 25 de novembro de 1975, porquanto o que até então ocorria na sua terra era tudo menos democracia. Se antes Sarmento Pimentel falava da “Pátria Madrasta”, agora era um crítico menos ácido mas ainda assim contundente, mormente de governos que considerava fracos, aqui incluído o de Mário Soares, que o visitou em São Paulo em 1976, sem qualquer agrado, distinção ou láurea que distinguisse o velho combatente de quase noventa anos. 

Naquela altura eu mantinha permanentes contatos com o governo, particularmente com o meu amigo e distinto militar Mário Firmino Miguel, à época ministro da defesa, mas também com a Presidência da República através do distinto e brilhante oficial do meu curso de entrada na Academia Militar José Pimentel, secretário e ou chefe de gabinete do Presidente Ramalho Eanes; o Presidente, visitando São Paulo em 1978 (salvo erro) aqui condecorou o nobre e antigo refugiado político. Entretanto Sarmento Pimentel – a quem a revolução dos cravos promovera a tenente coronel, quando apagadas figuras o foram a coronel – continuava quase como que “esquecido” pelo novo Poder e ou pela Pátria, que até então não deixou de considerar “madrasta”.  

Muitos diziam e eu sentia ser necessário “fazer alguma coisa”, o que significava tomar uma atitude, que naturalmente só teria resultados na eventualidade de ser obra de quem tivesse alguma projeção, seriedade e credibilidade. Aproveitei uma ida a Lisboa e fui ao Restelo, onde, no antigo edifício do Estado Maior General das Forças Armadas, funcionava o Conselho da Revolução. Procurei pelos oficiais do meu curso da Academia Militar, encontrei o Marcelino e depois o Serra Pinto, de quem me disseram ter sido comandante do Marques Júnior, suponho que nos flechas em Moçambique. E foi ele que se colocou à disposição para me levar ao gabinete desse conselheiro que eu não conhecia. 

Fidalgamente recebido por Marques Júnior, fui direto ao assunto dizendo-lhe pretender a promoção a general do velho capitão, que considerava, naquele momento e dada a sua provecta idade – estava completando noventa anos - a única e apropriada distinção a ser conferida a Sarmento Pimentel. Como se ia iniciar uma reunião do C.R. agradeci ao conselheiro a atenção e interesse manifestado quando em resposta ouvi dele: “Não é ao meu capitão que compete agradecer, mas a mim, porque acaba de me chamar a atenção para aquilo que é um DEVER do Conselho da Revolução”. Marques Júnior era o mais jovem e menos graduado dos membros do conselho, mas eu acabava de constatar que ele era – decerto – um dos mais maduros conselheiros. 

A esta cena seguiram-se as diligências do já então capitão – era tenente no 25 de abril – que “lutou” três ou quatro anos pela promoção a general de Sarmento Pimentel, em virtude de alguns de seus companheiros serem contra essa distinção, apenas e só porque o velho capitão era independente, tinha luz própria, não servia a ideologias alienígenas e jamais se deixara manipular. E de diligência em diligência chegamos às vésperas da extinção do Conselho da Revolução, altura em que enviei uma carta ao seu presidente Ramalho Eanes, na qual renovava o meu apelo e afirmava : “Não sei quem terá mais motivos para orgulhar-se; se o Exército Português em ter Sarmento Pimentel como general, ou Sarmento Pimentel em ser general do Exército Português”. 

E a carta terminava insistindo que essa última reunião do Conselho da Revolução, seria também a última oportunidade para a efetivação de um ato de justiça inadiável, qual fosse a promoção de Sarmento Pimentel a general. Solicitava ainda a Ramalho Eanes que nomeasse Marques Júnior para vir a São Paulo colocar as estrelas nos ombros do grande português. A reunião prolongou-se até o fim da tarde do dia 24 de abril, a promoção foi aprovada, Marques Júnior foi nomeado e saiu à pressa para comprar as estrelas, seguir para o aeroporto e embarcar para o Brasil. E no dia seguinte – 25 de abril – reunimo-nos em casa do novo general onde o Conselheiro da Revolução lhe entregou – ver foto – o estojo com as estrelas do novo posto. Dali foi inaugurar o Centro Cultural 25 de Abril de São Paulo.

 

José Verdasca

 
José Verdasca, Sarmento Pimentel e Marques Júnior, no dia em que o velho "capitão" recebeu as três estrelas de general

Diretório aberto a 19 de dezembro de 2014