ALESSANDRO

ZIR

 

 

Sobre o fio de José Padilha para laçar minotauro

Aqui, ficção e reportagem se desalinham. Mas é isso um filme, ou um épico em sentido mítico? Opta-se pela segunda hipótese, já que foi intencionado a partir de relatos falados, em seguida destruídos enquanto registro. Uma ação canibalizada na imagem, como os tiros cantados (parapapapapapapapapapa) e a batida eletrônica que se solta entre os créditos e flashes do baile funk de abertura. Rap do Dendê. O click do gatilho que abre a porta do apartamento onde a esposa espera grávida. Vertigem de câmera olho, míope, conjuntiva.

O off narrativo não pesa nem mesmo nos clichês (é um equilíbrio instável que pode ser abalado pela menor das brisas, e naquela sexta-feira ventou forte no Babilônia). Não é explicativo, nem justificador, mas condutor. Um dedo apontado em riste que volta cíclico no início e metade (não vai subir ninguém, não vai subir ninguém). Beber água mineral em porta da geladeira. O espectador apanha desse riste como a mulher a quem se grita: quem manda aqui sou eu, a nossa farda não é azul é preta, faca na caveira. Dentro e fora do off, atores menos canastrões não seriam mais exatos ao imprimir o tom cafajeste dos caramba, rapidão, e princesa ditos em celular.

Nada disso é contradito pelo cômico do nome tropa de elite, detonado mais forte no rock bem humorado da banda Tihuana. O quê de entretenimento não é menos o que permite a quem assiste uma participação cativa, de seriado de TV. E ele não esvazia a seriedade heróico-fanática com que o capitão Nascimento se entrega à missão. O capitão Nascimento, cuja cabeça não está num mundo ideal.  Não sabe senão como termina a história do baiano. E o que um Matias precisa aprender passa ao largo das salas de aula das melhores faculdades de direito do Rio de Janeiro. Nem o papa percebeu. A boa intenção não é o que conta, exceto para estudantes legais ou menininhas bonitas. Quem é que não tem consciência social, quer dizer, pena de criança pobre?

A diferença está em quando o meu filho vai nascer. Tanto quanto porque eu sinto isso mais que qualquer um, e principalmente porque não se trata de algo genérico que todo mundo sente. A veracidade dos valores não advém deles serem individualistas ou machistas, mas do quanto são concretamente engendrados. De fora e em mim, por fidelidade à narrativa. Nela, abuso de autoridade e tortura não têm legitimidade maior do que esse face a face apertado. Eu vim aqui pra pedir o direito de poder enterrar o meu filho. Mais adiante, em tom rodriguiano: deve ser foda não poder enterrar o filho.

A maior sacada é a de que nem essa legitimidade mínima de asfixia pode ser conferida ao que não segue o desfoque intensivo da câmera que participa – o eu faço questão de pagar, sem arrego. A náusea de vômito do fazer rir. Diante do que conecta Nascimento e Neto, intelectual de ONG ou rico com consciência social não faz mais do que jogar defunto na área dos outros, guerra da carne, melhor quanto. Eu só vou dizer se você me prometer que não vão fazer mal pra ela. Alôô?  Só tem dignidade os que se fizeram bem vindos, inicialmente não sendo.E a estupidezde decorar o termo estratégia em cerca de 7 idiomas tem o peso de segurar uma granada aberta sem poder dormir. É o que dá sentido ao sono do papa ou pegar o baiano, mesmo quando não é certo, mas se sabe ao certo que certo não é.