SERPENTES
DO ULTRAMAR PORTUGUÊS

Reprodução de aguarelas do pintor
Silva Lino
Anotações de
Fernando Frade & Sara Manaças

 

 

 

 

 


Lisboa, Garcia de Orta
Vol. III (4), 1955
Ministério do Ultramar

Cobra-papa-ovos - Dasypeltis scaber
(Família Colubridae - Aglypha)

CARACTERÍSTICAS - Serpente relativamente pequena (comprimento: em geral, 60 a 70 cm, e, por vezes, até 1 m), de corpo mais ou menos deprimido, com escamas carenadas, cabeça pequena, pescoço pouco distinto e cauda delgada, muito longa. Olhos grandes, com pupila vertical. Coloração variável, predominando as tonalidades amarelas na face ventral e castanhas na dorsal, onde em regra se destacam manchas mais escuras, as mais anteriores em V aberto para trás, o desenho da «Víbora do Cabo», Causus rhombeatus.

DENTES E VENENO - Dentadura agllfodonte, constituída apenas por dentes pequenos: 5 na maxila superior e 4 na inferior. Veneno inoperante, por falta de dentes inoculadores.

COSTUMES E REPRODUÇÃO - Frequenta os ninhos das aves, nas regiões de savana, à procura de ovos para seu alimento, tanto no solo como nas árvores. Por fricção mútua das escamas carenadas das regiões em contacto, resulta um ruído característico. Reprodução por oviparidade.

ALIMENTO - Exclusivamente ovos de Aves. Estes são engolidos inteiros, mas perfurados na passagem pelo esófago, graças à presença das extremidades odontóides de apófises cervicais, sendo apenas aproveitado o conteúdo e expelida a casca pela boca.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA - Nas regiões prlicipalmente de savana. Desde o Egipto à Guiné superior e ao Cabo. Encontra-se, com certa frequência, na Guiné, em Angola e Moçambique.

 
Cobra-de-papo - Dispholidus typus Smith
(Família Colubridae - Opisthoglypha)

CARACTERISTICAS - Serpente robusta e alongada (comprimento: até 175 cm), coberta de escamas carenadas, com a cabeça relativamente curta e a cauda comprida.

Olhos grandes, com pupila redonda. Coloração variando desde o verde ao castanho e ao negro, por cima, e do cinzento ao amarelo, por baixo, com as escamas rebordadas de preto. Eventualmente, confundível com outra serpente verde, também arborícola mas inofensiva: Philothamnus irregularis.

DENTES E VENENO - Dentadura opistogllfodonte, constituída por dentes sulcados, situados na parte anterior do maxilar e precedidos de dentes normais.

Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, precedidas de perfurações menores, o conjunto envolvendo duas séries de picadas finas que correspondem aos dentes palatino-pterlgóldes. Veneno altamente tóxico, hemorrágico, comparável ao das «cobras cascavel» da América.

COSTUMES E REPRODUÇÃO - Espécie arborícola, muito á.gil e tímida. Quando excitada insufla de ar os brônquios e os pulmões, aumentando consideràvelmente de volume, por vezes, em forma de papo, a parte anterior do corpo, reacção que deve servir de aviso, antes da agressão. Reprodução de Outubro a Dezembro, por oviparidade (uma a duas dúzias de ovos).

ALIMENTO - Principalmente Camaleões, outros Sáurios, Aves e ovos, e mesmo indivíduos da sua própria espécie.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA - África Tropical e Meridional. Na África Portuguesa tem sido encontrada na Guiné, em Angola e Moçambique.

 
Cobra-do-mar - Pelamys platurus (Linné)
(Família Hydrophydae - Proteroglypha)

CARACTERÍSTICAS - Serpente alongada (comprimento: até 70 cm), comprimida lateralmente, com a cauda ainda mais achatada, curta e remiforme; revestimento de escamas uniforme, sem distinção de placas ventrais. Narinas valvuladas.

Olhos pequenos, com pupila redonda. Coloração dorsal escura, negra ou esverdeada, sem gradação para o amarelo-claro da face ventral; cauda amarelada com grandes manchas.

DENTES E VENENO - Dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, com situação anterior no maxilar, não retroversáteis, seguidos de 7-8 dentes normais. Sinais da mordedura: dois pares de perfurações inoculadoras, seguidas de algumas finas picadas, ladeando duas filas de picadas das séries dentárias palatino-pterigóides. Veneno mortal, neurotóxico, semelhante ao das «cobras de capelo», mas com menor acção local.

COSTUMES E REPRODUÇÃO - Vive em geral nas águas marítimas costeiras, ficando frequentemente retida em poços, entre os rochedos, na baixa-mar, por isso confundida, às vezes, com enguia ou moreia, o que é causa de acidentes graves. Reprodução por oviparidade.

ALlMENTO - Peixes, principalmente.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA - Águas tropicais dos oceanos Índico e Pacífico.

 

Cobra-cuspideira - Naja nigricollis Reinhardt
(Família Elapidae - Proteroglypha)

CARACTERlSTICAS - Serpente muito robusta, alongada (comprimento: até 220 cm), de cauda comprida, podendo alargar o pescoço, em «capelo», sob a acção das costelas cervicais. Olhos com pupila redonda. Coloração geral variável: por cima negra, castanha ou olivácea e, por baixo, negra com ou sem faixas transversais amareladas ou róseas.

DENTES E. VENENO - Dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis, mas não retroversáteis e situando-se na parte anterior do maxilar, sem outros dentes neste osso. Sinais da mordedura: dois pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando duas filas de picadas, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides. A configuração do sulco dentário e a sua abertura permitem o lançamento do veneno a distância considerável. Veneno mortal, altamente neurotóxico. Quando projectado e atingindo os olhos, produz ulcerações graves.

COSTUMES E REPRODUÇÃO - Habita as regiões de savana de preferência às de fioresta, manifestando maior actividade nocturna. É muito perigosa pela sua agressividade, a qual se manifesta, primeiro, pelo erguer da cabeça e parte anterior do corpo, com expansão do «capelo», seguido ou não de lançamento do veneno à distância de alguns metros e, depois, pela perseguição e ataque violento. Reprodução por oviparidade.

ALIMENTO - Principalmente Batráquios.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA - África Intertropical, desde a Mauritânia ao Natal. Encontra-se na Guiné Portuguesa, em Angola e Moçambique, donde foi descrita a var. mossambica.

Mamba-verde - Dendroaspis viridis Hallowvell
(Família Elapidae -
Proteroglypha)

CARACTERÍSTICAS - Serpente longa (comprimento: até 210 cm) e relativamente delgada, com a cabeça estreita, pescoço pouco distinto e cauda comprida, atilada. Olhos pequenos, com pupila redonda. Coloração verde-olivácea, por cima, e amarelada ou esverdeada na face ventral, com escamas e placas finamente debruadas de negro.

DENTES E VENENO - Dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis mas não retrovertíveis, na parte anterior do maxilar, sem precedência de outros dentes. Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando o extremo anterior de duas linhas de perfurações, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides. Veneno mortal, neuro-tóxico.

COSTUMES E REPRODUÇÃO - Espécie arborícola, frequentando plantações de palmeiras, bananeiras, etc., muito agressiva, especialmente na época da reprodução, e, por isso, temida pelos nativos, que chegam a ser perseguidos. Reprodução por oviparidade.

ALIMENTO - Aves e pequenos roedores.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA - Desde o Senegal até à Costa do Marfim. Encontra-se com relatíva frequência na Guiné Portuguesa. Em São Tomé foi coligida por A. Moller (1885), mas não tornou a ser assinalada, nem encontrada durante as pesquisas recentes da Missão Científica. Em Angola, encontram-se as espécies D. jamesoni e D. angusticeps, ao passo que em Moçambique existe apenas esta últíma.

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