Herberto Helder e Nelson Ned, o cantor sentimental

MARIA ESTELA GUEDES
Dir. do TriploV, especialista em Herberto Helder


Finalmente, vejo, de Herberto Helder, a crónica publicada em Luanda, no ou na Notícia, sobre Nelson Ned. Já na altura da publicação do meu livro A obra ao rubro de Herberto Helder, Eduardo Guimarães, que para ele entrevistei, pois acompanhou Herberto Helder em Angola como repórter fotográfico, me alertara para a falta de referência a esse texto. Alertou-me porque fiz um levantamento dos textos publicados por HH e seus pseudónimos na revista, são cerca de duzentos, mas a minha pesquisa, na Hemeroteca e na Biblioteca Nacional, não foi perfeita nem podia ser. Soube em Março, no colóquio Photomatica & Voltaica, por Daniel Rodrigues, que fez doutoramento sobre HH, qua as coleções não estão completas. E não é só isso, o facto de os números da revista não poderem ser consultados um a um, só enjaulados em grupos de 10, não permite ver a zona central da revista.

Enfim, nada disto é importante, importante foi o facto de me ter aparecido a notícia, na Internet, de que HH notara – na minha lista? – a falta de duas crónias, e realmente faltam, uma sobre futebol e outra era esta, a crónica sobre o cantor sentimental, aquele que, diz Ed Guimarães, Herberto se preparava para trucidar, mas que voltara atrás nos maléficos desígnios, ao saber que Nelson Ned tinha a seu cargo uma família numerosa em que se contavam filhos vários.

Não li, não li nada do livro exceto a discreta introdução de Daniel Oliveira, filho de Herberto Helder. Fico satisfeita por a família ter tomado a seu cargo a publicação destes textos, já que a academia, devendo ter tido esse cuidado, não lhes prestou atenção. Mas vai lucrar agora com o trabalho alheio, pois não é minúsculo o baú de novos textos de Herberto Helder que aparecem em cena, com a enorme vantagem de serem quase radicalmente distintos da sua obra maiúscula, a literária. Mestrandos e doutorandos, este livro é um presente valioso para vós!

Não li, repito, a maioria dos textos já os conhecia, mas agora trazem encadernação séria, capa dura, parece até serem mais herbertianos do que as fotocópias de textos borrados e cortados de que me tenho servido. Na próxima ocasião solene pegarei na obra com outro olhar, por agora basta manifestar o meu contentamento pela sua saída.

Herberto Helder, »Em minúsculas», Lisboa, Porto Editora, 2018