Respício Nuno

Poemas

Un karta

Islentisimu siñor
suma i na falta
seti noti pa lun’a muri
N na falau, kau disabidu

Ma suma tambi kunkulun
di bumbulun ka obidu
iar difuntu ka susega nan

N na falau tambi
noba di ba ñu
rapian kurpu...
N pudi ka bin masa filidjamba
na kil nfernu njitadu
i ta kontra i janfa son

Islentisimu siñor
suma i falta un tchuba
pa turbada diskubrinu ntudju
N na tistimuña ba ñu:
kau pretu nok!!

Pa kabanta
N na falau son un kusa:
no ka sedu kanua kontra mare!

Uma carta
Tradução de Hildo Honório do Couto

Excelentíssimo senhor
como faltam sete noites
para a lua se pôr
eu lhe digo que a coisa não está nada bem

Mas como a enxurrada
de bombolons não é ouvida
por outro lado os difuntos não sossegam

Digo-lhe ainda
as novidades de vossa excelência
fazem meu corpo arrepiar
não posso deixar de amassar filijamba
naquele inferno rejeitado
só se encontra coisa ruim

Excelentíssimo senhor
como falta uma chuva
para a tempestade descobrir nossos entulhos
eu testemunho perante vossa excelência:
a coisa está preta!!

Para terminar só digo mais uma coisa:
nós não somos canoa contra a maré!

Respício Nuno Marcelino Silva (Respício Nuno) trabalhou com o programa de rádio Tchon Tchoma, juntamente com Félix Sigá e Sunkar Dabá. Foi na rádio que começou a divulgar sua produção poética, nos programas Biufo e Bambaran di Padida, de 1978 a 1983. Uma novela de sua lavra foi apresentada de forma seriada em um de seus programas. Essa seria uma das primeiras, se não a primeira manifestação de textos de ficção escritos em crioulo, mesmo que não tenha sido publicada. Tem também revistas em quadrinhos, que foram publicadas durante as eleições na Guiné (1994), além da melodia e da letra da canção “Bo bai pubis”. Há a informação de que tem contos inéditos escritos em crioulo, no que seria também pioneiro, pois, como sabemos, as únicas manifestações em prosa em crioulo são os contos tradicionais (storias) transcritos e publicados. No que tange a sua produção poética em crioulo, Respício Nuno não tem muita coisa publicada. Ele não aparece em nenhuma das antologias anteriores a Kebur (1996), na qual está presente com oito poemas. Um deles é “Un karta” (uma carta).

In: Hildo Honório do Couto, A poesia crioula bissau-guineense. Papia 18, 2008, pp. 83-100.

Poesia no Didinho
http://www.didinho.org/poesia.htm

 

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