Gravura a fogo

MARIA ESTELA GUEDES
(Dir. Triplov)
Foto: Maria do Céu Costa


Carlos Batista

CARLOS ALBERTO COUTINHO BATISTA, nasceu em 1950 na Granja do Tedo, concelho de Tabuaço.
Exerceu toda a sua atividade profissional na área dos Recursos Humanos.
Já reformado, decide materializar um sonho adiado e ensaia as vertentes do engenho e da arte que sempre o apaixonaram.
Experimenta desenhar com o fogo – a PIROGRAVURA; inicia com imagens de edifícios que fizeram ou fazem parte das suas memórias e evolui para a reprodução de rostos, paisagens, logotipos, sinalética, avançando com a criação de trabalhos diversificados, incluindo surrealismo.
Testa o artesanato, a escultura em pedra e madeira e dá continuidade ao desenho a grafite que, desde pequeno, gosta de executar.
Artista?   Não! Apenas alguém que, desprovido de formação específica, com amor e paixão faz algo de que gosta e, continuamente, aprende e evolui com o insucesso de uma ou outra tentativa.
Instado por amigos, expõe trabalhos seus, pela primeira vez em público, em Agosto de 2018.

Carlos Batista


Na sala de aulas da ASSUS, São Mamede de Infesta, figura uma exposição de Carlos Batista que me despertou curiosidade, não só pela perícia do gravador,  a segurança do seu traço na madeira, e sua dedicação a técnicas em vias de desaparecimento,  que merecem ser mostradas aos artistas plásticos mais jovens, como pelo contexto em que a exposição se insere.

A pirogravura é uma arte que conheci através de Carlos de Oliveira, em especial do seu último romance, «Finisterra – Paisagem e Povoamento». Quem já leu este grande escritor português, há de ter reparado que, frequentemente, ele descreve e apresenta paisagens e personagens através de um filtro e não diretamente, como se tivesse os modelos em frente dele: o mundo é visto por detrás da vidraça ou da cortina de uma janela, observado ao microscópio, numa fotografia, em quadros pendurados na parede de uma casa senhorial, etc.. Em «Finisterra», uma das personagens dedica-se à pirogravura, para a qual transporta, como assunto da obra, paisagens e recordações. A pirogravura é assim um dos filtros que servem a Carlos de Oliveira para mostrar as realidades físicas referidas no romance. De outra parte, e encerramos aqui a recordação própria do romance deste escritor, a pirogravura é desenho a fogo, e o fogo é um dos elementos poéticos dominantes de toda a sua obra.

Em nada se relaciona o pintor da gândara – quase única região geográfica patente na obra de Carlos de Oliveira – com o gravador da Granja do Tedo, Carlos Batista, salvo que o escritor também pintava. E aqui mora o segundo motor do meu interesse na mostra de pirogravuras patente na ASSUS: a Granja do Tedo, no concelho de Tabuaço, hoje uma linda aldeia recuperada, disposta nas duas margens do rio Tedo, faz parte das minhas memórias mais literárias, mais míticas, de um lado por ser um dos pontos centrais da rota de Ardinga, princesa moura que foge do castelo de Lamego para ir em demanda de D. Tedon, um cavaleiro cristão por quem se apaixonara ao ouvir o relato das suas façanhas guerreiras, de outro lado por ser sede de um misterioso e duplo caso policial de uma seita algo sinistra que ali se desenvolveu, em torno de mulheres de algum escândalo, uma delas a famosa Maria Coroada, outra a mulher-homem. O caso, multifacetado, ocupou os jornais da época e até Camilo Castelo Branco o relatou.

Carlos Batista desenha a fogo pessoas, lugares e as típicas casas de varanda de madeira do Norte que identificam a Granja do Tedo, tomando também por assunto motivos típicos da zona duriense, como as imagens ilustram.

Foi uma agradável surpresa esta exposição da ASSUS na sala de aula onde vou aperfeiçoando os meus conhecimentos de Informática.

 


carlos batista