Génesis (3)

Segundo a Bíblia dos Capuchinhos

ÍNDICE: Capítulos 1 a 10Cap. 11 a 20Cap. 21 a 33Cap. 34 a 40Cap. 41 a 50.


Gn 21

Nascimento de Isaac1O SENHOR visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. 2Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho.
3Ao filho que lhe nascera de Sara, deu Abraão o nome de Isaac. 4Abraão circuncidou seu filho Isaac oito dias após o nascimento, como Deus lhe ordenara. 5Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho. 6Sara disse: «Deus concedeu-me uma alegria, e todos quantos o souberem, alegrar-se-ão comigo.» 7Ela acrescentou: «Quem poderia dizer a Abraão que Sara amamentaria filhos? No entanto, dei um filho à sua velhice.»
Expulsão de Ismael e de Agar8O filho cresceu até à idade em que deixou de mamar, e nesse dia Abraão ofereceu um grande banquete. 9Sara viu que o filho que a egípcia Agar dera a Abraão estava a brincar. 10E ela disse a Abraão: «Expulsa esta escrava e o filho, porque o filho desta escrava não herdará com o meu filho Isaac.»

11Esta frase desgostou profundamente Abraão, por causa de Ismael, seu filho. 12Mas Deus disse-lhe: «Não te preocupes com a criança e com a tua escrava. Faz tudo quanto Sara te pedir, pois de Isaac há-de nascer a descendência que usará o teu nome. 13Contudo, farei sair também uma nação do filho da escrava, porque também ele é teu filho.»

14No dia seguinte de manhã, Abraão tomou pão e um odre de água, deu-o a Agar e pô-lo sobre os ombros dela; depois, mandou-a embora com o seu filho. Ela partiu e, embrenhando-se no deserto de Bercheba, por lá andou ao acaso. 15Tendo-se acabado a água do odre, deixou o filho debaixo de um arbusto 16e foi sentar-se do lado oposto, à distância de um tiro de arco, porque dizia: «Não quero ver o meu filho morrer.» Sentou-se, pois, do lado oposto e começou a chorar. 17Deus escutou a voz do menino, e o mensageiro de Deus chamou do céu Agar e disse-lhe:

«Que tens tu, Agar? Nada temas, porque Deus ouviu a voz do menino, do lugar em que está. 18Ergue-te, vai buscar outra vez o teu filho, toma-o pela mão, pois farei nascer dele um grande povo.»

19Deus abriu-lhe os olhos e ela viu um poço onde foi encher o odre e deu de beber ao filho.

20Deus protegeu o menino. Ele cresceu, residiu no deserto e tornou–se um hábil arqueiro. 21Permaneceu no deserto de Paran e a mãe escolheu para ele uma mulher oriunda do Egipto.

Abraão e Abimélec em Bercheba22Por aquele tempo, Abimélec, acompanhado por Picol, chefe do seu exército, disse a Abraão: «Deus está contigo em tudo quanto fazes. 23Jura-me, então, por Deus, que nunca me atraiçoarás nem aos meus filhos, nem aos meus netos e que usarás comigo e para com a terra onde tens vivido da mesma benevolência que tive para contigo.» 24Abraão respondeu: «Juro.»

25Todavia, Abraão apresentou reclamações a Abimélec a respeito de um poço, de que os servos de Abimélec se tinham apoderado. 26Abimélec respondeu: «Ignoro quem fez isso, tu nunca me disseste coisa alguma sobre o assunto, e só hoje ouvi falar dele.»

27Então, Abraão tomou ovelhas e bois e ofereceu-as a Abimélec, e estabeleceram uma aliança entre os dois. 28Abraão separou sete cordeiros do rebanho. 29Perguntou-lhe Abimélec: «Que significam estes sete cordeiros, que puseste de parte?» 30Abraão respondeu: «Aceitarás da minha mão estes sete cordeiros, como testemunhas de ter sido eu quem abriu este poço.»

31Por isso, chamaram Bercheba àquele lugar. Com efeito, os dois prestaram ali juramento um ao outro, 32estabelecendo, assim, aliança em Bercheba. Depois, Abimélec e Picol, chefe do seu exército, voltaram para a terra dos filisteus. 33Abraão plantou uma tamareira em Bercheba e lá invocou o SENHOR, Deus eterno. 34Abraão viveu durante muito tempo na terra dos filisteus.


Gn 22

Sacrifício de Isaac (Jz 11,29-40) – 1Após estas ocorrências, Deus pôs Abraão à prova e chamou-o: «Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou.» 2Deus disse: «Pega no teu filho, no teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar.»

3No dia seguinte de manhã, Abraão aparelhou o jumento, tomou consigo dois servos e o seu filho Isaac, partiu lenha para o holocausto e pôs-se a caminho para o lugar que Deus lhe tinha indicado. 4Ao terceiro dia, erguendo os olhos, viu à distância aquele lugar. 5Disse então aos servos: «Ficai aqui com o jumento; eu e o menino vamos até além, para adorarmos; depois, voltaremos para junto de vós.»

6Abraão apanhou a lenha destinada ao holocausto, entregou-a ao seu filho Isaac e, levando na mão o fogo e o cutelo, seguiram os dois juntos. 7Isaac disse a Abraão, seu pai: «Meu pai!» E ele respondeu: «Que queres, meu filho?» Isaac prosseguiu: «Levamos fogo e lenha, mas onde está a vítima para o holocausto?» 8Abraão respondeu: «Deus proverá quanto à vítima para o holocausto, meu filho.» E os dois prosseguiram juntos.

9Chegados ao sítio que Deus indicara, Abraão construiu um altar, dispôs a lenha, atou Isaac, seu filho, e colocou-o sobre o altar, por cima da lenha. 10Depois, estendendo a mão, agarrou no cutelo, para degolar o filho. 11Mas o mensageiro do SENHOR gritou-lhe do céu: «Abraão! Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou.» 12O mensageiro disse: «Não levantes a tua mão sobre o menino e não lhe faças mal algum, porque sei agora que, na verdade, temes a Deus, visto não me teres recusado o teu único filho.» 13Erguendo Abraão os olhos, viu então um carneiro preso pelos chifres a um silvado. Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em substituição do seu filho. 14Abraão chamou a este lugar: «O SENHOR providenciará»; e dele ainda hoje se diz: «Na montanha, o SENHOR providenciará.»

15O mensageiro do SENHOR chamou Abraão do céu, pela segunda vez, 16e disse-lhe:

«Juro por mim mesmo, declara o SENHOR,
que, por teres procedido dessa forma
e por não me teres recusado o teu filho, o teu único filho,
17abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência
como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar.
Os teus descendentes apoderar-se-ão das cidades dos seus inimigos.
18E todas as nações da Terra se sentirão abençoadas na tua descendência,
porque obedeceste à minha voz.»

19Abraão voltou para junto dos servos, e regressaram juntos a Bercheba, onde Abraão fixou residência.

Nascimento de Rebeca20Decorridos estes factos, foram dizer a Abraão: «Milca também deu filhos a Naor, teu irmão. 21Uce é o primogénito, Buz, seu irmão, Quemuel, pai de Aram, 22Quéssed, Hazô, Pildás, Jidlaf e Betuel.»

23Betuel foi o pai de Rebeca. São esses os oito filhos que Milca deu a Naor, irmão de Abraão. 24A sua concubina, chamada Reúma, também deu à luz Teba, Gaam, Taás e Maacá.


Gn 23

Compra de uma gruta sepulcral (47,27-31; 50,7-14) – 1Sara viveu cento e vinte e sete anos. Foi esta a duração da sua vida. 2Morreu em Quiriat-Arbá, a actual Hebron, na terra de Canaã. Abraão foi lá para fazer o funeral de Sara e para a chorar. 3Retirando-se da presença da sua morta, Abraão falou assim aos hititas: 4«Sou estrangeiro e hóspede entre vós; permiti que eu adquira, como propriedade minha, um sepulcro na vossa terra, para que eu possa tirar a minha morta de diante de mim e sepultá-la.»

5Os hititas responderam a Abraão: 6«Escuta-nos, senhor: tu és um príncipe divino entre nós. Sepulta a tua morta no melhor dos nossos sepulcros. Nenhum de nós poderá recusar-te o seu sepulcro, para nele depositares a tua morta.» 7Abraão avançou e, prostrando-se perante o povo daquela terra, os hititas, 8disse-lhes: «Se achais bem que tire de diante de mim a minha morta e lhe dê sepultura, escutai-me e intercedei por mim junto de Efron, filho de Soar, 9para que ele me ceda, por seu justo preço, a caverna de Macpela, que lhe pertence e está situada no extremo da sua propriedade, de modo que eu seja o dono do sepulcro.» 10Ora Efron estava sentado entre os hititas. E Efron, o hitita, respondeu a Abraão, na presença dos hititas e de todos aqueles que entravam pela porta da sua cidade: 11«Não, meu senhor! Ouve-me. Dou-te a terra e a caverna que nela existe. Ofereço-tas, em presença dos filhos do meu povo; enterra a tua morta.» 12Abraão prostrou-se diante do povo do país 13e, dirigindo-se a Efron, de modo a ser por todos ouvido, disse-lhe: «Rogo-te que me escutes. Dar-te-ei o preço do terreno, aceita-o e, então, sepultarei a minha morta.» 14Efron respondeu a Abraão: 15«Meu senhor, ouve-me. Que representa para mim e para ti um terreno cujo valor é de quatrocentos siclos de prata? Enterra a tua morta.» 16Abraão aceitou as condições de Efron, e pesou-lhe diante dos hititas a prata por ele mencionada, quer dizer, quatrocentos siclos de prata em moeda corrente.

17O terreno de Efron, situado em Macpela, em frente de Mambré, o terreno e a caverna nele existente e todas as árvores que cresciam em redor, dentro dos limites deste terreno, 18tornaram-se, assim, propriedade de Abraão, diante dos hititas e de toda a gente que entrava pela porta da cidade.

19Depois, Abraão enterrou Sara, sua mulher, na caverna de Macpela, em frente de Mambré, isto é, em Hebron, na terra de Canaã. 20O terreno e a caverna nele situada passaram dos hititas para a posse de Abraão, como propriedade tumular.


Gn 24

B – CICLO DE ISAAC (24,1-27,46)

Casamento de Isaac (28,1-10; 29,1-20) – 1Abraão estava velho, tinha uma idade já avançada, e o SENHOR abençoara-o em tudo.

2Abraão disse ao mais antigo servo da casa, aquele que administrava todos os seus bens: «Coloca a tua mão sob a minha coxa. 3Quero que jures pelo SENHOR, Deus do céu e da terra, que não escolherás para o meu filho uma mulher entre as filhas dos cananeus, no meio dos quais resido; 4mas irás à minha terra, à minha família, e nela escolherás mulher para o meu filho Isaac.» 5O servo respondeu: «E se a mulher não quiser vir comigo para esta terra, levarei então o teu filho para a terra de onde ela é natural?» 6Abraão disse-lhe: «Livra-te de levar para lá o meu filho! 7O SENHOR, Deus do céu, que me tirou da casa de meu pai e da minha pátria, falou-me e jurou-me que daria esta terra à minha descendência; Ele enviará o seu mensageiro diante de ti, e trarás de lá uma mulher para o meu filho. 8Se ela não quiser seguir-te, ficarás desligado do juramento que te impus, mas de modo algum voltarás com meu filho, outra vez, para lá.» 9O servo colocou a mão sob a coxa de Abraão, seu amo, e jurou o que este lhe ordenara.

10O servo preparou dez camelos do seu amo e partiu, levando consigo inúmeros e valiosos presentes, da parte de Abraão. Tomou o caminho da Mesopotâmia e foi para a cidade de Naor. 11Fez ajoelhar os camelos para descansarem, fora da cidade, junto de um poço, já de tarde, quando as mulheres saíam para buscar água.

12E ele disse: «SENHOR, Deus de Abraão, meu amo, fazei que eu encontre hoje o que pretendo, e manifestai a vossa bondade para com o meu amo Abraão. 13Vou colocar-me junto da fonte, pois as jovens da cidade vão sair para vir buscar água. 14Aquela jovem a quem eu disser: ‘Inclina, por favor, o teu cântaro, para eu beber’, e me responder: ‘Bebe e darei também de beber aos teus camelos’ – essa seja a que destinaste ao teu servo Isaac. E assim ficarei a saber que manifestas a tua bondade ao meu senhor.»

Rebeca na fonte15Não acabara ainda de falar, quando Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, apareceu com o cântaro ao ombro. 16A jovem era muito bela e virgem, pois homem algum a tinha conhecido. Ela desceu à fonte, encheu o cântaro e subiu.

17O servo correu ao encontro dela e disse-lhe: «Deixa-me, por favor, beber um pouco de água do teu cântaro.» Ela respondeu: 18«Bebe, meu senhor.» E logo inclinou o cântaro sobre a mão e deu-lhe de beber. 19Depois de ter bebido, ela disse: «Vou também buscar água para os teus camelos, até que tenham bebido o que quiserem.» 20Imediatamente despejou o cântaro no bebedoiro e correu de novo à fonte a buscar água para todos os camelos. 21O homem observava-a em silêncio, para saber se o SENHOR teria ou não conduzido a bom termo a sua viagem. 22Quando os camelos acabaram de beber, o homem tirou um anel de ouro com meio siclo de peso e duas pulseiras que pesavam dez siclos 23e disse à jovem: «De quem és filha? Peço-te que mo digas. Haverá lugar para nós passarmos a noite em casa do teu pai?» 24Ela respondeu: «Sou filha de Betuel, o filho que Milca deu a Naor.» 25E acrescentou: «Em nossa casa há palha e muito feno, para alimentação do gado, e também lugar para pernoitar.»

26Então o homem inclinou-se e, prostrando-se diante do SENHOR, 27exclamou: «Bendito seja o SENHOR, Deus de Abraão, meu amo, que não deixou de ser bondoso e fiel para com o meu amo e me conduziu, a mim, directamente à casa dos parentes do meu senhor.» 28A jovem correu e foi contar, em casa de sua mãe, o que se acabava de passar.

29Rebeca tinha um irmão chamado Labão, que se apressou a ir ao poço, em busca do homem. 30Ele tinha visto o anel e as pulseiras nas mãos da irmã e ouvira Rebeca a dizer: «Assim me falou o homem.»

Foi ter, pois, com o estrangeiro e encontrou-o junto dos camelos, na fonte. 31E disse-lhe: «Vem, bendito do SENHOR; porque estás aqui fora? Eu já preparei a casa e um lugar para os camelos.»

Missão cumprida32O homem entrou em casa. Labão mandou descarregar os camelos, deu palha e feno aos animais, e água para lavar os pés do homem e daqueles que o acompanhavam. 33Depois, serviram-lhe de comer. Ele, porém, disse: «Não comerei nada antes de dizer o que tenho a dizer.» Labão disse: «Fala.»

34Ele disse: «Sou servo de Abraão. 35O SENHOR cumulou o meu amo de bênçãos e tornou-o poderoso. Deu-lhe ovelhas e bois, prata e ouro, servos e servas, camelos e jumentos. 36Sara, mulher do meu amo, apesar da sua velhice, deu-lhe um filho, ao qual ele deu todos os seus bens. 37Então, o meu senhor fez-me jurar que eu não escolheria para o filho uma mulher entre as filhas dos cananeus, em cujo país reside, 38mas sim, que iria a casa do pai e, na sua família, escolheria mulher para o filho. 39Eu disse-lhe: ‘E se a mulher não quiser vir comigo?’ 40Ele respondeu-me: ‘O SENHOR, na presença de quem tenho sempre caminhado, enviará o seu mensageiro contigo, para que a tua viagem alcance o fim desejado. Escolherás para o meu filho uma mulher da minha família, da casa de meu pai. 41Só ficarás desligado do juramento que me fizeste se, depois de chegares junto dos meus parentes, eles se opuserem a conceder-ta.’

42Mas, ao chegar hoje à fonte, eu disse: ‘SENHOR, Deus do meu amo Abraão, se te dignares permitir que a viagem por mim empreendida seja coroada de êxito, 43vou colocar-me junto da fonte, e a jovem que sair para vir buscar água e a quem eu disser: ‘Por favor, deixa-me beber um pouco da água do teu cântaro’, 44e me responder: ‘Bebe, e vou também buscar água para os camelos’, essa é a mulher que o SENHOR destinou ao filho do meu amo.’

45Não tinha acabado de dizer isto comigo mesmo, quando Rebeca saiu com o cântaro ao ombro e desceu à fonte para buscar água. Disse-lhe: ‘Dá-me de beber, por favor.’ 46Ela inclinou o cântaro no ombro e disse-me: ‘Bebe, e também darei de beber aos camelos.’ Eu bebi, e ela deu de beber aos camelos. 47Depois, perguntei-lhe de quem era filha. Ela respondeu-me: ‘Sou filha de Betuel, o filho de Naor, e de Milca.’ Então, coloquei-lhe o anel no nariz e as pulseiras nos braços. 48Depois, ajoelhei-me, prostrei-me diante do SENHOR; e louvei o SENHOR, o Deus do meu amo Abraão, que me conduziu directamente ao lugar onde podia encontrar a filha do irmão do meu amo, para mulher do seu filho. 49Agora, se desejais mostrar ao meu amo a vossa afeição e fidelidade, dizei-mo; se, porém, decidis o contrário, dizei-mo também, para que eu saiba que caminho devo tomar.»

50Labão e Betuel responderam, dizendo: «É do SENHOR que tudo isto vem. Nós não podemos dizer-te nem bem nem mal. 51Aqui está Rebeca; toma-a e parte, e que ela seja a mulher do filho do teu amo, como o SENHOR disse.» 52Ao ouvir tais palavras, o servo de Abraão prostrou-se por terra diante do SENHOR. 53Tirando, seguidamente, os objectos de prata, os objectos de ouro e vestuário, ofereceu-os a Rebeca. Ofereceu também ricos presentes ao seu irmão e à sua mãe. 54Depois, comeram e beberam, ele e os seus companheiros, e pernoitaram.

No dia seguinte, quando se ergueram, o servo disse: «Permiti que regresse à casa do meu amo.» 55O irmão e a mãe de Rebeca responderam: «Que a jovem fique connosco ainda alguns dias, uns dez, e depois partirá.»

56Ele replicou: «Não me façais demorar e, como o SENHOR coroou de sucesso a minha viagem, deixai-me partir e voltar para a casa do meu amo.» 57Eles disseram: «Chamemos a jovem e perguntemos-lhe o que pensa ela.» 58Chamaram Rebeca e perguntaram-lhe: «Queres partir com este homem?» Ela respondeu: «Sim.»

59Deixaram então partir Rebeca, sua irmã, e a sua ama, com o servo de Abraão e os seus homens. 60E abençoaram-na dizendo:

«Tu és nossa irmã!
Possas tu vir a ser mãe de milhares de milhares!
Que a tua descendência se apodere das cidades dos seus inimigos!»

61Rebeca e as suas servas levantaram-se, subiram para os camelos e seguiram o homem. E o servo que conduzia Rebeca pôs-se a caminho.

Encontro com Isaac62Ao cair da tarde, Isaac regressara do poço de Lahai-Roí; ele residia então no Négueb. 63Nessa tarde, em que saíra a dar uma volta pelos campos, ergueu os olhos e viu camelos a aproximarem-se. 64Também Rebeca, erguendo os olhos, o viu e desceu do camelo. 65Ela disse ao servo: «Quem é o homem que vem ao nosso encontro, pelo campo?» O servo respondeu: «É o meu amo.»

Imediatamente Rebeca cobriu-se com o véu. 66O servo narrou a Isaac tudo quanto fizera. 67Depois, Isaac conduziu Rebeca para a tenda de Sara, sua mãe, recebeu-a por esposa, e amou-a. Assim, ficou Isaac reconfortado da morte de sua mãe.


Gn 25

Os filhos de Quetura (1 Cr 1,32-33) – 1Abraão voltou a tomar uma mulher de nome Quetura, 2que lhe deu à luz Zimeran, Jocsan, Medan, Madian, Jisbac e Chua. 3Jocsan gerou Sabá e Dedan. Os filhos de Dedan foram os achuritas, os letuchitas e os leumitas. 4Os filhos de Madian foram Efá, Éfer, Henoc, Abidá e Eldaá. Foram esses os filhos de Quetura. 5Abraão deu todos os seus bens a Isaac. 6Quanto aos filhos das suas concubinas, deu-lhes apenas presentes e enviou-os, ainda em vida, para longe de Isaac, seu filho, para as terras do oriente.

Morte de Abraão7Esta é a duração da vida de Abraão: ele viveu cento e setenta e cinco anos. 8Abraão foi-se extinguindo e morreu numa ditosa velhice; de idade avançada e repleto de dias, foi reunir-se aos seus. 9Isaac e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na caverna de Macpela, situada na terra de Efron, filho de Soar, o hitita, em frente de Mambré, 10a terra que Abraão adquirira aos hititas. Ali foi sepultado com Sara, sua mulher. 11Após a sua morte, Deus abençoou Isaac, seu filho, que residia junto do poço de Lahai-Roí.

Descendência de Ismael (1 Cr 1,28-31) – 12Esta é a descendência de Ismael, o filho de Agar, a escrava egípcia que Sara dera a Abraão. 13Eis os nomes dos filhos de Ismael, por ordem de nascimento: Nebaiot, primogénito de Ismael; a seguir, Quedar, Adbiel, Mibsam, 14Michemá, Dumá, Massá, 15Hadad, Tema, Jetur, Nafis e Quedma. 16São estes os filhos de Ismael. São estes os nomes segundo as suas aldeias e respectivos acampamentos, e foram os doze chefes das suas tribos.

17A duração da vida de Ismael foi de cento e trinta e sete anos. Depois, expirando, morreu, indo reunir-se aos seus. 18Os seus filhos habitaram desde Havilá até Chur, que está na fronteira do Egipto, em direcção de Achur. Instalou-se, assim, diante de todos os seus irmãos.

ESAÚ E JACOB

19Esta é a descendência de Isaac, filho de Abraão. 20Abraão gerou Isaac. Isaac tinha quarenta anos, quando casou com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padan-Aram, e irmã de Labão, o arameu. 21Isaac pediu a protecção do SENHOR para a sua mulher, que era estéril.

O SENHOR ouviu-o e Rebeca, sua mulher, concebeu. 22As crianças lutavam no seu seio, e ela disse: «Se isto devia suceder, para que havia eu de conceber?» E foi consultar o SENHOR, 23que lhe respondeu:

«Duas nações estão no teu seio:
dois povos sairão das tuas entranhas.
Um prevalecerá sobre o outro,
e o mais velho servirá o mais novo.»

24Quando chegou o tempo em que devia dar à luz, saíram dois gémeos do seu seio. 25O primeiro que nasceu era ruivo, todo coberto de pêlos como se fosse um manto, e por isso lhe deram o nome de Esaú. 26Depois, saiu o irmão, segurando com a mão o calcanhar de Esaú. E por isso lhe deram o nome de Jacob. Quando eles vieram ao mundo, Isaac tinha sessenta anos. 27As crianças cresceram. Esaú fez-se hábil caçador, um homem dos campos, ao passo que Jacob era um homem tranquilo, que habitava em tendas. 28Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça, mas a ternura de Rebeca ia para Jacob.

O prato de lentilhas29Certo dia, estando Jacob a preparar um guisado, Esaú regressou do campo muito cansado. 30E disse a Jacob: «Deixa-me comer desse guisado vermelho, pois estou muito cansado.» Por isso, puseram a Esaú o nome de Edom.

31Jacob disse-lhe: «Vende-me o direito de primogenitura.» 32Esaú retorquiu: «Que me importa a mim o direito de primogenitura, se estou a morrer de fome?» 33Jacob disse-lhe: «Jura imediatamente.» Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacob. 34Então Jacob deu-lhe pão e um prato de lentilhas. Esaú comeu e bebeu; depois ergueu-se e partiu. Foi assim que Esaú renunciou ao seu direito de primogenitura.


Gn 26

Episódios sobre Isaac (22,15-18; 27,1-29) – 1Sobreveio uma grande fome naquela terra, além da primeira fome no tempo de Abraão. Isaac foi para Guerar, na intenção de falar a Abimélec, rei dos filisteus. 2O SENHOR apareceu-lhe e disse:

«Não desças ao Egipto,
fica na terra que Eu te indicar.
3Vive aí durante algum tempo;
Eu estou contigo e abençoar-te-ei,
pois é a ti e à tua descendência que Eu darei toda esta terra
e cumprirei o juramento que fiz a Abraão, teu pai.
4Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu,
dar-te-ei todas estas regiões,
e nela serão abençoadas todas as nações da Terra,
5porque Abraão obedeceu à minha voz
e cumpriu os meus preceitos,
os meus mandamentos
e as minhas leis.»

6Isaac habitou, portanto, em Guerar. 7Quando os homens daquele lugar lhe faziam perguntas acerca de sua mulher, ele respondia: «É minha irmã», pois eles poderiam matá-lo, se dissesse: «É minha mulher», visto Rebeca ser realmente bela.

8Ao fim de muito tempo, aconteceu que, um dia, Abimélec, rei dos filisteus, olhando através da janela, viu Isaac a acariciar Rebeca, sua mulher. 9Abimélec chamou Isaac e disse-lhe: «Com certeza ela é tua mulher! E porque te atreveste a dizer: ‘É minha irmã’?» Isaac respondeu: «Disse tudo isso, porque temia ser morto por causa dela.» 10Abimélec retorquiu: «Que é que nos fizeste? Pouco faltou para que qualquer homem do nosso povo se tivesse deitado com a tua mulher, e terias, assim, atraído sobre nós um pecado.» 11Então, Abimélec mandou proclamar esta ordenação a todo o povo: «Quem tocar neste homem ou na sua mulher será morto.»

12Isaac fez as suas sementeiras naquelas terras e, no mesmo ano, recolheu cem vezes mais, pois o SENHOR abençoara-o. 13E este homem tornou-se rico, e foi aumentando cada vez mais a sua fortuna, até chegar a ser extraordinariamente poderoso. 14Possuía rebanhos de toda a espécie, de gado miúdo e graúdo, e numerosos servos. Por isso, os filisteus tiveram inveja de Isaac.

Poços e pastores15Todos os poços que tinham sido abertos pelos servos do seu pai Abraão, quando ele ainda vivia, foram obstruídos pelos filisteus, enchendo-os de terra. 16E Abimélec disse a Isaac: «Vai-te embora daqui, pois agora és muito mais poderoso do que nós.»

17Isaac partiu e, erguendo as suas tendas na torrente de Guerar, ali resolveu permanecer. 18Isaac abriu novamente os poços que tinham sido abertos no tempo de Abraão, seu pai, e que os filisteus entulharam após a morte de Abraão, dando-lhes o mesmo nome que o pai lhes tinha dado. 19Os servos de Isaac, prosseguindo as suas escavações no vale, descobriram uma nascente de águas vivas, 20mas os pastores de Guerar entraram em conflito com os pastores de Isaac e disseram: «Esta água pertence-nos.» Então, Isaac a esse poço chamou «Poço de Discussão», por lhe terem impugnado falsamente a sua propriedade. 21Abriram um outro poço e logo surgiu nova discussão; por isso, chamou-o «Poço de Reclamação.»

22Partiu imediatamente dali e, mais adiante, abriram um poço, a respeito do qual não houve discussões, e deu-lhe o nome de «Poço de Largueza», porque ele disse: «O SENHOR agora deu-nos largueza, e havemos de prosperar nesta terra.»

23Depois, Isaac subiu dali para Bercheba. 24O SENHOR apareceu-lhe naquela noite e disse-lhe:

«Eu sou o Deus de Abraão, teu pai.
Nada temas, pois estou contigo.
Abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência,
por causa de Abraão, meu servo.»

25Isaac construiu um altar naquele sítio e invocou o nome do SENHOR; depois, levantou ali também a sua tenda, e os seus servos abriram ali um poço.

Aliança com Abimélec26Abimélec partiu de Guerar em companhia de Auzat, seu amigo, e de Picol, chefe do seu exército, e foi ter com Isaac. 27Isaac disse-lhes: «Qual a razão que vos traz até junto de mim, vós que me odiais e me expulsastes da vossa terra?» 28Eles responderam: «Porque é evidente que o SENHOR está contigo, e dissemos: É indispensável um juramento entre nós e ti. Queremos, portanto, fazer uma aliança contigo. 29Jura que não nos farás mal algum, assim como nós nunca te maltrataremos e só te fizemos bem, deixando-te partir em paz. Tu, agora, és o abençoado do SENHOR.»

30Isaac ofereceu-lhes um banquete, e eles comeram e beberam. 31No dia seguinte, de manhã, ficaram unidos, por juramento, um ao outro; depois, Isaac despediu-os, e eles afastaram-se em paz, da sua presença. 32Nesse mesmo dia, os servos de Isaac foram dar-lhe notícias acerca do poço que estavam a abrir e disseram-lhe: «Encontrámos água.» 33Ele deu a esse poço o nome de Cheba. Por isso, é que a cidade se chama Bercheba, até ao dia de hoje.

Casamento de Esaú34Aos quarenta anos de idade, Esaú tomou por mulheres Judite, filha de Beeri, o hitita, e Basemat, filha de Elon, o hitita. 35Elas causaram muita amargura ao coração de Isaac e ao coração de Rebeca.


Gn 27

Isaac abençoa Jacob (22,15-18; 26,2-5) 

1- Isaac estava velho e os seus olhos enfraqueceram-se tanto que já não via. Chamou Esaú, seu primogénito, e disse-lhe: «Meu filho!» Ele respondeu: «Aqui estou.» 2Isaac disse: «Como vês, estou velho e desconheço qual será o dia da minha morte. 3Peço-te que tomes as tuas armas, a aljava e o arco, vás para o campo e, quando tiveres caçado alguma coisa, 4faz-me um guisado suculento como eu gosto e traz-mo para eu comer, a fim de te abençoar antes de morrer.»
5Ora, Rebeca estava à escuta e ouviu o que Isaac dizia a Esaú, seu filho. E Esaú foi para o campo caçar alguma coisa, para depois trazer ao pai.
6Rebeca disse a Jacob, seu filho: «Acabo de ouvir teu pai a dizer ao teu irmão Esaú o seguinte: 7‘Vai caçar alguma coisa para mim e faz-me um guisado suculento, para eu comer. Depois, quero abençoar-te diante do SENHOR, antes de morrer.’
8Agora, meu filho, escuta bem o que te vou dizer: 9Vai buscar ao rebanho dois cabritos gordos e traz-mos. Eu farei com eles um prato suculento para o teu pai, como ele gosta. 10Levá-lo-ás para o teu pai comer e, assim, te abençoar antes de morrer.»
11Jacob respondeu à sua mãe Rebeca: «Mas Esaú, meu irmão, é um homem peludo, e eu não tenho pêlo algum. 12Se acontecer que meu pai me toque, passarei a seus olhos por mentiroso e atrairei sobre mim uma maldição em vez de uma bênção.»
13A mãe replicou: «Que essa maldição recaia sobre mim, meu filho. Ouve o que te digo; e vai buscar o que te disse.» 14Jacob foi e trouxe os dois cabritos à sua mãe, que fez um prato suculento, como o pai gostava. 15E Rebeca escolheu as mais belas roupas de Esaú, seu filho mais velho, as mais belas que tinha em casa, e vestiu-as a Jacob, seu filho mais novo. 16Depois, cobriu-lhe as mãos e o pescoço, que não tinham pêlos, com a pele dos cabritos, 17e colocou nas mãos de Jacob, seu filho, o guisado suculento e o pão, que ela preparara.
18Jacob foi ter com o pai e disse-lhe: «Meu pai!» Isaac respondeu: «Estou aqui.» «Mas quem és tu, meu filho?» 19Jacob respondeu a seu pai: «Sou Esaú, teu primogénito; fiz o que me pediste. Peço-te, pois, que te levantes, que te sentes e comas da minha caça, a fim de me abençoares.» 20Isaac disse: «Como pudeste encontrar caça tão depressa, meu filho?» E Jacob respondeu: «Porque o SENHOR, teu Deus, trouxe-a para diante de mim.» 21Isaac disse a Jacob: «Anda, aproxima-te para eu te tocar, meu filho, e ver se és realmente o meu filho Esaú ou não.»
22Jacob aproximou-se de Isaac, seu pai, que o tocou e disse: «A voz é a voz de Jacob, mas as mãos são as de Esaú.» 23Ele não o reconheceu por estarem as suas mãos peludas como as do seu irmão Esaú. Dispôs-se a abençoá-lo, 24mas ainda voltou a perguntar-lhe: «És, na verdade, o meu filho Esaú?» Jacob respondeu: «Sim.» 25Isaac disse: «Serve-me a tua caça, para que eu coma e te abençoe.» Jacob serviu-o e ele comeu; levou-lhe também vinho e ele bebeu. 26Então, Isaac, seu pai, disse-lhe: «Aproxima-te, meu filho, e dá-me um beijo.»
27Jacob aproximou-se e beijou-o. E, ao sentir a fragrância das suas roupas, Isaac abençoou-o, dizendo:
«Sim! O odor do meu filho é como odor de um campo abençoado pelo SENHOR.
28Que Deus te conceda
o orvalho do céu e a fertilidade da terra,
trigo e mosto em abundância!
29Que os povos te sirvam
e as nações se prostrem na tua presença!
Sê o senhor dos teus irmãos;
diante de ti se curvem os filhos da tua mãe!
Maldito seja quem te amaldiçoar,
e bendito seja quem te abençoar.»

Regresso de Esaú – 30Mal Isaac acabara de abençoar Jacob, e Jacob se tinha retirado da presença do pai, Esaú regressou da caça. 31Preparou também um guisado suculento e levou-o ao pai, dizendo-lhe: «Levanta-te, meu pai, e come a caça do teu filho, para me abençoares.» 32Isaac, seu pai, perguntou-lhe: «Quem és tu?» Ele respondeu: «Sou Esaú, teu filho primogénito.»
33Isaac, dominado por fortíssima emoção, disse: «Quem foi então que me trouxe a caça que eu comi antes de chegares? Abençoei-o e, portanto, ficará abençoado.» 34Ao ouvir tais palavras do pai, Esaú começou a gritar e a chorar amargamente e disse-lhe: «Abençoa-me também a mim, meu pai!» Isaac disse: 35«O teu irmão veio astuciosamente e recebeu a tua bênção.» 36Esaú disse-lhe: «É por se chamar Jacob que já me venceu duas vezes? Apoderou-se do meu direito de primogenitura e agora apodera-se da minha bênção!» E acrescentou: «Não tens nenhuma bênção para mim?»
37Isaac respondeu-lhe: «Fiz dele o teu senhor, dei-lhe todos os seus irmãos como servos e entreguei-lhe o trigo e o mosto. Que posso eu fazer agora por ti, meu filho?» 38Esaú disse ao pai: «Tens apenas uma bênção, meu pai? Abençoa-me também, meu pai.» E começou a chorar. 39Isaac, respondeu-lhe:
«A tua casa será privada
da fertilidade da terra e do orvalho que desce dos céus.
40Viverás da tua espada
e servirás o teu irmão,
mas, nas tuas andanças de vagabundo,
afastarás o seu jugo do teu pescoço.»
41Esaú concebeu profunda aversão a Jacob, mercê da bênção que o pai lhe dera, e disse no seu coração: «Estão próximos os dias de luto por meu pai, e então matarei meu irmão Jacob.» 42Rebeca foi informada das palavras de Esaú, seu filho mais velho. Ela mandou chamar Jacob, seu filho mais novo, e disse-lhe: «O teu irmão Esaú quer vingar-se de ti, matando-te. 43Escuta-me, pois, meu filho, e foge depressa para junto de Labão, meu irmão, em Haran. 44Fica em casa dele durante algum tempo, o suficiente para acalmar o furor do teu irmão, 45até que a cólera do teu irmão se afaste para longe de ti. Quando ele estiver apaziguado e se tiver esquecido do que lhe fizeste, mandar-te-ei buscar. Porque haveria eu de ser privada dos meus dois filhos, num único dia?»
Jacob enviado à Mesopotâmia (24; 29,1-20) – 46Rebeca disse a Isaac: «Estou desgostosa da vida por causa das filhas dos hititas. Se Jacob casar com uma mulher como aquelas, entre as filhas dos hititas, de que me serve viver?»


Gn 28

C – CICLO DE JACOB (28,1-36,43)

1Isaac chamou Jacob, abençoou-o e deu-lhe esta ordem: «Não casarás com nenhuma filha de Canaã. 2Ergue-te e vai a Padan-Aram, à casa de Betuel, pai da tua mãe, e escolhe aí uma mulher entre as filhas de Labão, irmão da tua mãe.
3Que o Deus supremo te abençoe, te faça crescer e multiplicar, de modo a vires a ser uma imensidade de povos!
4Que Ele te conceda, e à tua descendência, a bênção de Abraão, a fim de possuíres a terra onde resides, que foi dada por Deus a Abraão.»
5Isaac despediu-se de Jacob, que se dirigiu a Padan-Aram, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacob e de Esaú.
6Esaú viu que Isaac tinha abençoado Jacob e que o enviara a Padan-Aram, a fim de ali casar e que, ao abençoá-lo, lhe tinha proibido de arranjar mulher entre as filhas de Canaã; 7obedecendo a seu pai e a sua mãe, Jacob tinha ido para Padan-Aram. 8Esaú compreendeu que as filhas de Canaã desagradavam ao pai. 9Foi, então, ter com Ismael e tomou para mulher, além das que já tinha, Maalat, filha de Ismael, filho de Abraão e irmã de Nebaiot.

Sonho de Jacob em Betel – 10Jacob saiu de Bercheba e tomou o caminho de Haran. 11Chegou a determinado sítio e resolveu ali passar a noite, porque o sol já se tinha posto. Serviu-se de uma das pedras do lugar como travesseiro e deitou-se.
12Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus. 13Por cima dela estava o SENHOR, que lhe disse:
«Eu sou o SENHOR, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac.
Esta terra, na qual te deitaste, dar-ta-ei, assim como à tua posteridade.
14A tua posteridade será tão numerosa como o pó da terra; estender-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul, e todas as famílias da Terra serão abençoadas em ti e na tua descendência.
15Estou contigo e proteger-te-ei para onde quer que vás e reconduzir-te-ei a esta terra, pois não te abandonarei antes de fazer o que te prometi.»
16Despertando do sono, Jacob exclamou: «O SENHOR está realmente neste lugar e eu não o sabia!» 17Atemorizado, acrescentou: «Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu.» 18No dia seguinte de manhã, Jacob agarrou na pedra que lhe servira de travesseiro e, depois de a erguer como um monumento, derramou óleo sobre ela.
19Chamou a este sítio Betel, quando, originariamente, a cidade se chamava Luz. 20Jacob fez, então, o seguinte voto: «Se Deus estiver comigo, se me proteger durante esta viagem, se me der pão para comer e roupa para vestir, 21e se eu regressar em paz à casa do meu pai, o SENHOR será o meu Deus. 22E esta pedra, que eu erigi à maneira de monumento, será para mim casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo quanto Ele me conceder.»


Gn 29

JACOB E LABÃO

Jacob em Haran – 1Jacob retomou o caminho para as terras do Oriente. 2Olhando em redor, viu no campo um poço, junto do qual estavam deitados três rebanhos de ovelhas. Este poço servia de bebedouro aos rebanhos. Como, porém, a pedra que tapava a boca do poço era grande, 3afastavam-na da abertura só quando se reuniam todos os rebanhos. Davam, então, de beber aos animais e depois tornavam a colocar a pedra no respectivo lugar.
4Jacob perguntou aos pastores: «De onde sois, meus irmãos?» Responderam: «Somos de Haran.» 5Ele disse-lhes: «Conheceis Labão, filho de Naor?» Responderam: «Conhecemos.» 6Disse-lhes ele: «E está de boa saúde?» Responderam: «Está de boa saúde, e ali vem Raquel, sua filha, com o rebanho.» 7Ele disse: «Ainda é dia claro, é cedo para recolher os rebanhos; dai de beber às ovelhas e voltai com elas a pastar.» 8Responderam: «Não podemos, enquanto todos os rebanhos não estiverem reunidos. Então, afasta-se a pedra da boca do poço e damos de beber ao gado.»
9Estava ainda a conversar com eles, quando apareceu Raquel com o rebanho do seu pai, pois ela era pastora. 10Logo que Jacob viu Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e o rebanho de seu tio Labão, aproximou-se, removeu a pedra que estava sobre a abertura do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, seu tio. 11Depois, beijou Raquel e começou a chorar. 12Jacob declarou a Raquel que era parente do seu pai e filho de Rebeca. Ela correu a participar tudo a seu pai.
13Quando Labão ouviu falar de Jacob, filho da sua irmã, foi imediatamente ao encontro dele, apertou-o nos braços, beijou-o e levou-o para a sua casa. Jacob contou a Labão tudo quanto se tinha passado. 14E Labão disse–lhe: «Sim, tu és do meu sangue, pertences à minha própria família.» E Jacob morou com Labão um mês inteiro.

Lia e Raquel – 15Depois disso, Labão disse a Jacob: «Acaso estás a servir-me sem qualquer recompensa, apenas por seres meu parente? Diz que salário deverá ser o teu.» 16Ora, Labão tinha duas filhas. A mais velha chamava-se Lia e a mais nova, Raquel. 17Lia tinha o olhar terno; Raquel era esbelta e de belo rosto.
18Jacob amava Raquel e disse: «Servir-te-ei sete anos por Raquel, a tua filha mais nova.» 19Labão respondeu: «Melhor é dar-ta a ti do que a outro; fica em minha casa.» 20E Jacob serviu por Raquel sete anos, que lhe pareceram apenas alguns dias, tanto era o amor que por ela sentia.
21Então, Jacob disse a Labão: «Dá-me a minha mulher, porque o meu tempo findou, e quero casar com ela.» 22Labão reuniu todos os homens do lugar e ofereceu um banquete. 23Mas, já de noite, conduziu Lia a Jacob, que dela se aproximou. 24E para serva de Lia, sua filha, Labão deu-lhe sua escrava Zilpa. 25No dia seguinte de manhã, Jacob, vendo que era Lia, disse a Labão: «Porque me fizeste isso? Não foi por Raquel que eu te servi? Porque me enganaste?» 26Labão respondeu: «Aqui, não é costume dar a mais nova em casamento, antes da mais velha. 27Terminada a semana de núpcias, dar-te-ei também a outra, sua irmã, na condição de me servires ainda mais sete anos.»
28Assim fez Jacob; e, terminada a semana de núpcias de Lia, Labão deu-lhe Raquel, sua filha, por mulher. 29E Labão deu à sua filha Raquel a sua escrava Bila, para ficar ao serviço dela. 30Jacob uniu-se também a Raquel, que amava mais do que a Lia. E serviu ainda em casa de Labão durante outros sete anos.

Os filhos de Jacob – 31Vendo o SENHOR que Lia não era amada, tornou-a fecunda, enquanto Raquel permanecia estéril. 32Lia concebeu e deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Rúben, porque disse: «O SENHOR olhou para a minha humilhação; agora serei amada por meu marido.»
33Concebeu outra vez e deu à luz um filho; e disse: «O SENHOR, sabendo que eu era desdenhada, deu-me também este.» E deu-lhe o nome de Simeão. 34Tornou a conceber novamente e deu à luz um filho; e disse: «Agora meu marido prender-se-á a mim, porque já lhe dei três filhos.» Por isso, deu-lhe o nome de Levi. 35Concebeu ainda mais outra vez e deu à luz um filho; e disse: «Sim, agora louvarei o SENHOR.» E deu-lhe, por isso, o nome de Judá. Depois não teve mais filhos.


Gn 30

1Vendo que não dava à luz filhos a Jacob, Raquel começou a ter inveja da irmã e disse a Jacob: «Dá-me filhos ou, então, morro!» 2E Jacob irritou-se com Raquel e disse-lhe: «Julgas-me capaz de substituir Deus, que te recusou a fecundidade?» 3Ela respondeu: «Aqui tens a minha serva Bila; vai ter com ela. Que ela dê à luz sobre os meus joelhos; assim, por ela, eu também terei filhos.» 4Deu-lhe, pois, a sua serva Bila por mulher, e Jacob aproximou-se dela. 5Bila concebeu e deu um filho a Jacob.

6Raquel disse, então: «Deus fez-me justiça, escutou a minha voz e deu-me um filho.» Por isso, deu-lhe o nome de Dan. 7Bila, a escrava de Raquel, concebeu outra vez e deu um segundo filho a Jacob. 8Raquel disse: «Lutei contra a minha irmã, junto de Deus, e venci-a!» Por isso, chamou-lhe Neftali.

9Ao ver extinta a sua fecundidade, Lia tomou a sua escrava Zilpa e deu-a por mulher a Jacob. 10Zilpa, a escrava de Lia, deu um filho a Jacob.

11Lia exclamou: «Que felicidade!» E deu-lhe o nome de Gad. 12Zilpa, a serva de Lia, deu um segundo filho a Jacob. 13Lia exclamou: «Como sou feliz! As donzelas chamar-me-ão bem-aventurada.» E deu-lhe o nome de Aser.

14Certo dia, na época da ceifa do trigo, saindo Rúben para o campo, encontrou mandrágoras e levou-as a Lia, sua mãe. Raquel disse a Lia: «Dá-me, por favor, parte das mandrágoras do teu filho.» 15Lia respondeu: «Não te parece bastante teres roubado o meu marido, e queres também roubar-me as mandrágoras do meu filho?» Raquel retorquiu: «Pois bem, em troca das mandrágoras do teu filho, que ele fique contigo esta noite.» 16Quando Jacob regressava do campo, à tarde, Lia saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: «Vem comigo, pois hoje paguei por ti o preço das mandrágoras do meu filho.» E ficou com ele nessa noite. 17Deus ouviu Lia, que concebeu e deu um quinto filho a Jacob. 18Lia exclamou: «Deus recompensou-me por ter dado a minha serva a meu marido.» E deu-lhe o nome de Issacar. 19Lia concebeu novamente e deu um sexto filho a Jacob. 20Lia exclamou: «Deus concedeu-me um belo presente. Agora, o meu marido habitará comigo, porque já lhe dei seis filhos.» E deu-lhe o nome de Zabulão. 21A seguir, deu à luz uma filha, a quem chamou Dina.

22Deus recordou-se de Raquel, ouviu-a e tornou-a fecunda. 23Ela concebeu e deu à luz um filho. E disse: «Deus apagou a minha vergonha.» 24E chamou-lhe José, dizendo: «Que o SENHOR me acrescente ainda outro filho!»

Conversações difíceis25Depois de Raquel ter dado à luz José, Jacob disse a Labão: «Deixa-me partir, a fim de voltar para a minha casa e para o meu país. 26Dá-me as minhas mulheres e os meus filhos, pelos quais te servi, antes de me ir embora; pois tu sabes com que zelo te servi.»

27Labão disse-lhe: «Possa eu merecer a tua benevolência! Reconheço que o SENHOR me abençoou por tua causa. 28Fixa-me o teu salário, para que to dê.» 29Jacob respondeu: «Tu sabes como te servi e o que ganhaste comigo. 30Porque o que tinhas, antes da minha chegada, era pouco, e tudo aumentou muitíssimo: o SENHOR abençoou-te por minha causa. Agora, quando trabalharei também para a minha família?»

31Disse-lhe Labão. «Que te hei-de dar?» Jacob respondeu: «Não me darás nada, mas, se acatares a minha proposta, tornarei a apascentar e a guardar o teu rebanho. 32Passarei hoje, através de todo o teu rebanho e separarei todo o animal malhado e com manchas; entre os cordeiros, todos os animais negros e, entre as cabras, as malhadas e com manchas; será essa a minha recompensa. 33A minha rectidão responderá por mim, no dia de amanhã, quando vieres verificar o meu salário. Tudo o que estiver comigo e não for malhado e com manchas, entre as cabras, e negro, entre os cordeiros, será animal roubado.» 34Labão respondeu: «Está bem, seja como dizes!»

35E, no mesmo dia, Labão pôs de parte os bodes listrados e com manchas, todos os cabritos malhados e com manchas, todos os cordeiros negros, e confiou-os aos seus filhos. 36Depois, pô-los à distância de três dias de jornada; e Jacob apascentava o resto do rebanho de Labão.

37Jacob tomou, então, varas verdes de choupo, de amendoeira e de plátano; tirou-lhes parte da casca, pondo a nu o branco das varas, 38e colocou-as diante dos olhos das ovelhas, nos regueiros e nos bebedouros, aonde iam beber. Ora as ovelhas entravam em excitação quando iam beber 39e, ao entrarem em excitação diante das varas, concebiam cordeiros listrados, malhados e com manchas. 40Jacob colocava de lado esses cordeiros; e o gado de Labão ia ficando malhado e negro. E assim juntou rebanhos para si, que não reuniu ao gado de Labão. 41Quando as ovelhas eram vigorosas e ficavam excitadas, Jacob punha-lhes as varas diante dos olhos, nos regueiros, para que concebessem perto das varas. 42Mas, quando as ovelhas eram fracas, não o fazia, de modo que os cordeiros enfezados eram para Labão e os vigorosos para Jacob! 43Este homem enriqueceu prodigiosamente e adquiriu numerosos rebanhos, escravos e escravas, camelos e jumentos.


Gn 31

Fuga de Jacob – 1E Jacob ouviu as palavras dos filhos de Labão, que diziam: «Jacob apoderou-se de tudo o que era do nosso pai, e foi com os bens do nosso pai que acumulou toda esta riqueza.»
2Jacob observou também, pela fisionomia de Labão, que este não tinha para com ele os mesmos sentimentos de antes. 3E o SENHOR disse a Jacob: «Volta para o país dos teus pais, para a tua terra natal; Eu estarei contigo.» 4Então, Jacob mandou vir Raquel e Lia ao campo, junto do seu rebanho, 5e disse-lhes: «Vejo, pelo semblante de vosso pai, que ele não é para mim o mesmo que era dantes; mas o Deus de meu pai está comigo. 6Sabeis que servi o vosso pai com todas as minhas forças, 7ao passo que ele zombou de mim, mudando dez vezes o meu salário; mas Deus não permitiu que ele me prejudicasse. 8Se ele dizia: ‘Os animais malhados serão o teu salário’, todo o gado produzia animais malhados. E se ele dizia: ‘Os animais listrados serão o teu salário’, todo o gado produzia animais listrados. 9Deus tomou o rebanho de vosso pai e deu-mo. 10No tempo em que os rebanhos andam excitados, ergui os olhos e vi em sonhos que os machos, que fecundavam o gado, eram listrados, malhados e com manchas. 11E um enviado do SENHOR disse-me em sonho: ‘Jacob!’ ao que respondi: ‘Eis-me aqui.’ 12Ele continuou: ‘Levanta os olhos e vê; todos os animais que fecundam o gado são listrados, malhados e com manchas, porque Eu vi o que Labão te fez. 13Eu sou o Deus de Betel, onde ergueste e consagraste um monumento, onde pronunciaste um voto em minha honra. Agora levanta-te, sai deste país e regressa à terra em que nasceste.’»
14Raquel e Lia responderam, dizendo: «Existe para nós uma herança na casa do nosso pai? 15Não somos consideradas como estranhas para ele? Depois de nos ter vendido, devorou todos os nossos bens. 16Além disso, a fortuna que Deus retirou a nosso pai é nossa e dos nossos filhos. Faz, então, tudo o que Deus te disse.»
17Jacob preparou-se e mandou que as suas mulheres e os seus filhos montassem sobre os camelos; 18levou todo o seu gado e todos os bens que juntara, tudo o que lhe pertencia e que adquirira no território de Padan-Aram, e partiu para junto de seu pai Isaac, para o país de Canaã. 19E como Labão fora fazer a tosquia das suas ovelhas, Raquel roubou os deuses familiares de seu pai.
20Jacob enganou assim Labão, o arameu, e fugiu sem lhe dizer nada. 21Fugiu com tudo o que lhe pertencia; atravessou o rio e, depois, dirigiu-se para a montanha de Guilead.
22Três dias depois, disseram a Labão que Jacob tinha fugido; 23ele tomou consigo os seus parentes e perseguiu-o durante sete dias de marcha, alcançando-o na montanha de Guilead. 24Mas Deus visitou Labão, o arameu, num sonho nocturno, e disse-lhe: «Livra-te de pedir explicações a Jacob, seja sobre o que for, a bem ou a mal.» 25Labão aproximou-se de Jacob, que tinha levantado a sua tenda sobre a montanha, enquanto Labão dispôs os seus irmãos sobre a mesma montanha de Guilead.

Duelo de palavras – 26Labão disse a Jacob: «Que fizeste? Enganaste-me e levaste-me as minhas filhas como prisioneiras de guerra! 27Porque fugiste furtivamente, enganando-me, em lugar de me avisar? Ter-te-ia despedido com alegria e cânticos, ao som de tambores e da cítara! 28Nem me deixaste abraçar os meus filhos e as minhas filhas! Na verdade, agiste como um insensato. 29A minha mão é suficientemente forte para fazer-vos mal; mas o Deus do vosso pai falou-me esta noite, dizendo: ‘Livra-te de pedir explicações a Jacob, seja a bem ou a mal.’ 30Vais-te porque tinhas saudades da casa de teu pai. Mas porque roubaste os meus deuses?»
31Jacob respondeu a Labão: «Tive medo de te avisar, pois pensei que me tirarias as tuas filhas. 32Quanto àquele que estiver na posse dos teus deuses, esse não viverá! Examina, tu mesmo, tudo o que está comigo e recupera aquilo que te pertence.» Jacob não sabia que era Raquel que tinha roubado os deuses familiares.
33Labão entrou na tenda de Jacob, na de Lia, na das duas escravas, e não os encontrou. Saindo da tenda de Lia, entrou na de Raquel. 34Mas esta pegara nos deuses familiares, escondera-os na sela do camelo e sentara-se em cima. Labão procurou em toda a tenda e não os encontrou. 35E Raquel disse ao pai: «Que o meu senhor não se ofenda, se não posso levantar-me diante de ti, por causa do incómodo habitual das mulheres.» Ele continuou a procurar, mas não encontrou os deuses familiares.
36E Jacob ficou encolerizado e censurou Labão. Dirigindo-se a ele, disse: «Qual é o meu crime, qual é a minha falta, para que assim te irrites contra mim? 37Depois de revistar todas as minhas bagagens, encontraste alguma coisa que pertença à tua casa? Apresenta-o aqui, diante dos meus irmãos e dos teus, e que eles sejam juízes entre nós dois. 38Passei vinte anos contigo; nem as tuas ovelhas nem as tuas cabras abortaram e não comi os carneiros do teu rebanho. 39Não te entreguei nenhum animal despedaçado pelas feras: fui eu próprio que sofri esse prejuízo, pois tu fizeste-me pagar o que foi roubado de dia e o que foi roubado de noite. 40Durante o dia, eu era consumido pelo calor, durante a noite, pelo frio, e o sono fugia dos meus olhos. 41Passei assim vinte anos na tua casa! Servi-te catorze anos pelas tuas duas filhas, e seis anos pelo teu rebanho; mas tu trocaste dez vezes o meu salário. 42Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o que Isaac venera, não me ajudasse, com certeza ter-me-ias deixado partir de mãos vazias. Mas Deus viu a minha humilhação e o trabalho das minhas mãos e pronunciou a sentença ontem à noite.»
43Labão respondeu a Jacob: «Estas filhas são minhas filhas, estes filhos são meus filhos, este gado é o meu gado; tudo o que vês me pertence. Que farei eu agora pelas filhas e pelos filhos que elas tiveram? 44Façamos, então, uma aliança, que será um testemunho entre nós.»
45Jacob tomou uma pedra e levantou um monumento. 46E disse aos irmãos: «Juntai pedras.» Eles pegaram em pedras, puseram-nas em monte e comeram junto daquele monte de pedras. 47Labão chamou-lhe Jegar-Saduta, e Jacob chamou-lhe Galed.
48E Labão disse: «Este monte de pedras, a partir de hoje, é um testemunho entre nós os dois.» Por isso, lhe chamou Galed. 49E também Mispá, porque disse: «O SENHOR estará vigilante entre nós dois, quando nos separarmos um do outro. 50Se maltratares as minhas filhas e tomares outras esposas além delas, embora ninguém esteja connosco, recorda-te de que Deus é testemunha entre mim e ti.» 51Labão disse ainda a Jacob: «Vês este monte de pedras e este monumento que pus entre nós os dois? 52Sirva este monte de pedras e este monumento, de testemunha de que nem eu os transporei para aí nem tu os transporás para aqui, para fazer algum mal. 53Que o Deus de Abraão, o Deus de Naor, o Deus de cada um deles seja juiz entre nós!»
E Jacob jurou pelo Deus que venerava seu pai Isaac. 54Jacob sacrificou animais sobre a montanha e convidou os seus irmãos para o banquete. Tomaram parte nele e passaram a noite sobre a montanha.


Gn 32

Jacob regressa à sua terra 1No dia seguinte, Labão levantou-se cedo, abraçou os filhos e as filhas e abençoou-os; depois, pôs-se a caminho e voltou para sua casa. 2Jacob prosseguiu o seu caminho e encontrou uns mensageiros de Deus. 3Ao vê-los, disse: «É o exército de Deus!» E deu àquele lugar o nome de Maanaim.

4Jacob mandou mensageiros adiante de si a seu irmão Esaú, ao país de Seir, na região de Edom, 5dando-lhes esta ordem: «Assim falareis ao meu senhor Esaú: Assim fala o teu servo Jacob: ‘Residi em casa de Labão e ali permaneci até ao presente. 6Adquiri bois e jumentos, gado miúdo, escravos e escravas; e agora envio uma mensagem ao meu senhor Esaú, para obter a sua benevolência.’»

7Os mensageiros voltaram para junto de Jacob, dizendo: «Fomos ter com teu irmão Esaú; ele vem ao teu encontro com quatrocentos homens.»

8Jacob ficou cheio de temor e de inquietação. Distribuiu os que estavam com ele em dois grupos, assim como o gado graúdo e miúdo e os camelos, 9dizendo: «Se Esaú atacar um dos nossos grupos e o destroçar, o outro poderá salvar-se.»

10Depois, Jacob disse:

«Ó Deus de meu pai Abraão, Deus de meu pai Isaac, ó SENHOR que me disseste: ‘Regressa ao teu país e à tua terra natal e Eu hei-de proteger-te’; 11eu sou indigno de todos os teus favores e de toda a fidelidade que testemunhaste ao teu servo; passei este Jordão só com o meu bordão e agora possuo duas caravanas.

12Salva-me, por favor, da mão do meu irmão Esaú, pois temo que ele me ataque, ferindo-me juntamente com a mãe e os filhos.

13Mas Tu disseste: ‘Encher-te-ei de benefícios e farei que a tua posteridade seja como a areia do mar, cujo número é incalculável.’»

14Jacob passou ali a noite e escolheu, entre os seus bens, um presente para seu irmão Esaú: 15duzentas cabras e vinte bodes, duzentas ovelhas e vinte carneiros, 16trinta camelas que amamentavam, com as suas crias; quarenta vacas e dez touros; vinte jumentas e dez jumentos.

17Entregou-os aos seus servos, cada rebanho à parte, dizendo-lhes: «Passai à frente e deixai um intervalo entre cada rebanho.» 18E deu ao primeiro esta ordem: «Quando meu irmão Esaú te encontrar e te perguntar: ‘Quem és tu? Aonde vais? E porque é que este gado vai adiante de ti?’ 19Responderás: É um presente que manda o teu servo Jacob ao meu senhor Esaú. Ele vem já aí atrás de nós.» 20Deu a mesma ordem ao segundo, ao terceiro e a todos os que conduziam os rebanhos, dizendo: «É assim que falareis a Esaú, quando o encontrardes. 21Dir-lhe-eis: ‘Também o teu servo Jacob vem atrás de nós.’»

Com efeito, Jacob dizia: «Quero aplacar o seu rosto com este presente que me precede e, depois, comparecerei diante dele; talvez me faça bom acolhimento.»

22Estes presentes avançaram, então, adiante dele; e Jacob passou essa noite no acampamento.

23Levantou-se naquela mesma noite, tomou as suas duas mulheres, as duas escravas e os seus onze filhos, e passou o vau de Jaboc. 24Ajudou-os a atravessar a torrente, e passou tudo o que lhe pertencia.

A luta com Deus25Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora. 26Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. 27E disse-lhe: «Deixa-me partir, porque já rompe a aurora.»

Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» 28Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» 29E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» 30Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» – respondeu ele. E então abençoou-o. 31Jacob chamou àquele lugar Penuel; «porque vi um ser divino, face a face, e conservei a vida» – disse ele.

32O sol principiara a levantar-se, quando Jacob deixou Penuel, coxeando por causa da sua coxa. 33É por isso que os filhos de Israel não comem, ainda hoje, o nervo ciático que está na cavidade da coxa – porque Jacob foi ferido no nervo ciático da coxa, que ficou paralisado.


Gn 33

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Encontro com Esaú – 1Jacob, levantando os olhos, viu Esaú que avançava acompanhado por quatrocentos homens. Repartiu os filhos entre Lia e Raquel e entre as duas servas. 2Colocou à frente as servas com os seus filhos, depois Lia com seus filhos, e Raquel, com José, em último lugar. 3Passou adiante deles e prostrou-se por sete vezes, antes de se aproximar de seu irmão.
4Esaú correu ao seu encontro, abraçou-o, atirou-se-lhe ao pescoço e beijou-o; e ambos choraram.
5Levantando os olhos, Esaú viu as mulheres e as crianças e perguntou: «Que te são estes?» Jacob respondeu: «São os filhos que Deus concedeu ao teu servo.» 6As servas aproximaram-se também com os seus filhos e prostraram-se; 7Lia também se aproximou com os seus filhos e prostraram-se; depois, aproximou-se José com Raquel e prostraram-se.
8Esaú prosseguiu: «Que significa todo esse grupo, enviado por ti e que encontrei?» Jacob respondeu: «É para alcançar benevolência da parte do meu senhor.»
9E Esaú disse-lhe: «Possuo mais do que o suficiente, meu irmão; guarda o que é teu.» 10Jacob respondeu: «Oh! Não! Se alcancei a tua benevolência, aceitarás de minha mão este presente, pois olhei a tua face, como se olha para a face de Deus, e tu recebeste-me bem. 11Aceita, pois, o meu presente que te ofereceram por mim, porque Deus foi generoso comigo e possuo o suficiente.» E tanto insistiu que Esaú aceitou.

Separação – 12Então, Esaú disse: «Partamos, prossigamos juntos e seguirei os teus passos.» 13Jacob respondeu-lhe: «O meu senhor sabe que as crianças são delicadas e que o gado miúdo e graúdo, que ainda mama, exige os meus cuidados; se os apressarem, ainda que só por um dia, todo o gado novo perecerá. 14Que o meu senhor queira passar adiante do seu servo; eu caminharei devagar, ao passo da caravana que me precede e ao passo dos meninos, até juntar-me ao meu senhor, em Seir.»
15Esaú disse-lhe: «Vou, então, mandar-te escoltar por alguns dos meus homens.» Jacob respondeu: «Para quê? Eu queria apenas encontrar benevolência diante do meu senhor!» 16E nesse mesmo dia Esaú retomou o caminho de Seir.
17Mas Jacob dirigiu-se para Sucot; edificou ali uma casa e construiu cabanas para o gado. Foi por isso que chamaram àquele lugar Sucot.
18Quando Jacob regressou são e salvo de Padan-Aram, chegou à cidade de Siquém no país de Canaã; e fixou-se em frente dessa cidade. 19Adquiriu aos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem moedas, uma parcela de terreno, onde acampou, 20e construiu ali um altar, que dedicou «a El, Deus de Israel.»