Génesis (2)

Segundo a Bíblia dos Capuchinhos

ÍNDICE: Capítulos 1 a 10Cap. 11 a 20Cap. 21 a 33Cap. 34 a 40Cap. 41 a 50.  


Gn 11

A torre de Babel1Em toda a Terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas palavras. 2Emigrando do oriente, os homens encontraram uma planície na terra de Chinear e nela se fixaram. 3Disseram uns para os outros: «Vamos fazer tijolos, e cozamo-los ao fogo.» Utilizaram o tijolo em vez da pedra, e o betume serviu-lhes de argamassa. 4Depois disseram: «Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra.»

5O SENHOR, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. 6E o SENHOR disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos. 7Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.»

8E o SENHOR dispersou-os dali por toda a superfície da Terra, e suspenderam a construção da cidade. 9Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o SENHOR confundiu a linguagem de todos os habitantes da Terra, e foi também dali que o SENHOR os dispersou por toda a Terra.

De Sem a Abraão (1 Cr 1,24-27; Lc 3,34–36) – 10Esta é a descendência de Sem: aos cem anos de idade, Sem gerou Arfaxad, dois anos depois do dilúvio. 11Sem, após o nascimento de Arfaxad, viveu ainda quinhentos anos e gerou filhos e filhas. 12Arfaxad, de trinta e cinco anos, gerou Chela. 13Depois do nascimento de Chela, Arfaxad viveu ainda quatrocentos e três anos, e gerou filhos e filhas. 14Chela, de trinta anos, gerou Éber. 15Depois do nascimento de Éber, Chela viveu ainda quatrocentos e três anos e gerou filhos e filhas. 16Éber, de trinta e quatro anos, gerou Péleg. 17Depois do nascimento de Péleg, Éber viveu ainda quatrocentos e trinta anos e gerou filhos e filhas. 18Péleg, de trinta anos, gerou Reú. 19Depois do nascimento de Reú, Péleg viveu ainda duzentos e nove anos e gerou filhos e filhas. 20Reú, de trinta e dois anos, gerou Serug. 21Depois do nascimento de Serug, Reú viveu ainda duzentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. 22Serug, de trinta anos, gerou Naor. 23Depois do nascimento de Naor, Serug viveu ainda duzentos anos, e gerou filhos e filhas. 24Naor, de vinte e nove anos, gerou Tera. 25Depois do nascimento de Tera, Naor viveu ainda cento e dezanove anos e gerou filhos e filhas. 26Tera, de setenta anos, gerou Abrão, Naor e Haran.

27Esta é a descendência de Tera: Tera gerou Abrão, Naor e Haran. 28Haran gerou Lot. E Haran morreu, vivendo ainda Tera, seu pai, na terra da sua naturalidade, em Ur, na Caldeia. 29Abrão e Naor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era Sarai, e a de Naor era Milca, filha de Haran, pai de Milca e de Jiscá. 30Sarai era estéril, não tinha filhos.

31Tera tomou seu filho Abrão, seu neto Lot, filho de Haran, e sua nora Sarai, mulher de Abrão, seu filho, e partiu com eles de Ur, na Caldeia, e dirigiram-se para a terra de Canaã. Chegados a Haran, aí se fixaram. 32Tera viveu duzentos e cinco anos, e morreu em Haran.


II. HISTÓRIA DOS PATRIARCAS 12,1-50,26)

A – CICLO DE ABRAÃO (12,1-23,20)
Vocação de Abraão1O SENHOR disse a Abrão:

«Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar.

2Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. 3Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.»

4Abrão partiu, como o SENHOR lhe dissera, levando consigo Lot. Quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos. 5Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Haran, e partiram todos para a terra de Canaã, e chegaram à terra de Canaã. 6Abrão percorreu-a até ao lugar de Siquém, até aos Carvalhos de Moré. Os cananeus viviam, então, naquela terra. 7O SENHOR apareceu a Abrão e disse-lhe: «Darei esta terra à tua descendência.» E Abrão construiu ali um altar ao SENHOR, que lhe tinha aparecido.

8Deixando esta região, prosseguiu até ao monte situado ao oriente de Betel, e montou ali as suas tendas, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente. Construiu também um altar ao SENHOR e invocou o seu nome. 9Abrão continuou a sua viagem, acampando aqui e ali, em direcção ao Négueb.

Abraão e Sarai no Egipto (46,1-7; Mt 2,13-15) – 10Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abrão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo. 11Quando já estavam quase a entrar no Egipto, Abrão disse a Sarai, sua mulher: «Ouve, sei queés uma mulher de belo aspecto. 12Quando os egípcios te virem, dirão: ‘É a mulher dele.’ E matar-me-ão, e a ti conservarão a vida. 13Diz, pois, que és minha irmã, peço-te, a fim de que eu seja bem tratado por causa de ti, e salve a minha vida, graças a ti.»

14Quando Abrão chegou ao Egipto, os egípcios notaram que a sua mulher era muito bonita. 15Os grandes da corte, que a viram, referiram-se elogiosamente a ela, na presença do Faraó, e a mulher foi conduzida ao palácio. 16Por causa dela, Abrão foi muito bem tratado, e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. 17Mas o SENHOR infligiu tremendos castigos ao Faraó e à sua casa, devido a Sarai, mulher de Abrão.

18O Faraó mandou chamar Abrão para lhe dizer: «Que é que te levou a fazer-me semelhante coisa? Porque não disseste que ela era tua mulher? 19Porque disseste que era tua irmã, dando lugar a que eu a tomasse por mulher? Agora, aqui tens a tua mulher, toma-a e vai-te embora.»

20O Faraó ordenou, então, aos seus homens que mandassem embora Abrão, sua mulher e tudo quanto lhe pertencia.


Gn 13

Lot separa-se de Abraão1Abrão saiu do Egipto, em direcção ao Négueb, com a sua mulher e tudo o que lhe pertencia. Lot acompanhava-o. 2Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro. 3Regressou, depois, do Négueb a Betel, até ao lugar do seu primeiro acampamento, entre Betel e Ai, 4no sítio em que erigira um altar pela primeira vez e onde invocara o nome do SENHOR. 5Lot, que acompanhava Abrão, possuía, igualmente, ovelhas, bois e tendas; 6a terra não era bastante grande para nela se estabelecerem os dois, porque os bens de ambos eram avultados. 7Houve questões entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os pastores dos rebanhos de Lot.

Os cananeus e os perizeus habitavam, então, aquela terra. 8Abrão disse a Lot: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. 9Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.»

10Lot ergueu os olhos e viu todo o vale do Jordão, que era inteiramente regado. Antes de o SENHOR ter destruído Sodoma e Gomorra, estendendo–se até Soar, o vale era um maravilhoso jardim, como a terra do Egipto. 11Lot escolheu para si todo o vale do Jordão e dirigiu-se para o oriente, separando-se um do outro.

12Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades do vale, no qual ergueu as suas tendas até Sodoma. 13Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do SENHOR.

14Depois de Lot o ter deixado, Deus disse a Abrão: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. 15Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre. 16Farei que a tua descendência seja numerosa como o pó da terra, de modo que só se alguém puder contar o pó da terra é que a tua posteridade poderá ser contada. 17Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei.»

18Abrão desmontou as suas tendas e foi residir junto aos carvalhos de Mambré, próximo de Hebron; e ali construiu um altar ao SENHOR.


Gn 14

Abraão e Lot1No tempo de Amerafel, rei de Chinear, de Arioc, rei de Elassar, de Cadorlaomer, rei de Elam e de Tidal, rei de Goim, 2aliaram-se todos estes reis e declararam guerra a Bera, rei de Sodoma; a Birchá, rei de Gomorra; a Chinab, rei de Adma; a Cheméber, rei de Seboim, e ao rei de Bela, que é Soar. 3Concentraram-se todos no vale de Sidim, que é o Mar do Sal.

4Durante doze anos estiveram submetidos a Cadorlaomer, mas, no décimo terceiro, revoltaram-se. 5No décimo quarto ano, Cadorlaomer e os reis seus aliados puseram-se a caminho e derrotaram os refaítas, em Astarot-Carnaim, os zuzitas, em Ham, os emitas, na planície de Quiriataim, 6e os horritas, no monte de Seir até El-Paran, situado no deserto. 7Depois, retrocedendo, chegaram a En-Mispat, que é Cadés, e devastaram todas as terras amalecitas e as dos amorreus residentes em Haceçon-Tamar.

8O rei de Sodoma, o rei de Gomorra, o rei de Adma, o rei de Seboim e o rei de Bela, que é Soar, saíram e alinharam-se para a batalha contra eles no vale de Sidim, 9contra Cadorlaomer, rei de Elam, Tidal, rei de Goim, Amerafel, rei de Chinear, e Arioc, rei de Elassar: quatro reis contra cinco. 10Havia no vale de Sidim numerosos poços de betume. O rei de Sodoma e de Gomorra, ao tentarem fugir, caíram neles; os sobreviventes refugiaram-se na montanha. 11Os vencedores apoderaram-se de todos os bens de Sodoma e Gomorra, de todos os víveres e retiraram-se. 12Apoderaram-se também de Lot, filho do irmão de Abrão, que habitava em Sodoma, e de todos os seus bens.

13Mas um dos fugitivos correu a anunciá-lo a Abrão, o hebreu. Este habitava junto aos carvalhos de Mambré, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, aliados de Abrão.

14Ao saber que o seu parente ficara prisioneiro, Abrão armou trezentos e dezoito dos seus servos mais valentes, nascidos na sua casa, e perseguiu os inimigos até Dan. 15Dividindo a sua tropa, ele e os seus servos atacaram-nos de noite e destroçaram-nos, perseguindo-os até Hoba, situada ao norte de Damasco. 16Retomou todos os bens saqueados, libertou também Lot, seu sobrinho, e todas as suas riquezas, assim como as mulheres e outros prisioneiros.

Abraão e Melquisedec17Quando Abrão regressava vencedor de Cadorlaomer e dos reis seus aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de Chavé, que é o vale do Rei.

18Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo, 19abençoou Abrão, dizendo:

«Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo
que criou os céus e a Terra!
20Bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou os teus inimigos nas tuas mãos!»
E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.

Abraão e o rei de Sodoma21O rei de Sodoma disse a Abrão: «Dá-me as pessoas e fica tu com os bens.»

22Abrão respondeu: «Ergo a minha mão para o SENHOR, o Deus Altíssimo que criou os céus e a Terra. 23De tudo quanto possuis, não quero nada, nem um fio, nem sequer uma correia de sandália, para que não digas: ‘Eu enriqueci Abrão.’ 24Nada quero para mim, salvo o que os meus servos comeram; quanto à parte dos meus aliados, Aner, Escol e Mambré, estes hão-de receber a parte que lhes compete.»


Gn 15

Promessa e aliança1Após estes acontecimentos, o SENHOR disse a Abrão numa visão: «Nada temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, a tua recompensa será muito grande.»

2Abrão respondeu: «Que me dareis, Senhor DEUS? Vou-me sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer, de Damasco.» 3Acrescentou: «Não me concedeste descendência, e é um escravo, nascido na minha casa, que será o meu herdeiro.»

4Então a palavra do SENHOR foi-lhe dirigida, nos seguintes termos: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas.» 5E, conduzindo-o para fora, disse-lhe: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» E acrescentou: «Pois bem, será assim a tua descendência.» 6Abrão confiou no SENHOR, e Ele considerou-lhe isso como mérito.

7O SENHOR disse-lhe depois: «Eu sou o SENHOR que te mandou sair de Ur, na Caldeia, para te dar esta terra.» 8Perguntou-lhe Abrão: «Senhor DEUS, como saberei que tomarei posse dela?» 9Disse-lhe o SENHOR: «Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombo ainda novo.» 10Abrão foi procurar todos estes animais, cortou-os ao meio e dispôs cada metade em frente uma da outra; não cortou, porém, as aves. 11As aves de rapina desciam sobre as carnes mortas, mas Abrão afugentava-as. 12Ao pôr-do-sol, apoderou-se dele um sono profundo; ao mesmo tempo, sentiu-se apavorado e foi envolvido por densa treva.

13O SENHOR disse-lhe: «Fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e hão-de oprimi–los durante quatrocentos anos. 14Mas Eu próprio julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois, com grandes riquezas dessa terra. 15Tu, porém, irás em paz reunir-te aos teus pais e serás sepultado após uma ditosa velhice. 16Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui, pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo.» 17Quando o Sol desapareceu, e sendo completa a escuridão, surgiu um braseiro fumegante e uma chama ardente, que passou entre as metades dos animais.

18Naquele dia, o SENHOR concluiu uma aliança com Abrão, dizendo-lhe: «Dou esta terra à tua descendência, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates, 19a terra dos quineus, dos quenizeus, dos cadmoneus, 20dos hititas, dos refaítas, dos perizeus, 21dos amorreus, dos cananeus, dos guirgaseus e dos jebuseus.»


Gn 16

Agar e o nascimento de Ismael1Sarai, mulher de Abrão, que não lhe dera filhos, tinha uma escrava egípcia, chamada Agar. 2Sarai disse a Abrão: «Visto que o SENHOR me tornou uma estéril, peço-te que vás ter com a minha escrava. Talvez, por ela, eu consiga ter filhos.»

Abrão aceitou a proposta de Sarai. 3Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou Agar, sua escrava egípcia, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de Abrão ter vivido dez anos na terra de Canaã. 4Ele abeirou-se de Agar, e ela concebeu. E, reconhecendo-se grávida, começou a olhar desdenhosamente para a sua senhora.

5Sarai disse a Abrão: «Recaia sobre ti a vergonha que sofro por tua causa. Fui eu que entreguei a minha escrava nos teus braços e, agora que sabe ter concebido, despreza-me. Que o SENHOR julgue aos dois, a ti e a mim!» 6Abrão respondeu-lhe: «A tua escrava está sob o teu domínio; faz dela o que te aprouver.» Então, Sarai tratou-a mal e humilhou-a, e Agar fugiu da sua presença.

7O mensageiro do SENHOR encontrou-a junto de uma fonte no deserto, a caminho de Chur. 8Ele disse–lhe: «Agar, escrava de Sarai, de onde vens tu? E para onde vais?» Ela respondeu-lhe: «Fujo de Sarai, a minha senhora.» 9O mensageiro do SENHOR disse-lhe: «Volta para a casa dela e humilha-te diante da tua senhora.»

10O mensageiro do SENHOR acrescentou: «Multiplicarei a tua descendência, e será tão numerosa que ninguém a poderá contar.» 11O mensageiro do SENHOR disse-lhe ainda:

«Estás grávida e vais ter um filho,
e dar-lhe-ás o nome de Ismael,
porque o SENHOR escutou a voz da tua angústia.
12Ele será como um cavalo
selvagem entre os homens;
a sua mão erguer-se-á contra todos,
a mão de todos erguer-se-á contra ele,
e colocará a sua tenda em frente de todos os seus irmãos.»

13Agar deu ao SENHOR, que lhe falara, o nome de Attá-El-Roí, porque ela disse: «Não vi eu também aqui o mesmo Deus que me vê?» 14Por isso, chamaram àquele poço, situado entre Cadés e Bered, o poço de Lahai-Roí.

15Agar teve um filho de Abrão; este pôs o nome de Ismael ao seu filho dado à luz por Agar. 16Abrão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael.


Gn 17

A aliança1Abrão tinha noventa e nove anos, quando o SENHOR lhe apareceu e lhe disse: «Eu sou o Deus supremo. Anda na minha presença e sê perfeito. 2Quero fazer uma aliança contigo e multiplicarei a tua descendência até ao infinito.»

3Abrão prostrou-se com o rosto por terra e Deus disse-lhe: 4«A aliança que faço contigo é esta: serás pai de inúmeros povos. 5Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos. 6Tornar-te-ei extremamente fecundo, farei que de ti nasçam povos e terás reis por descendentes.

7Estabeleço a minha aliança contigo e com a tua posteridade, de geração em geração; será uma aliança perpétua, em virtude da qual Eu serei o teu Deus e da tua descendência. 8Dar-te-ei, a ti e à tua descendência depois de ti, o país em que resides como estrangeiro, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei Deus para eles.»

A circuncisão9Deus disse a Abraão: «Da tua parte, cumprirás a minha aliança, tu e a tua descendência, nas futuras gerações. 10Eis a aliança estabelecida entre mim e vós, que tereis de respeitar: todo o homem, entre vós, será circuncidado. 11Circuncidareis a pele do vosso prepúcio, e este será o sinal de aliança entre mim e vós. 12Oito dias depois de nascer, toda a criança do sexo masculino, das vossas gerações futuras, será circuncidada por vós; os servos, nascidos em casa ou estrangeiros adquiridos a dinheiro, serão também circuncidados, ainda que não pertençam à tua raça. 13Tanto o indivíduo do sexo masculino nascido em casa, como o que for adquirido a dinheiro, deverão ser circuncidados; e, desta forma, será marcado na vossa carne o sinal da minha aliança perpétua. 14O indivíduo do sexo masculino incircunciso, aquele que não tiver sido circuncidado na sua carne, será afastado do meio do seu povo, por ter quebrado a minha aliança.»

Promessa de um filho15Deus disse a Abraão:

«Não chamarás mais à tua mulher, Sarai,
mas o seu nome será Sara.
16Abençoá-la-ei e dar-te-ei um filho, por meio dela.
Será por mim abençoada,
e será mãe de nações,
e dela sairão reis.»

17Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» 18Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!»

19Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. 20Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. 21Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» 22E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão.

23Abraão tomou Ismael, seu filho, todos quantos tinham nascido na sua casa e todos aqueles que adquirira a dinheiro, todos os indivíduos do sexo masculino da sua casa, e circuncidou-os nesse mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado.

24Abraão tinha já noventa e nove anos, quando foi circuncidado. 25Ismael, seu filho, tinha treze anos, quando foi circuncidado. 26Abraão e Ismael foram circuncidados no mesmo dia; 27e todos os varões da sua casa, os nascidos na sua casa ou adquiridos por dinheiro a estranhos, foram circuncidados com ele.


Gn 18

Três visitantes misteriosos 1O SENHOR apareceu a Abraão junto dos Carvalhos de Mambré, quando ele estava sentado à porta da sua tenda, durante as horas quentes do dia. 2Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra 3e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante, sem parar em casa do teu servo. 4Permite que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta árvore. 5Vou buscar um bocado de pão e, quando as vossas forças estiverem restauradas, prosseguireis o vosso caminho, pois não deve ser em vão que passastes junto do vosso servo.» Eles responderam: «Faz como disseste.»

6Abraão foi, sem perda de tempo, à tenda onde se encontrava Sara e disse-lhe: «Depressa, amassa já três medidas de flor de farinha e coze uns pães no borralho.» 7Correu ao rebanho, escolheu um vitelo dos mais tenros e gordos e entregou-o ao servo, que imediatamente o preparou. 8Tomou manteiga, leite e o vitelo já pronto e colocou-o diante deles. E ficou de pé junto dos estranhos, debaixo da árvore, enquanto eles comiam.

9Então, disseram-lhe: «Onde está Sara, tua mulher?» Ele respondeu: «Está aqui na tenda.» 10Um deles disse: «Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano, nesta mesma época; e Sara, tua mulher, terá já um filho.» Ora, Sara estava a escutar à entrada da tenda, mesmo por trás dele. 11Abraão e Sara eram já velhos, de idade muito avançada, e Sara já não estava em idade de ter filhos. 12Sara riu-se consigo mesma e pensou: «Velha como estou, poderei ainda ter esta alegria, sendo também velho o meu senhor?» 13O SENHOR disse a Abraão: «Porque está Sara a rir e a dizer: ‘Será verdade que eu hei-de ter um filho, velha como estou?’ 14Haverá alguma coisa que seja impossível para o SENHOR? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» 15Cheia de medo, Sara negou, dizendo: «Não me ri.» Mas Ele disse-lhe: «Não! Tu riste-te mesmo.»

Oração de Abraão16Os homens levantaram-se e partiram em direcção de Sodoma, e Abraão acompanhou-os para deles se despedir. 17O SENHOR disse, então: «Ocultarei a Abraão o que vou fazer? 18Ele deve tornar-se uma nação grande e poderosa e Eu abençoarei nele todos os povos da Terra. 19Escolhi-o, de facto, para que dê ordens a seus filhos e à sua casa depois dele, no sentido de seguirem os caminhos do SENHOR, praticando a justiça e a rectidão, a fim de que o SENHOR cumpra a favor de Abraão as promessas que lhe fez.»

20O SENHOR acrescentou: «O clamor de Sodoma e Gomorra é imenso e o seu pecado agrava-se extremamente. 21Vou descer a fim de ver se, na realidade, a conduta deles corresponde ao brado que chegou até mim. E se não for assim, sabê-lo-ei.» 22Os homens partiram dali, e encaminharam–se para Sodoma. Abraão, porém, continuava ainda na presença do SENHOR. 23Abraão aproximou-se e disse: «E será que vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? 24Talvez haja cinquenta justos na cidade; matá-los-ás a todos? Não perdoarás à cidade, por causa dos cinquenta justos que nela podem existir? 25Longe de ti proceder assim e matar o justo com o culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de ti! O juiz de toda a Terra não fará justiça?»

26O SENHOR disse: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos perdoarei a toda a cidade, por causa deles.» 27Abraão prosseguiu: «Pois que me atrevi a falar ao meu Senhor, eu que sou apenas cinza e pó, continuarei. 28Se, por acaso, para cinquenta justos faltarem cinco, destruirás todaa cidade, por causa desses cinco homens?» O SENHOR respondeu: «Não a destruirei, se lá encontrar quarenta e cinco justos.» 29Abraão insistiu ainda e disse: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta.» O SENHOR disse: «Não destruirei a cidade, em atenção a esses quarenta.» 30Abraão voltou a dizer: «Que o Senhor não se irrite, por eu continuar a insistir. Talvez lá se encontrem trinta justos.» O SENHOR respondeu: «Se lá encontrar trinta justos, não o farei.» 31Abraão prosseguiu: «Perdoa, meu Senhor, a ousadia que tenho de te falar. Talvez não se encontrem lá mais de vinte justos.» O SENHOR disse: «Em atenção a esses vinte justos, não a destruirei.» 32Abraão insistiu novamente: «Que o meu Senhor não se irrite; não falarei, porém, mais do que esta vez. Talvez lá não se encontrem senão dez.» E Deus respondeu: «Em atenção a esses dez justos, não a destruirei.»

33Terminada esta conversa com Abraão, o SENHOR afastou-se, e Abraão voltou para a sua morada.


Gn 19

Destruição de Sodoma1Os dois mensageiros chegaram a Sodoma já tarde, e Lot estava sentado à porta da cidade. Ao vê-los, ergueu-se, foi ao encontro deles e, prostrado com o rosto por terra, 2disse-lhes: «Peço-vos, meus senhores, que venhais para a casa do vosso servo passar a noite e lavar os pés. Levantar-vos-eis de manhã cedo e prosseguireis o vosso caminho.»

Responderam-lhe: «Não; passaremos a noite na praça.» 3Mas Lot tanto insistiu que o acompanharam e entraram em casa dele. Preparou-lhes de jantar, mandou cozer pães ázimos, e eles comeram.

4Ainda não se tinham deitado, quando os homens da cidade, os homens de Sodoma, desde os mais novos até aos mais velhos sem excepção, rodearam a casa, 5chamaram Lot e disseram-lhe: «Onde estão os homens que entraram na tua casa, esta noite? Trá-los para fora, a fim de os conhecermos.» 6Lot veio à entrada da casa, e, fechando a porta atrás de si, 7disse–lhes: «Suplico-vos, meus irmãos, não cometais semelhante maldade. 8Eu tenho duas filhas ainda virgens. Eu vo-las trarei. Fazei delas o que vos aprouver, mas não façais mal a esses homens, porque vieram acolher-se à sombra do meu tecto.»

9Eles responderam: «Retira-te daí!» E acrescentaram: «Cá está um homem que chegou como estrangeiro e quer agora ser o nosso juiz! Pois bem, vamos fazer-te pior do que a eles.»

E, empurrando Lot violentamente, avançaram para arrombar a porta. 10Mas os dois homens estenderam a mão, meteram Lot dentro de casa e fecharam a porta. 11Feriram de cegueira os homens que estavam em frente da casa, novos e velhos, de tal modo que eles inutilmente se esforçavam por encontrar a porta.

Lot escapa à tragédia12Os dois homens disseram a Lot: «Quantas pessoas ainda tens aqui? Manda sair desta região os teus genros, os teus filhos, as tuas filhas e todos os parentes que tiveres na cidade. 13Pois vamos destruir todas estas terras, porque o clamor que se eleva contra os seus habitantes é enorme diante do SENHOR, e Ele enviou-nos para os aniquilar.» 14Lot saiu e falou aos genros, os que deveriam casar com as suas filhas, e disse-lhes: «Levantai-vos e saí daqui, pois o SENHOR vai destruir a cidade.» Mas os seus genros pensaram que ele estava a gracejar.

15Ao amanhecer, os mensageiros insistiram com Lot, dizendo-lhe: «Ergue-te, foge com a tua mulher e as tuas duas filhas que estão aqui, a fim de não morreres também tu no castigo da cidade.» 16E como ele se demorava, os homens agarraram-no pela mão, a ele, à mulher e às duas filhas, porque o SENHOR queria poupá-los, e conduziram-nos para fora da cidade.

17Depois de os terem conduzido para fora, um dos mensageiros disse–lhe: «Escapa-te, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás.»

18Lot disse-lhe: «Não, SENHOR, peço-te! 19Este teu servo mereceu a tua benevolência, pois demonstraste a tua imensa generosidade para comigo, conservando-me a vida, mas não poderei fugir até ao monte, pois a destruição atingir-me-ia antes e eu morreria. 20Há aqui perto uma cidade, na qual obterei refúgio. É muito pequena; permiti que eu vá para lá. É tão pequena! E salvarei a minha vida.» 21Ele disse-lhe: «Concedo-te ainda o favor de não destruir a cidade a que te referes. 22Apressa-te, porém, a refugiar-te nela, pois nada posso fazer antes de lá chegares.» Por isso, deram àquela cidade o nome de Soar.

23Erguia-se o sol sobre a terra, quando Lot entrou em Soar. 24Então, o SENHOR fez cair do céu, sobre Sodoma e Gomorra, uma chuva de enxofre e de fogo, enviada pelo SENHOR. 25Destruiu estas cidades, todo o vale e todos os habitantes das cidades e até a vegetação da terra. 26A mulher de Lot olhou para trás e ficou transformada numa estátua de sal.

27Abraão levantou-se de manhã cedo e foi ao lugar onde tinha estado na presença do SENHOR. 28Voltando os olhos para o lado de Sodoma e Gomorra e para a extensão do vale, viu elevar-se da terra um fumo semelhante ao fumo de uma fornalha. 29Ao destruir as cidades do vale, porém, Deus recordou-se de Abraão e salvou Lot do cataclismo com que arrasou as cidades onde habitava Lot.

30Lot deixou Soar e fixou-se no monte com as suas duas filhas, porque temia continuar em Soar. Habitava numa caverna com as duas filhas. 31A mais velha disse à mais nova: «O nosso pai está velho, e não há homens nesta região, com quem nos possamos casar, como é de uso em toda a parte. 32Vamos embriagar o nosso pai e deitarmo-nos com ele, a fim de não deixar extinguir a raça do nosso pai. 33Naquela mesma noite, pois, deram a beber vinho ao pai, e a mais velha deitou-se com ele, que de nada se apercebeu, nem quando ela se deitou nem quando se levantou. 34No dia seguinte, a mais velha disse à mais nova: «Deitei-me ontem com o nosso pai; embriaguemo-lo também esta noite, e vai deitar-te com ele, a fim de não se extinguir a raça do nosso pai.» 35Também naquela noite deram a beber vinho ao pai, e a mais nova deitou-se com ele, que de nada se apercebeu, nem quando ela se deitou nem quando se levantou.

36E, assim, as duas filhas de Lot conceberam do próprio pai. 37A mais velha deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Moab, pai dos moabitas, que vivem ainda hoje. 38A mais nova teve igualmente um filho, ao qual deu o nome de Ben-Ami, pai dos amonitas, que vivem ainda hoje.


Gn 20

Abraão e Sara em Guerar (26,1-11) – 1Abraão partiu dali para a região de Négueb, fixou-se entre Cadés e Chur, permanecendo durante algum tempo em Guerar. 2Referindo-se a Sara, ele dizia que era sua irmã. Abimélec, rei de Guerar, mandou raptar Sara. 3Deus, porém, apareceu em sonhos a Abimélec, durante a noite, e disse-lhe: «Vais morrer por causa da mulher que raptaste, visto ela ser casada.»

4Abimélec, que não se tinha aproximado dela, respondeu: «SENHOR, dareis a morte mesmo a inocentes? 5Não me disse ele que era sua irmã? Ela própria me disse: ‘É meu irmão.’ Procedi com pureza de coração e mãos inocentes.» 6Deus disse-lhe em sonhos: «Eu bem sei que agiste com pureza de coração; por isso, evitei que pecasses contra mim e não permiti que lhe tocasses. 7Manda novamente a mulher para esse homem, que é um profeta, e ele rezará por ti, e conservarás a vida. Se não a mandares entregar, fica sabendo que morrerás com certeza, tu e todos os teus.»

8Ao erguer-se de manhã, Abimélec convocou os seus servos e narrou-lhes todas estas coisas, e foram dominados por grande terror. 9Depois, Abimélec chamou Abraão e disse-lhe: «Que nos fizeste? Em que te ofendi eu, para nos expores, a mim e ao meu reino, ao castigo de um tão grande pecado? Não devias ter procedido comigo da forma como procedeste.» 10Acrescentou: «Qual a tua intenção, ao fazeres isto?»

11Abraão respondeu: «Julgava que poderia não haver temor de Deus neste país, e que iriam matar-me por causa da minha mulher. 12De resto, é verdade que ela é minha irmã, filha do meu pai, mas não de minha mãe; e tornou-se minha mulher. 13Quando Deus me levou para longe da casa do meu pai, eu disse-lhe: ‘Vais fazer-me a mercê de dizer em todos os lugares, onde formos, que sou teu irmão.’» 14Então, Abimélec tomou ovelhas, bois, servos e servas e deu-os de presente a Abraão, ao entregar-lhe Sara, sua mulher. 15Abimélec disse: «O meu país está à tua disposição; podes fixar-te onde melhor te parecer.» 16Disse também a Sara: «Dei ao teu irmão mil moedas de prata. Isto será para ti como um véu perante os que vivem contigo. De tudo ficas, assim, compensada.»

17Abraão intercedeu junto de Deus e Deus curou Abimélec, sua mulher e as suas servas, e tiveram novamente filhos, 18porque o SENHOR tinha ferido de esterilidade todas as mulheres da casa de Abimélec, por causa de Sara, mulher de Abraão.

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