A EXCEPÇÃO QUE FAZ A REGRA

A regra é o desinteresse dos responsáveis das administrações face ao nosso património geológico e paleontológico. A excepção é o Monumento Natural das pegadas de dinossáurios das Serras d’Aire e Candeeiros


Seis anos após a abertura ao público deste Monumento Natural, vai ter lugar, no próximo dia 22 de Outubro, a inauguração do Jardim Jurássico e do Aramosaurus, duas importantes peças a complementar o já de si grande interesse desta jazida que é hoje a maior, a mais bem conservada, rica em número de pegadas e longos trilhos e, ainda, a pedagogicamente mais bem apresentada ao público, entre as suas congéneres noutros países.

O Jardim Jurássico, bem localizado e abrigado numa grande reentrância da pedreira, aberta aquando da exploração da pedra, é, como o nome indica, uma mostra do tipo de vegetação terrestre contemporânea dos dinossáurios. Anexo ao Jardim foi colocado o “Painel do Tempo”, uma pintura mural com 25 metros de comprimento, da autoria do Arq.to J. P. Martins Barata, ilustrando, com grande rigor e beleza artística, os 4600 milhões de anos da História da Terra. Do mesmo autor é a concepção do Aramosaurus, uma enorme estrutura metálica, estilizando, em tamanho natural, os gigantescos dinossáurios saurópodes (herbívoros quadrúpedes de cauda e pescoço compridos) que por aqui andaram há 175 milhões de anos.

Numa muito estrita colaboração entre o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, o Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa e o Arq.to J. P. Martins Barata, este Monumento Natural registará, a curto prazo, outros equipamentos já projectados e agendados. Está na hora de pensar em tirar dele os proveitos pedagógico, cultural e económico esperados, face aos investimentos feitos. Há, pois, que criar estruturas materiais e humanas indispensáveis a uma ampla e alargada abertura ao público. Os enormes valores científico e pedagógico desta jazida, bem como a sua grandiosidade e excepcional espectacularidade, encerram uma invulgar capacidade atractiva em termos de turismo cultural e de natureza. A sua dimensão e o enorme espaço aberto à circulação pedonal permitem aceitar grandes volumes de visitantes. Finalmente, a proximidade do Santuário de Fátima, a apenas 10 km, é um elemento favorável a explorar. Serão muitas as famílias que, vindo a Fátima, “darão um pulo às pegadas”, satisfazendo, assim, o desejo dos filhos. Serão igualmente os pais que, vindo às pegadas, a pedido dos filhos, aproveitarão a oportunidade para passar por Fátima.

Uma conveniente promoção, à escala da importância mundial deste geomonumento, poderá trazer-lhe, a curto prazo, número considerável de curiosos. Bastaria que 10% dos visitantes de Fátima aproveitassem a ocasião para conhecer este outro santuário da Natureza, para termos aqui centenas de milhar de visitantes/ano.

Talvez que, para aqueles que tudo vêem através dos cifrões, ou euros, tenha chegado a altura de aceitarem que este tipo de valores ambientais e culturais também representa riqueza, do tipo daquela de que gostam e falam.

Lisboa, 17 de Outubro de 2002
A. M. Galopim de Carvalho