CIÊNCIA E COMUNICAÇÃO

Ciência não é comunicação, mas não existe sem ela. À semelhança da transmissão de saberes rudimentares entre os mais primitivos dos nossos antepassados, também a ciência é inseparável da comunicação.

Entendida como um conjunto de conhecimentos acerca de parcelas maiores ou menores do todo universal, obtidos através da observação, da experimentação e ou da elaboração mental, a ciência é um edifício do colectivo, cujos alicerces se perdem nos confins do tempo, mesmo para lá do género humano. Pedra sobre pedra, o seu fio condutor sempre foi e será a comunicação. Sem comunicação, o conhecimento científico não avança. Morre com quem o cria.

Comunicar ou comungar, do latim communicare, significa partilhar com outrem. Comunica-se através da linguagem escrita, falada ou gestual. Comunicam entre si, e até connosco, muitos dos animais que conhecemos. A Comunicação em ciência utiliza sobretudo a fala e a escrita, muitas vezes apoiadas pelo gesto e pela expressão corporal, como acontece ao professor na sala de aula. Comunicam ao mais alto nível de erudição, entre pares, os sábios nas academias e os investigadores nos congressos e outras reuniões científicas. Comunicam entre si professores e alunos. Comunicam, através dos livros ou dos media, e aos mais diversos níveis, os poucos que se dispõem a escrevê-los.

O paralelismo entre a produção científica e o avanço das técnicas de comunicação é hoje uma evidência espectacular. Do texto manuscrito enviado por mar e à vela, ou por terra, na bolsa de um estafeta a cavalo, aos modernos meios de transporte, ou do já “antiquado” fax ao actualíssimo e-mail , o aumento e o aperfeiçoamento constante e progressivo dos meios de comunicação de pessoas e ideias tem vindo a fazer crescer, exponencialmente, o hoje imenso, inabarcável, edifício da Ciência.

Esperemos que o instantâneo da comunicação, que caracteriza a sociedade dos nossos dias, possa acautelar muitos dos riscos que o avanço da Ciência também acarreta. Lembremo-nos da pólvora, da dinamite, da bomba atómica, das guerras química e biológica, da clonagem.

Lisboa, 20 de Setembro de 2002