JOÃO SANTOS FERNANDES
Lusófona barca Luxitânia

Luxitânia, Origens da Lux, é uma Barca Atlante, ora de Velas enfunadas com Argonautas, ora de Âncoras desembarcando Musas para as Artes e Ciências, nos Ciclos da Humanidade. Nome gravado nos mapas da Proto-História de Portugal, eram Terras que iam das Tágides de Tagus até ao Mar Cantábrico, ficando-lhe a Sul a Mesopôtamia, Terras das Valquírias entre os rios Dahanan ou Ana (Guadiana) e Cahpsus (Sado), fechada pelo Cyneticum (Algarves), com a sua Serra do Caldeirão, simbolizando o Cálice de Dagda ou Graal, um deitado rectângulo de hoje, proporcional ao erguido na geratriz do seu eixo: Serra do Gerez (gira/gere)-Melriça (mil raios e centro geodésico)-Ourique (castro verde).

Terras de Serpentes Ocultas, no dizer dos Sábios da Antiguidade, as mais além das Colunas de Hércules, tinham já no Eneolítico uma cultura megalítica de menhires, dólmenes, cromoleques, antas, grutas sagradas e santuários que eram terminais de passagem de linhas lay derivantes de uma Europa de Carnac, Gotland ou Stoneheng, onde Lux era a Luz dos Campos de Elêusis ou de Ísis (Campos Elísios), estendidos até ao Luxemburgo, chamando-se o Coração da Alemanha a Luxácea, a região de Berlim, «amarração» que sempre nos tem seguido, mas que hoje os alemães não entendem porque deixaram de ser germânicos, como o foi Maximiliano I ao aliar-se ao seu primo D. João II de Portugal.

Assim o Portugal Antigo era uma radial de geomância sacra, onde ainda hoje a Província de Lugo (do Deus Lug) encerra o Cabo Finisterra (onde finda a terra) e o Campo da Estrela (Compostela) ou Serra de Portugal, onde os Montes da Sabedoria são de Hermes ou Hermínios, neles nascendo o Rio do Conhecimento que banha Coimbra.

Na Idade dos Metais, a Luxitânia, pelas suas minas de cobre e estanho, levou o Bronze a toda a Europa, como nos nossos tempos levou volfrâmio e urânio ao Mundo. Portugal foi o Som da Pedra e dos Metais, a Forja de Vulcano dos Exércitos até ao Império de Roma, mas também a Oficina do Ouro (o seu Rio Douro) de uma filigrania Celta para muitas Damas da Deusa Europa, vestígios de Briteiros e realidades das actuais Procissões das Festas de Santa Luzia, ou Senhora da Luz, oposta à Serpente das Trevas.

Podem antropólogos e historiadores esgrimir teses de quem somos, mas nascemos para ser fusão ADN de diásporas da História. Primeiro, na lenda, éramos odínicos, com os vestígios dos Tuata-da-Dannan de Argar, regiões do Guadiana a Altamira, um Argar de uma Andaluzia, de novo de raiz Lux. Atraímos então os povos da Terra dos Deuses Ases, ou Ásia, como os Tirsenos da Ásia Menor e os Elamitas da Pérsia, mesmo os Ilírios da Europa de pés na Ásia. Não estranhemos um retorno de hoje de romenos, moldavos, ucranianos, indianos, em suma, um Cáucaso Antigo, um Pamir, por fronteira. Fomos depois, com raízes de Lígures e Iberos, uma fusão de dolicocéfalos altos e louros, odínico-celtas, com baixos e morenos, naturo-endovélicos, adorando o Sol e a Lua, daqui saindo os Celtiberos.

Em seguida já é mais fácil visualizar os nossos cruzamentos com a talassocracia cretense, fenícia, cartaginesa e romana originando as Barcas Clássicas, com a expansão árabe, em solos cristãos, plasmando Barcas de Abraão, com os Descobrimentos de ADN afro-asiáticos e latino-americanos velejando em Barcas de Cruz de Cristo, todas elas Barcas dos Corvos de Sagres ou de São Vicente, Cabo Sagrado Romano.

De uma ancestral cultura megalítica que obrigou Sertório a localizar (lugalizar) o seu Senado em Évora, próximo dos Cromoleques de Guadalupe, sendo seu mito a Corça Branca que o acompanhava, evoquemos a Tragédia de Viriato (139 a.C.), com refúgio nos Montes de Hermes, ou Hermínios, uma Sabedoria de um Mondego que passa em Coimbra, um rio então chamado Munda vel Menda.

A Força desta Luxitânia será a História das suas Tragédias: a de Viriato, a de Inês de Castro, a da Tomada de Ceuta, a de Alcácer-Quibir, a da Morte dos Távoras, a da Morte de D. Carlos I e a de Timor. São 7 Tragédias de Renascimento que estão de acordo com a Beleza de Construção da Cabeça da Deusa Europa, de 7 Luzes Antigas, como os 7 orifícios da nossa cabeça (olhos, ouvidos, nariz e boca), dando origem, no séc. IV, às 7 Prefeituras Romanas do Ocidente, ou Dioceses da Hispânia: Bética, Luxitânia, Galécia, Tarraconense, Cartaginense, Tingitânia e Baleares. Somos vórtices de Energia (vulgo chakras) do Corpo do Mundo.

Assim começaria a Fundação de Portugal, com 7 Reinos Ibéricos: Portugal e Algarves, Leão, Castela, Navarra, Aragão e Andaluzia. Teria a sua capital 7 Colinas e 7 Rios para que as Barcas Lusas, como 7 Montes de Tomar Templário ou 7 Colinas de Roma saídas, levantassem Âncora para um reconhecimento dos Açores com 7 Cidades, na Ilha de São Miguel, o Príncipe do Juízo Final. Se quisermos duas imagens de tudo o que se disse até aqui, diria:

  •     Os símbolos do Portugal Antigo, Clássico, Moderno e Futuro, estão encerrados, respectivamente, na Porca ou Javali de Murça, no Veado ou Corça da Nazaré, no Corvo isolado da Ilha dos Açores ou dual de São Vicente de Sagres a Lisboa, na Pomba de Iria, a qual, cíclica, já irradiou o Culto do Espírito Santo na diáspora de Portugal, tão Paraclética como o similar Deus Vulcano, forjada no Porto da Luz, em Alenquer, por Franciscanos e Santa Isabel, a Rainha do Alvará da Ordem de Cristo, Cruz das Caravelas.

  •           Os anagramas de Tomar e de Timor, dizendo Morta e Morti, representam para além das Tragédias, o apoio dos Saberes a um devir de constante Renascimento, onde o Sol e a Lua têm sido símbolos de credos e cultos, mesmo do trajar típico de Timor, hoje chamado de Loro Sae, dizendo já Estrabão que os Lusitanos, com 50 Tribos, quais Portas de Luz da Árvore da Vida, adoravam o Sol e a Lua.

Mais do que olhar a História escrita e documental, tão plena de destruição de bibliotecas, censuras de pensamentos e penas, inquisições de credos e parcialidades de favores de novas verdades, importa ver as Barcas no seu Nevoeiro. A Barca Luxitânia teve amarras em 4 Portos de Pedra: em Alcobaça, a Nau da Fundação; em Batalha, a Nau da Libertação; em Belém, nos Jerónimos, a Nau da Expansão; em Mafra, a Nau da Declinação. A lusofonia do Som dos Mares, levando a cultura e a língua, para além do Som da Pedra espalhando fortalezas, templos e casarios, atravessou 10 Estreitos (Gibraltar, Ormuz, Palk, Formosa, Coreia, Bering, Malaca, Mucassar, Tasmânia e de Magalhães), quais 10 Esferas da Árvore Yggdrasill, por 32 Rumos da Rosa-dos-Ventos, ou 32 Caminhos da Árvore da Vida, onde 10 Esferas também existem.

Tudo seria ideal se, por detrás de tudo e por fim, não estivesse o comércio e a riqueza, a geoestratégia de novos impérios de D. Manuel I ou Carlos V, de Napoleão ou Hitler, ancestrais de Carlos Magno ou Otão III, alterando-se, se for preciso, a Natureza para tal fim, como nos canais do Suez e Panamá. Mas, seguindo o Nevoeiro da Barca, a História do Império português é desde logo o Sangue de Inês de Castro e de D. Pedro I e a Genealogia de muitos Cabrais.

De Inês de Castro, por um dos seus carrascos, Diogo Lopes Pacheco, ser o antepassado de Diogo Pacheco Pereira, a síntese de toda a gesta lusitana de Quatrocentos e início de Quinhentos, de Portugal à África, ao Brasil e à Índia. É o navegador e cosmógrafo, capitão e governador, testemunha do Tratado de Tordesilhas, feitor do Esmeraldo de Situ Orbis, a Tábua da Esmeralda dos Nautas, não um anagrama de louvor a quem quer que seja. É o Aquiles Lusitano do Canto X dos Lusíadas, na pena de Camões, por Palavra de Tétis. Morre na miséria, anos depois de ter sido demitido de Governador de São Jorge da Mina, a 4 de Julho de 1522, Dia da Rainha Santa Isabel e da Independência dos EUA, quando a 22 de Julho (Dia de Santa Maria Madalena) de 1505 tinha sido, o semideus grego, levado em Procissão da Sé de Lisboa ao Mosteiro de São Domingos, em louvores de D. Diogo Ortiz, o Bispo de Ceuta de 1415, nesta data Bispo de Viseu.

Sangue de D. Pedro I, pois dele nasce o Mestre de Avis, a Ínclita Geração, com o Sangue Inglês da sua Rainha, o seguinte Império dos Mares, ou das Damas Isabel I e Victória, ainda vivo com Isabel II e seu Commonwealth. A Tragédia de Carlos I de Inglaterra seria similar à de D. Carlos I de Portugal. A ambos se seguiu uma República. Nós restaurámos a Independência de Portugal e demos a filha do Rei D. João IV para restaurar a Monarquia inglesa. Mas é a Geneologia Cabral que nos permite ver 600 anos de História, da crise política de 1383/85 à crise económica de 1983/85. São 600 de Marinha Mercante, de 1377 a 1977.

Álvaro Gil Cabral, alcaide de Guarda-Belmonte, levanta Armas pelo Mestre de Avis, em Praças e Cortes. Gonçalo Velho Cabral levanta Âncoras para os Açores. Pedro Álvares Cabral levanta Padrões para unir a América à Ásia, ou o Brasil à Índia. Francisco Cabral, o Missionário do Oriente, nascido nos Açores, levanta uma sã Cristandade, em Colégios e Missões, em povos e reis, na Índia, na China e Japão, continuada por João Cabral, outro Jesuíta da Paz, aceite do Tibete ao Ceilão, da Índia ao Japão.

A conquista de Malaca, em 14 de Janeiro de 1641, pela mão dos Holandeses é o início do Cemitério das Barcas Lusas do Oriente quando Portugal a Ocidente as restaura, desamarrando-as da Espanha, numa Guerra de Restauração que duraria 28 anos, um ciclo lunar completo, tantos os Arcos Laterais do Terreiro do Paço, ou os 26+2 ossos de cada um dos nossos pés, craveira de medição da quedas dos muros (como o de Berlim) ou das Torres Gémeas, de Horoshima/Nagasaki (1945), passando pelo Chile (1973), até New York (2001).   

São os Cabrais de Fornos de Algodres, no séc. XIX, nas lutas de Reis Irmãos. É Sacadura Cabral, o Duarte Pacheco Pereira dos Ares, o Rei Artur que religava Portugal à Inglaterra (voo de 1920), Portugal às suas Ilhas de hoje (voo de 1921 à Madeira) e Portugal ao Brasil (voo de 1922). A sua Barca dos Ares afundou-se com o seu corpo, por isso ele chamava-se Artur, algures onde tinha começado a nossa Barca de Argos: a Flandres. No entanto, é a sua Mensagem de um fim de Camelot, completada pela Barca dos Ares de Sarmento de Beires (Argos), o Ulisses dos Ares, o aluno dos Celtas de França, instrutor do Brasil e da China, o Gama de Lisboa-Macau (voo de 1924), o Cabral Nocurno do Brasil (voo de 1927), o exilado de Gomes da Costa e o retornado de Costa Gomes que exala o seu último suspiro, na véspera do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, a 9 de Junho de 1974, 22 anos depois de Amílcar Cabral (com Aristides Pereira) ter iniciado a luta das independências, um final de Império, 11 anos depois de ele ser Viriato na Guiné, em 1973. Ele e Beires eram poetas.

Antes de desfilarmos nomes da lusofonia desta Barca importa reter que o seu Leme da História foi sempre corrigido por Henriques ou Anriques, como narra Camões. Vão 888 anos de História de Portugal entre o Conde D.Henrique, lutando pela independência e Xanana Gusmão alcançando-a, ou se quisermos, face à morte do pai de D. Afonso Henriques, entre D.Teresa e Xanana, chamando-se a mãe da Rainha, Ximenes ou Ximena Nunes, esposa de D. Afonso VI. O Bispo D. Ximenes Belo de Timor também pertence ao Nevoeiro da Barca. São 2 Dinastias, Afonsina e de Avis, com início de Henriques, o Rei, com fim de Henrique, o Cardeal, sendo delas Nauta o Infante D. Henrique, ao todo 17 Reis. São mais 2 Dinastias, Filipina e de Bragança, que terminam com D. Manuel II, sem descendência como o Cardeal, ao todo 17 Reis.

O tio do último Rei deveria ter ocupado o Trono de Portugal, ele se chamava o Infante D. Afonso Henriques. Mas a Barca não o aceitou ao Leme e esperou por Henrique Galvão, querendo unir África ao Brasil, na Nau Santa Maria, para dizer que o Império acabara. Dependerá do próximo Presidente da República de Portugal, o 17º, Aníbal Cavaco Silva, o Rumo da Barca.

Hoje não se aplicam os Saberes Ocultos, de Colégios, Monges, Ordens e Iniciados. Tudo gira sem a Máquina Mundo ser conhecida, esfera mecânica no Convento Escorial. Tudo gira sem os jovens lerem os Lusíadas, não conhecendo a Máquina Celeste do seu Canto X. Novas verdades e valores navegam em internet.

Quantos acreditam no improviso dos Descobrimentos, porque não sabem que a lusofonia só foi possível irradiar no rigor do astrolábio, quadrante, balestilha, tábuas do Sol, toleta de marteloio, regimentos da Estrela do Norte, da Altura do Pólo ao Meio-Dia, do Cruzeiro do Sul e das Léguas, tratados da Agulha de Marear, produzindo-se cartografia que difundimos a outros Reinos, como o faríamos com o Sextante de Gago Coutinho. Mas hoje Pedro Nunes teria lugar na Ponte de Comando do mais sofisticado porta-aviões, pois, diariamente, são feitas as medições de posição e navegação, por instrumentos clássicos, face à possível neutralização dos meios electrónicos e informáticos. Não há maus alunos de Matemática. Não se sabe é ensinar Aritmética e Geometria. Não há maus alunos em Português. Não se sabe é ensinar Etimologia e Gramática. A investigação e o desenvolvimento não são partilhados, mas sim patenteados, numa avidez de direitos de autor, impedindo o acesso a fontes astrais.

Mas se o erudito lusófono é mais hermético, o Som da língua é o que mais expressão teve, como o Som da Música sempre também o terá. Portugal é o único país do Mundo onde impende sobre as suas vogais um til, nasalando um som místico, mesmo que um dia o queiram assassinar como fizeram ao trema, algo que que os homens da Lusácea se oposeram irradiando mais o seu “citröen”, pois nunca soubemos «adeqüar» nenhum acordo ortográfico. Hoje o Brasil e as suas Academias hesitam em homologar sonorizações de declínio. A África da Lusofonia diverge e desconfia da Matriz Lusa da língua portuguesa unilateralmente avocada por Portugal.

Os Descobrimentos nos deram poetas como Cristóvão Falcão, António Ferreira, Agostinho da Cruz, Jerónimo Corte-Real e Luís Vaz de Camões. Eram os tempos da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, dos escritos de Frei Bartolomeu dos Mártires, de Francisco da Holanda e de Samuel Usque. Uma língua universal, moldada por gramáticos e lexicógrafos como Jerónimo Cardoso, Fernão de Oliveira e Pero de Magalhães Gandavo. Era todo um espírito científico e filosófico, sintetizado em António Luís, Francisco Sanches e Garcia da Orta, perseguido depois de morto pelo Santo Ofício, profanando-se o seu cadáver.

Era um Escol de Quinhentos, ainda sem Contra-Reforma activa e feroz Inquisição, que atraía a Lisboa, a Paris do séc. XIX/XX, letrados como Vazeu, Jorge Buchanan, Cataldo Sículo e Nicolau Clenardo. Era o Som lusófono de Gil Vicente e de sua filha Paula Vicente, o feminino que fez aparecer as Damas das Letras como D. Leonor de Noronha, Públia Hortência de Castro, Luísa e Angela Sigéas, Joana Vaz, sendo Padroeira desta erudição a Infanta D. Maria, sobrinha de Carlos V, Musa inspiradora de Camões.

Após João de Barros, Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda sofria já Damião de Góis da censura de liberdade de pensamento, com uma iminente Inquisição, pedida por D. Manuel I e concretizada por D. João III, alastrando na Europa o Fogo de Lutero, aceso a 10 de Dezembro de 1520 quando ele queima a bula do Papa. A erudição renascentista ou oposição silenciada, passa para um exílio lusófono, com cometas em Portugal, ora presos, ora em fuga, dos quais destaco Gonçalo Anes Bandarra e depois Padre António Vieira, Bocage e Filinto Elísio, já no séc. XVIII, sendo a Marquesa de Alorna o símbolo restante dos Távoras, o símbolo de que para se ter Artes, Letras e Ciências é preciso ser-se livre. Assim se fizeram a cantora Luísa Todi e o médico Ribeiro Sanches, dois grandes vultos de Portugal na Europa. O terror pombalino geraria a pior das Tragédias dos Mares, a de Todos-os-Santos de 1755, Dia do remoto Ano Novo Celta, um tsunami ocorrido 400 anos depois da Tragédia de Inês de Castro.

A nova lusofonia viria do Brasil, com o Som da Música, pois se a quisermos encontrar antes, em compositores, só a podemos recordar em Pedro Escobar, o Príncipe dos Moletes, segundo João de Barros, em Carlos Seixas, o Mestre do Cravo e do Órgão. Digamos, pois, que é João Domingos Bomtempo, com a sua Missa de Requiem à Memória de Camões, uma das muitas obras, que a Barca da Luxitânia vai sedimentar Artes e Ciências. E o acaso está no seu irmão, em José Maria Bomtempo, o médico de Angola (1798/1805) e um dos melhores professores da Academia Medico-Cirúrgica do Brasil, sendo acaso Bocage ter por primo o médico e zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage (1823-!907), tão pioneiro como José de Leite de Vasconcellos, o arqueólogo e o etnólogo do seu Museu, nos Jerónimos.

Esta alquimia faz acordar nas trevas da Cultura, de D. João III a D. João VI, com algumas luzes em D. João V, António de Castilho, sendo seu irmão José Feliciano o fundador do jornal Íris do Rio de Janeiro, Herculano, Garrett, Camilo, João de Deus, Antero de Quental, Júlio Dinis, Oliveira Martins, Eça de Queiróz, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho de Almeida e António Nobre.

São tempos de um Brasil varrido pela Independência dos EUA (1776, a 4 de Julho, Dia da Rainha Santa Isabel) que geraram o Alferes Joaquim José da Silva Xavier (executado em 1792) ao fazer a 1ª conspiração armada, republicana e independentista, em 1789, 100 antes do Brasil ser República. Seria Reino, entretanto, em 1815, 400 anos depois de Ceuta, 300 anos depois de 1515, o ano da faustosa Embaixada a Roma para pedir a Inquisição, levando como símbolos de um já corrupto Império a onça, o cavalo e o elefante. Neste fatídico ano a Barca Luxitânia parava no Extremo Oriente, com as Rotas finais de Albuquerque e as sequentes Armadas de António Abreu (com Fernão de Magalhães a chegar a Timor) e Jorge Álvares a rumar aos países do Sol Nascente.

A Barca da Ordem de Cristo ainda foi Barca das Ordens de Santiago, da Espada por Portugal e de Santiago por Espanha, entregando o Leme final a Magalhães e Sebastião, numa volta ao Mundo dos Mares, com contrato assinado com Carlos V a 22 de Março de 1518 (dia de 1500 de Cabral de Cabo Verde rumo ao Brasil, onde chegou a 22 de Abril), fazendo-se ao Atlântico a 22 de Setembro de 1519 (saída de São Lucar de Barrameda a 20) e pondo Âncora, de regresso, a 7 de Setembro de 1522 (chegada ao porto a 6). As datas da Barca de Santiago ajustavam-se, 300 anos depois, ao seu novo Grito do Ipiranga e à sua Nova Independência. Faltava só restaurar o seu Imperador a 1 de Dezembro de 1822, 182 anos depois de 1640.

Algum saber oculto tinha a Tábua da Esmeralda do Aquiles Lusitano, pois este Condestável Pereira dos Mares fez com que Cabral só tivesse Âncora, em Porto Seguro, a 25 de Abril de 1500, sábado, vésperas de Pascoela, Dia de São Marcos.

Nascem nos séculos XIX e XX os Mecenas da Luxitânia, recordando-se alguns:

  •      António de Araújo de Azevedo, Conde da Barca (1754/1817), o Noé que leva o Rei D. João VI para o Brasil, planeando a Arca com toda a sua biblioteca, núcleo da futura Biblioteca Nacional do Brasil, carregando o que seria a primeira oficina topográfica do novo Reino. Ele foi o novo Rabi Eliézer Toledano que no séc. XV montava o mesmo em Lisboa.

  •      Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira (1782/1866), o afortunado comerciante da África e Brasil, mandou construir 120 escolas primárias, financiou as Misericórdias do Porto e Rio de Janeiro, fundou o Hospital de alienados do Porto, com o seu nome, repousando, em Agramonte, em mausoléu esculpido por Soares dos Reis.

  •      Augusto Portugal Silva e Sousa, Visconde Sanches de Baena (1822/1909), comerciante, farmacêutico, médico (doutorado pela Universidade de Filadélfia), numismáta, historiador e genealógico. Em 1859 funda, no Rio de Janeiro, o maior laboratório químico-farmaceutico da América, sendo vasta a sua obra de benemerência no Brasil e Portugal.

  •      Júlio Monteiro Aillaud (?/1927), o fundador da emblemática livraria do Chiado “Aillaud & Bertrand”, lançando escritores como Aquilino Ribeiro, Antero de Figueiredo e Raúl Brandão (o Dostoievski português, como o é a Agostina Bessa Luís), criando e financiando revistas, como Atlândida, Ilustração, Voga e Magazine Bertrand e desenvolvendo a difusão do livro do Brasil a Timor.

Esta nova lusofonia teve por sementes: os 6 jesuítas levados por Tomé de Sousa, o 1º Governador-Geral do Brasil; a Nova Lusitânia, a Capitania de Pernambuco, a Florença da América; vultos como Manuel da Nóbrega (fundador de S. Paulo, 1549), José Anchieta, (linguísta, teatrista e beato, com o Papa João Paulo II em 1980), António Vieira (o Padre dos Sermões), Alexandre Gusmão (percursor do romance) e o Conde de Sabugosa (fundou o Teatro secular no Brasil), o Vice-Rei das Sesmarias; o enriquecimento cultural de D. João V, com Academias e Colégios.

O terror pombalino e a sua censura, como a de Pina Manique não deixaram florescer estas sementes. Elas iriam desabrochar, com os Românticos e Mecenas já citados, principalmente pelo Som da Música Clássica, com os irmãos Croner e Mestre Ivo Cruz, o brasileiro fundador das Orquestras de Câmara e Filarmónica de Lisboa, com Francisco Freitas Gazul e a Família de Freitas Branco, pelo Som da Música Ligeira de Raúl Ferrão e Lopes Graça. As vozes de Carmen Miranda, de Stella Tavares, Amália Rodigues e Cesária Évora, são 100 anos de uma Mensagem escrita de Fernando Pessoa e de Agostinho da Silva, pintada por Almada Negreiros e Lima de Freitas, teatrealizada por Luísa Durão e Vasco Santana, televisionada por Pedro Homem de Melo e Vitorino Nemésio.

Nova Lusofonia de eternas 7 Notas com novas reformas de som e grafia do Português, sendo o nosso melhor filólogo Aniceto Viana (1840/1914), o Nauta da Reforma de 1911, o maior erudito do Mundo em línguas, abrangendo o remoto sânscrito. Serão novas letras para o imortal lexicrógrafo Cândido de Figueiredo compilar em Novo Diccionário da Língua Portuguesa, dizendo o grande brasileiro Rui Barbosa que este Académico das Letras seria sempre “a maior das nossas competências actuaes em materia de lexicologia portuguesa”. Estas e outras obras de vulto publicavam-se então na Imprensa Portugal-Brasil, Sociedade Editora Arthur Brandão & C.ª, um de tantos pilares que não emanava de acordos de grandes comitivas políticas.

Não se falou em tantos Nautas de hoje, muitos deles fazendo lusofonia fora das Barcas, ou na Nova Barca da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Na prática, esta idealizada Barca só começou a ter Amarras 600 anos depois se erguer o Mosteiro da Batalha, com Mestre Afonso Domingues, 500 anos depois de Vasco da Gama rumar ao Oriente, 400 anos depois da morte de Filipe II de Espanha, 300 anos depois da descoberta do Ouro do Brasil, 200 anos depois da loucura de D. Maria I, 100 anos depois do Tratado de Paris, ou seja a EXPO 98 de Lisboa, com a sua Ponte Vasco da Gama e o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago.

Que a CPLP siga a Rota da Barca Luxitânia, das Artes, Ciências e Letras, sem lhe darem os Governos um acento de Forças de Manutenção de Paz. As Musas e os Mecenas surgirão sem Guerra. O Mundo do séc. XX alastrou a sua I Guerra até hoje por ter afundado o Navio Lusitânia, em 1915. Hoje ela se mantém, pela Cimeira dos Açores e talvez assim dure até 2015. Assim, gerida que que está a Barca sem Marinheiros da Luxitânia, não haverão Musas e Mecenas, pois dissemos ao Mundo que o petróleo se chamava Fundação Calouste Gulbenkian, o crude da Paz e da Cultura, um dos Baluartes da lusofonia.

A avidez do lucro, de uma Matriz de Trevas de fim de Ciclo, derrama este crude de Finisterra da América, ou Alasca, à Finisterra da Europa, ou Galiza, condicionando independências, como o ouro, a prata, os diamantes, as sedas, as madeiras preciosas e as especiarias impediram que o que a Barca Luxitânia rasgou fosse verdadeiramente livre e independente. Tenhamos Fé e Esperança para que a Barca da CPLP leve a Caridade ao Mundo, já que o Planeta está enfermo de Justiça, Misericórdia, Prudência e Força Espiritual, apesar de tantos Credos de Fé e alegados Iniciados de Mistérios. Não precisamos de Césares, precisamos de Sertórios. Assim seja o Canto da Barca Luxitânia na Lusofonia de Cesária Évora.

Termino evocando todos quantos aqui não foram recordados na figura de 2 Bispos, um como início do da Partilha da Barca dos Mares, outro como o fim do Império da Barca dos Nautas: D. José Caetano Coutinho, Bispo do Rio de Janeiro, o entusiasta da Independência do Brasil, sagrando D. Pedro I a 1 de Dezembro de 1822, presidindo à Constituinte e à Assembleia Legislativa e depois ao Primeiro Senado (1827/1831); D. Ximenes Belo, Bispo de Timor, o entusiasta da Paz para um Independente Timor. Sejam estes Prelados o símbolo das lutas de séculos para sermos livres, longe da Mater, da Mãe Gea que nos gerou. Cantava Ary dos Santos e interrogava Natália Correia porque não dizer Mátria em vez de Pátria. Digamos, por isso, Barca e não Barco, pois Ela é Arca e não Arco.

 

João Santos Fernandes

 

 
 
 João Santos Fernandes (Portugal). Coronel do Exército de Portugal, aposentado, casado e natural de Lisboa. Autor dos livros Portugal Iluminado (1997), Despertar do Ser (1999), ambos da extinta Editora Hugin, Cicutem Sócrates/disse a grande prostituta republicana (2009), Aníbal/ maldição do Deus de Israel (2010) e Os Cardeais de Camarate publicados pela Fronteira do Caos Editores. Desde os 25 anos teve uma carreira diversificada a nível do intelligence militar, começando por ser nomeado para a Comissão de Extinção da Ex-PIDE/DGS e LP, passando por órgãos de informações de Estados-Maiores e Quartéis-Generais, reuniões e missões a nível da NATO em Bruxelas e ex-Jugoslávia. Publicamente destacou-se a sua investigação no assassinato do General Humberto Delgado, a participação num dos inquéritos da Assembleia da República sobre o Caso Camarate, bem como nos contributos à Universidade Aberta em Congressos sobre África, com relevo para os temas A PIDE/DGS e a Guerra Colonial e Os Massacres de Williamo, integrados nos Livros de Actas dos Congressos publicados em 2001 e 2002 pela Editorial Notícias. É membro de Comunidades, Sociedades e Ordens Iniciáticas de raiz cristã, nacionais e estrangeiras, tendo sido expulso de duas, a GLRP e GPIL, não pactuando com violações dos seus padrões de moral e ética em prol do seu forte ideal ecuménico e desenvolvimento do ser humano, bem expresso por Embaixadas, Órgãos de Soberania e Comunidades religiosas. Confrade da Academia Lusitana de Heráldica propôs um Brasão-de-Armas para a União Europeia, infelizmente rejeitado, acarretando, na sua visão, nefastas consequências.