ESTARÁ PARA BREVE O FIM DO ANTIGO TESTAMENTO? - EDUARDO AROSO


"As nações todas são mistérios"
Mensagem, Fernando Pessoa


Esta é a pergunta que se pode fazer em relação a atitudes globais da humanidade. Tal como há milhares de anos atrás, quando o homem via Deus a guiar os “seus” exércitos contra o país inimigo, também ontem mesmo um general superior (o que já acontecera com o presidente) do país que neste momento conduz a actual guerra, dizia: «Deus proteja os nossos soldados!» Esperemos que seja a última vez que um país assim pense, e bem assim todos os outros. Por outro lado, a implantação global do Novo Testamento já começou num pensamento-semente, que tem sido as muitas manifestações contra a guerra. O que Max Heindel anunciou deve estar iminente: a descoberta de um outro planeta. O último a ser descoberto, Plutão, inaugurou uma época que o homem do século XX conduziu mal em muitos aspectos – na energia nuclear, na sofisticação da técnica para fins egoístas, na má gestão de recursos naturais e de produção, no incremento da pesquisa médica e biológica, no fabrico de armas... expressões estas aplicáveis a Plutão. Parece-nos que este “descontrolo” de Plutão será remediado com a descoberta do tal décimo planeta que, de algum modo, se pode considerar uma oitava superior do referido Plutão.

Dado que a presente guerra a todos e a tudo está a atingir, sem que se perca a serenidade e a certeza da centelha divina em nós, parece benéfico considerarmos a sábia lei da analogia. O facto de estes acontecimentos mundiais eclodirem no Equinócio da Primavera deve-nos fazer pensar.

1. As já referidas manifestações contra a guerra (expressões tão alargadas à escala planetária como jamais se viu) são uma espécie de pensamento semente, no momento em que simbolicamente este tempo é (para o hemisfério norte) o das sementeiras, o começo da primavera.

2. O mesmo se poderá dizer quanto à guerra em si mesma. Todas as guerras profundas estão implicadas ocultamente. No caso da guerra actual também parece ser evidente, embora devamos sempre aspirar à paz. Do mesmo modo, quando alguém com um destino muito pesado se abeira de nós, e mesmo que pela astrologia, intuição ou clarividência saibamos do seu carma, certamente que tudo faremos para aliviar a carga desse nosso irmão, todo o gesto luminoso, por simples que seja, é certamente reflexo da graça de Cristo. Portanto, o facto de a guerra eclodir precisamente no equinócio leva-nos a crer que ela tem fortes implicações ocultas.

Assim, as energias deste início de primavera, como as poderemos entender quanto ao estado actual do mundo? Parece-nos que estas energias crísticas, atingindo a superfície da Terra, estão a operar uma catarse ou purgação espiritual, não só no país que sofre o confronto da guerra, mas sobretudo na mente do homem que clama (impropriamente) por uma «nova ordem mundial», pois a ordem espiritual não se altera, mas apenas a nossa reacção a ela.

3. Seja como for, o Sol está a entrar no signo de Carneiro, o recomeço. Sendo as energias deste signo, pioneiras e empreendedoras, são todavia ainda o primeiro impulso, evidentemente com algum primitivismo. Isto também explica o revivalismo negativo de atitudes de certos líderes mundiais. Poderemos adquirir algum discernimento de tudo isto se procurarmos o ponto oposto – o signo de Balança regido por Vénus, planeta dos relacionamentos e que inaugura o hemiciclo do horóscopo que trata das relações humanas e do gradual amadurecimento do ser humano até à mestria final. Se quisermos raciocinar astrologicamente, em algum tempo futuro há que esperar um novo acontecimento mundial precisamente no equinócio do outono (entrada do Sol em Balança). A assinatura de um grande tratado mundial de implicações nunca vistas? Um novo conceito de diplomacia? Seja o que for, será certamente a consequência de uma energia oculta, até porque o equinócio representa a entrada de energias crísticas no planeta.

4. Outro ponto a considerar é que o país alvo desta guerra, o Iraque (de forte vibração plutónica) é um espaço físico e cultural que, em eras passadas, foi berço da humanidade. Embora na actualidade, sob o ponto de vista evolutivo esteja noutra situação, não deixa de pelo menos magneticamente de ser um OVO – o começo ou recomeço de toda a vida. Este embrião, que foi de facto a nossa civilização, está a ser mexido ou remexido numa época de equinócio, como já se disse, tempo de todos os recomeços. Mas este recomeço aplica-se muito mais à urgente reflexão de todas as nações. A lição é global e de muito maior alcance do que aquela do homem ter pisado solo lunar. Aliás, o anacronismo de acções como esta e os instintos bélicos desse mesmo país de pioneiros espaciais, expressa sintomas adolescentes, uma falta de amadurecimento característico da juventude – a pretexto de generosidade, comentem-se disparates que mais tarde têm que ser corrigidos.

5. Outra analogia podemos aplicar: assim como o ser humano espiritualmente evoluído tem mais obrigação para como os seus irmãos («a quem muito é dado, muito lhe será pedido»), também uma nação que se reclama de pioneira e defensora das liberdades tem uma obrigação internacional mais acrescida. Existem os chamados carmas individuais e os carmas colectivos. Um país assim não deve ver numa instituição tão importante como é (ou tem sido) a ONU, e a quem nunca deu ouvidos, «apenas algo para sarar as feridas dos refugiados e arrumar os destroços», expressão utilizada hoje mesmo por um comentador português.

Parece-nos oportuno finalizar com excertos do livro de Alice A.Bailey, Problemas da Humanidade.

Não há, da minha parte, nenhum sentimento de animosidade contra nenhum povo ou raça. Esta é a base de partida. Mas sendo a Fraternidade Rosacruz uma Escola Preparatória de uma Ordem Ocultista (a Rosacruz) há que cultivar o estudo, a imparcialidade e a objectividade, tanto quanto seja possível, em atitude de equanimidade tão necessária, como aconselhava Max Heindel. Aliás os presentes acontecimentos, mostrando o que estava escondido (a desocultação produzida por Plutão) vêm trazer a todas as nações essa hipótese de uma visão mais imparcial e ao mesmo tempo mais justa. No capítulo I A reabilitação psicológica das nações, do referido livro Problemas da Humanidade, e sendo este escrito de 1947, hoje sentimos estas palavras perfeitamente actuais:

«O problema psicológico com o qual se confrontam os Estados Unidos é o de aprender a ombrear as responsabilidades mundiais. O povo americano – ao sair da adolescência – deve aprender as lições da vida através da experimentação e da experiência resultante. Essa é uma lição que todos os jovens devem aprender. ( ... ) Como todos os povos jovens, falando simbolicamente, o povo dos Estados Unidos mostra todas as características da adolescência. Mais uma vez simbolicamente, o povo dos Estados Unidos está entre os dezassete e os vinte e quatro anos. Ele grita por liberdade, e ainda não está livre; recusa que se lhe diga o que fazer, porque isso infringe os seus direitos; no entanto, com frequência se deixa conduzir por políticos e pelos incompetentes [sublinhado nosso]; seus cidadãos são muito tolerantes, e contudo muito intolerantes quanto às outras nações; estão prontos para dizer às outras nações como lidar com os próprios problemas, mas ao mesmo tempo até agora não oferecem evidência de que sabem cuidar deles próprios». Conclui Alice Bailey: « A ordem deve ser estabelecida nos Estados Unidos e essa ordem virá quando a liberdade for interpretada em termos de disciplina voluntária. (...) Como todos os povos jovens, os americanos sentem-se superiores às outras nações mais maduras; eles estão prontos a pensar que têm um idealismo mais elevado, uma visão mais saudável, e um amor à liberdade maior do que outras nações. (...) O americano é inteiramente crítico para com os outros povos, mas muitas vezes cego para uma sempre ressentida crítica. Contudo, há tanto a criticar nos Estados Unidos quanto em qualquer outra nação; todas as nações têm uma vasta limpeza da casa à sua espera [sublinhado nosso]e a dificuldade actual é que precisam fazê-lo enquanto dão estreito cumprimento às suas relações internacionais. Nenhuma nação pode viver para si mesma hoje em dia».

Que renascer dentro da humanidade traz esta guerra em equinócio da Primavera? Que outra Sagração da Primavera se abre em flor oculta neste mundo tão ferido?

Um abraço de Paz
Coimbra, 22 de Março de 2003
Eduardo Aroso