EDUARDO AROSO - O FINAL DA ERA DE PEIXES E A SENSAÇÃO PSICOLÓGICA DE TEMPO
Há um tempo de nascer, e um tempo de morrer;
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um tempo de procurar, e um tempo de perder
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Eclesiastes, 3

Parece que ao homem actual muito custa integrar no seu ciclo de vida individual a sentença do Eclesiastes sobre a problemática do tempo. Este tem intrigado os homens de todas as eras: dos sábios do passado aos cientistas quânticos do presente. Espaço e tempo, um e outro a humanidade tem tentado penetrar. Mais simples de análise e interpretação é o primeiro. Intrincados os dois, mais difícil se torna ter plena consciência do segundo.

O tempo dos filósofos, o tempo dos cientistas, o tempo poético... tudo parece não coincidir, pelo menos no plano subjectivo. Quiçá a maior das constatações é a de que o tempo mais verdadeiro parece ser o subjectivo. Disso temos exemplos triviais como os de momentos agradáveis, tão velozes, e de horas infelizes que demoram tanto a passar. Perante isto, logo se deduziu sobre a relação com esses estados de espírito de prazer (alegria) ou de dor (tédio).

Aqui poderíamos introduzir o primeiro ponto de meditação: na medida em que o ser humano equilibre o tal «pêndulo da alegria e da dor», mais ele se torna senhor do tempo, pelo menos do seu tempo interno que é, efectivamente, cronómetro do seu caminho - de vida para vida se pode adiantar ou estancar na evolução, precisamente por essa consciência interna individual. O domínio do tempo interno leva à libertação do tempo externo ou objectivo.

Doutro modo, pode-se experimentar uma vivência muito objectiva de tempo, quando alguém, entre um grupo de pessoas mais ou menos sintonizadas, pretende fazer isto ou aquilo em menos tempo, bater o tal record! Esta é uma situação que cria tendência para nos colocarmos numa mesma frequência vibratória, pelo menos quanto a um certo ambiente envolvente. Aqui podemos entrar noutro ponto de meditação: faixas vibratórias diferentes tenderão a criar noções relativas de tempo.

A capacidade de nos concentrarmos e meditarmos serenamente, utilizando tanto a razão como o sentimento, pode levar-nos a esse santuário interior, verdadeira antecâmara dando passagem, quando o merecermos, à consciência da quarta região onde estão os arquétipos e o tempo é um eterno-agora. Sabemos que, em condições esporádicas isso tem acontecido, em diferentes graus, a alguns egos - no campo da ciência (Kekulé) da arte (Kandinsky, Mozart, Beethoven) e da mística (Teresa de Ávila, A. Silesius, Hildegard von Bingen) e da poesia (Fernando Pessoa, W. Blake ), só para referir uns poucos.

Na astrologia podemos relacionar tempo objectivo (externo) e subjectivo (interno) naquele já velho intrincado problema de conjugar sabiamente os trânsitos e progressões.

Consideremos agora dois aspectos que parecem ser notados por toda a gente. O primeiro reside nesta coisa tão simples: quando somos jovens temos a sensação de que o tempo não anda, queremos ser adultos, sentimos que ainda lá não chegámos, o nosso mundo tende para, e queremos caminhar para uma realidade que nos parece ser mais verdadeira. Pelo contrário, depois da meia-idade, quando temos a certeza que provámos o sentido de ser adulto, o tempo foge-nos, sentimos que corremos depressa para a velhice. E, quanto mais o queremos travar, mais velocidade toma! Parece acontecer que tocar o tempo, na meia-idade, época em que temos o sentido objectivo e activo da vida, ele nos começa a escapar. Passou aquela mágica sensação do tempo de infância, dilatado para tudo e para todos, o tempo uno, sem estar ainda dividido para isto ou aquilo. É o todo sobre a parte, ainda algo da consciência mais abarcante dos mundos superiores sem ter entrado completamente nos horizontes estreitos do mundo das formas. Este pungente fenómeno que em nós se opera estará relacionado, provavelmente, com a natureza que o ego tem sobre o seu presente ciclo de existência. Esta ideia remete-nos imediatamente para um conceito de tempo muito arredio do mundo ocidental - o ciclo em espiral, ao invés de uma medição em linha recta.

Vejamos outro exemplo trivial que pode completar mais a compreensão deste fenómeno. Quando, lentamente, abrimos uma torneira e começamos a encher de água um jarro transparente, nos primeiros momentos, enquanto está vazio ou ainda com pouco líquido, temos a sensação de que ainda falta muito, o que é verdade. À medida que vai enchendo, invade-nos o está quase. Mais um pouco, e pronto! Os últimos segundos são como que de maior velocidade (se não temos que fazer esforço, repare-se!). Pelo contrário, a um atleta que está quase a atingir a meta parecem-lhe intermináveis os últimos segundos, pois o esforço exigido é muito maior. Há aqui duas sensações que se cruzam, no prazer ou na dificuldade, no final de um prova ou num final de um ciclo, tendo como constante o está quase!

Portanto, pode acontecer uma das duas situações e mais outra já pouco falta! Para fazer jus ao título deste escrito, parece haver, neste também vertiginoso quase final da Era de Peixes, esta situação - o tempo parece fugir-nos, mas, tal como o maratonista, com alguma dor. Faltam poucos metros e um último esforço a fazer para chegar... Não é necessário irmos para experiências científicas tipo laboratório, (o homem todo é o melhor laboratório) para sentir que esse pouco falta é uma espécie de “colapso do tempo” que hoje se vive, essa problemática mundial ou ferida de alma que chega a todo o lado. Apesar da quantidade de informação e de inúmeras solicitações exteriores, sentimos que tudo voa. Estamos globalmente numa mesma faixa vibratória, ainda que ampla. Um autor, que agora não nos lembra, escreveu um artigo interessante sobre as relações que parece existir entre a sensação de tempo e a metabolismo humano

Sob o ponto de vista astrológico é talvez a “excentricidade” de Urano, o desbravador da consciência, que nos retirou de uma certa estabilidade saturnina. É curioso observarmos como este último planeta rege tradicionalmente o tempo objectivo, o tic-tac dos relógios, a regularidade do cronómetro. O impacto uraniano jorra luz, estonteante a princípio. O episódio de Paulo, na estrada de Damasco, pode ser interpretado como uma intensa descarga uraniana num ego preparado para tal, e que depois fica transformado. Pode ser que a descoberta do tempo subjectivo naquele mar de luz que rodeou Paulo, fosse uma espécie de primícia do novo tempo que virá para todos nós.

Felizmente, estamos quase no fim do time is money. Agostinho da Silva dizia que «o tempo dá-o Deus de graça!» É a mesma lógica quando afirmamos que a água das nuvens e a luz do Sol dá-as Deus de graça, ainda que com sacrifício de outras Entidades.

Estamos a ficar sem tempo ao mesmo tempo que estamos a ganhar um certo tipo de vista para perceber tanta luz. De cada vez que Cristo regressa à Terra, pelo Outono (hemisfério norte) traz mais luz. Quando sai, pela Páscoa, é como se nós - instrumentos no caminho da perfeição - fôssemos mais preparados para perceber a luz. A nossa gratidão ao Maior Guia Espiritual da humanidade deveria ser ilimitada. Quanto maior é a luz, maior é a sombra – eis a nossa dor actual, como o cego que pelo tacto sabe dos objectos, mas não os pode ver. Ao fim e ao cabo é melhor ter luz do que ter tempo! O tempo dispensa-se porque é a sombra.