ANA MAGNO.....

Meditação transcendental: Um exercício para a paz

Os dias de hoje são caóticos, o stress está no nosso corpo e na nossa alma mesmo depois de um fim de semana bem passado, entranhando-se desesperadamente, a saúde ressente-se da falta de tempo e as soluções para este tipo de problema parecem impraticáveis. O que está ao nosso alcance fazer sem gastar dinheiro que possa contribuir para melhorar a nossa qualidade de vida? Querem um exemplo? Meditar…

Meditar é como estar a dormir profundamente, é um relaxamento profundo mas simultânea e paradoxalmente, com uma grande perceção fruto de uma mente que se mantém disperta. A meditação revela uma nova dimensão da consciência e da vida, uma fusão serena com algo de imaterial, uma forma mais integrada entre o interior e o exterior, portanto, mais plena. Meditar não é refletir sobre determinados assuntos, não é concentração mental com o objectivo de focar a atenção em alguma coisa. É um caminho de silêncio, de encontro com o mais fundo de nós que se faz gradualmente á medida que se vai meditando e está próximo da contemplação. É um abandono do ruído exterior e da corrida do dia a dia e um penetrar no ruído interior com o fim de o eliminar na busca da verdadeira voz de nós mesmos. Implica uma postura de despojamento relativamente ao poder que nos confere esse mergulhar da mente. No estado de meditação deixamos de estar embrulhados em pensamentos, interrogações, preocupações, conflitos de toda a ordem, desejos, sem ego e sem motivações, não se faz com esforço. Atinge-se um estado de total harmonia com o ritmo do nosso mundo interior e com o que nos rodeia. O que nos pode , então, trazer a meditação? O descanso, o bem estar, a tranquilidade, a alegria e a graça da descoberta de um sentido da vida, uma fonte, um lugar onde esse sentido habita. A meditação é como que um estado de bem-aventurança em que lenta e gradualmente nos podemos ir confrontando com todos os condicionamentos do corpo e da mente, cm todas as rugas da nossa alma, eleva-nos o nível de consciência, passamos de um estado de perceção grosseira a um estado de perceção mais subtil. Daí que haja um trabalho de purificação interior que cada um de nós tem de fazer apercebendo-se do movimento da sua mente sem interpretar, analisar, comparar, julgar. A meditação ajuda-nos a vencer a resistência ao que acontece de menos bom, ás contrariedades, á irritação. Normalmente as nossas respostas são condicionadas de acordo com a tradição, as ambições pessoais, as motivações, a cultura. Aquilo que a meditação nos convida é a inverter a marcha, crescer em vulnerabilidade, ternura, flexibilidade, deixar de estar condicionado. Observar os pensamentos tal qual eles nos surgem sentados confortavelmente com os olhos fechados. Isto requer uma aprendizagem e tempo. Temos de o aprender no dia a dia sem fazer mais nada. A pouco e pouco este estado começa a penetrar-nos, a invadir-nos em todas as atividades da vigília e a partir da í passamos a estar mais atentos a tudo, constante e intensamente conscientes de tudo o que ao redor existe – árvores, pássaros, sons, edifícios, trânsito etc. Já não estamos cegos, a sensibilidade aumenta, estamos a perceber o que se passa no exterior e o que acontece no nosso interior. Esta observação abre-nos canais de energia, de atenção, de perceção. Agora os impulsos inconscientes de raiva, ciúme, ódio, continuam lá, mas a nossa reação é de aceitação,  conteúdo do inconsciente começa então a surgir e a sugerir-nos coisas novas, por vezes sob a forma de visões ou experiências não explicáveis racionalmente. Dá-se uma abertura da mente que se pretende total. Já sem ter de nos acompanhar como habitualmente, os impulsos, s pensamentos, as emoções, a energia está livre para se exprimir na sua totalidade. Quem vive nesse estado torna-se imensamente criativo, uma criatividade que acompanha o fluir do imenso movimento da vida. Como nos diz António Damásio, no cérebro temos uma representação do corpo, o corpo é algo em que podemos pensar, um tema a ver e também podemos sentir esse mesmo corpo. Com a meditação acontece um tipo de visualização que tem um profundo poder curativo sobre o nosso corpo, quase que podemos sentir o stress a sair e um certo grau de libertação das energias negativas; as imagens mentais da meditação são ténues porque o importante é esvaziar a mente mas dá-se um sossegar do corpo e da própria mente, através da clarificação dessas imagens que se tornam ténues.

Há vários tipos ou métodos de meditação, tão profusamente divulgados quanto o podem ser hoje em dia as técnicas que ajudam a viver melhor o nosso quotidiano. Queria falar-vos daquela que aprendi e pratico já há dez anos, a técnica da Meditação Transcendental do mestre Maharishi Mahesh Yogi.

A Meditação Transcendental é uma técnica muito simples e natural que permite que a atividade mental se aquiete até atingir um estado de maior quietude interior, produzindo um profundo repouso mental e físico. Este aquietamento permite que duas coisas aconteçam: em consequência do repouso obtido, o stress profundo é eliminado e em consequência do aquietamento mental, entramos em contato com os níveis mais profundos e mais criativos da nossa própria consciência. Durante a MT, a mente permanece completamente vigilante. A pessoa está consciente daquilo que a rodeia, acordada por dentro, mas o corpo está num estado de profundo repouso e a mente está mais sossegada. No estado mais profundo de meditação, a atividade mental está completamente silenciosa mas a pessoa está plena e claramente consciente, é um estado de silêncio interior, de alerta em repouso. É chamado Consciência Transcendental, porque afinal de contas é um estado de consciência, não de inconsciência, onde os estados mais ativos do processo de pensar foram transcendidos, ultrapassados enquanto a mente está desperta mas silenciosa. A meditação leva cerca de 15 a 20 minutos, duas vezes por dia, sentando-nos confortavelmente com os olhos fechados. A altura em que se costuma meditar é de manhã e á noite, antes de comer; é uma preparação para a atividade, não uma forma de fuga á realidade, o efeito é refrescar, revitalizar e purificar a pessoa, de modoa que ela possa levar mais da sua criatividade e vivacidade a tudo o que esteja a fazer, seja o que for. A MT não é uma religião no sentido habitual do termo, visto que não depende da fé para os seus efeitos, a prática não envolve credos, dogmas ou doutrinas, nem artigos de fé ou atos de culto. Então, na MT em que meditamos? A técnica envolve a utilização sem esforço de um som específico, ou mantra, o qual é criativo no seu efeito e adequado para o indivíduo ao qual é atribuído depois de algumas indicações dadas do seu estado de saúde e tipo de personalidade ao seu professor de meditação e atribuído por este. É um simples som, sem significado ou associação de ideias, que permite á mente tranquilizar-se enquanto permanece vigilante e focalizada. Isto é importante, porque a meditação não é um estado em que se perde a focalização da mente, ou em que se deixe a nossa vontade é mercê de qualquer impulso mental passageiro. O meditante tem sempre a meditação sob controle, visto que basta abrir os olhos para que o processo pare automaticamente. Do mesmo modo, fica á escolha do meditante entregar-se a um devaneio ou voltar ao uso correto do mantra. O mantra não é uma forma de oração de louvor, de pedido ou de adoração, não meditamos tanto sobre o mantra mas com o mantra. Utilizamos o mantra para conservar a mente vigilante, enquanto o som é experimentado em níveis progressivamente mais sossegados até que se perde. Neste estado mais profundo de meditação, a experiência da Consciência Transcendental, o próprio mantra é deixado para trás. Experimentar o Transcendente é um fenómeno percetivo, sem stress passamos de um estado de perceção grosseira da realidade a níveis mais subtis de perceção e isso é Consciência Transcendental. O efeito do mantra reconhecido como benéfico, dá-se ao nível da atividade das ondas cerebrais que se torna muito mais ordenada, um estado de coerência ou sincronia das ondas cerebrais. Estas mudanças fazem-se sentir também a nível espiritual. Longe de deixar a pessoa indiferente, o fato da MT estar removendo o stress e a tensão, o fato de estarmos menos envolvidos nos nossos próprios problemas e neuroses, significa que estamos mais disponíveis para ajudar os outros. À medida que a nossa consciência se torna mais clara devido á remoção da nebulosidade mental e emocional, começamos a ver com mais clareza, com mais compaixão, as necessidades dos nossos companheiros. À medida que nós próprios nos tornamos mais fortes, perdendo o medo e tornando-nos mais corajosos, podemos ser muito mais úteis. O amor cresce no meditante, naturalmente, á medida que os bloqueios á efusão do amor se dissolvem. A natureza da vida é crescer, expandir em realização. A meditação em si mesma podia-se chamar um afastamento, um puxar a vida para trás, em direção á sua fonte silenciosa mais íntima. A prática da Meditação Transcendental constitui uma experiência única e pessoal. São reconhecidos os seus benefícios por muitas pessoas a nível da saúde e do bem-estar, mundialmente, aqui fica o convite, “Medite!”.

Ana Magno tem trabalhado como jornalista e tradutora. Mestranda em filosofia contemporânea da Faculdade de letras do Porto.