Margarida Jardim (caixa) e Caseirão (pintura com laço); Helena Almeida



Miranda Justo

MANIFESTO NO FUTURE 
... e tudo

Há sombras negras sobre os montes do amanhã
e fortes tempestades precedidas de tempestades nos montes do amanhã
há lobos uivando a agonia profética sobre os montes do amanhã
Sobre os montes do amanhã erguem-se campos de cruzes
impregnadas de napalm
Sobre os campos do amanhã o cheiro podre dos cadáveres
já não sufoca os restantes
Sobre os campos do amanhã já não há gritos aflitos
nem o saudoso assobio das bombas em queda livre
Sobre os montes do amanhã só o silêncio de morte e destruição
nem um só sussurro de dor nem um grito aflito
de mãe procurando o filho perdido durante o bombardeamento
TODOS REUNIDOS NUM CORO DE SILÊNCIO
....................................................................................NUM REQUIEM ABSOLUTO
Requiem escrito em pautas - sepultura com notas de Apocalipse
Sobre os campos e sobre os montes do amanhã
Guernica não é sozinha mas espalhada por toda a parte
Guernica - Universal
Não ! Aqui nem uma árvore resistente ficou de pé
Aqui tudo foi exterminado meticulosamente
tudo foi destruido rigorosamente
Tudo foi varrido pela chama varado pelo fogo da metralha
Com cuidado com todo o cuidado
Sobre os campos do amanhã não poderemos tirar as atrasadas lições
de Hiroshima do Vietname do Cambodja
Nos montes do amanhã JÁ É TARDE muito tarde para aprender
Em todas as pedras em todos os corpos sangrados
dos campos do amanhã há uma inscrição de morte
como se de carimbo final se tratasse
Sobre os montes os campos do amanhã
o crepúsculo é eterno
a tempestade é eterna
O Sol é uma mancha gigante de sangue alastrando
num céu pardacento e enfumarado
São tristes os campos do amanhã
São tristes os montes do amanhã
Há mortos por todos os cantos nos campos do amanhã
E os rios que correm nos montes
são rios de sangue vindos de fontes-homens
rios que nascem de corações em chaga
rios que brotam de peitos e corpos despedaçados
Sobre os montes do amanhã jazem corpos de coveiros
sem terem quem os enterre
Não se passam certidões de óbito aos mortos esteirados
nos campos do amanhã
Nem funerais nem exéquias aos mortos dos campos do amanhã
Os corpos velam-se mutuamente
Ali ! Ali ao pé daquela árvore queimada
está um braço de menino decepado
mais além
num banco feito de cinzas um casal carbonizado
Naquela fogueira mais ao longe os corpos são achas em combustão
Sobre os campos do amanhã
jaz uma "NATUREZA-MORTA" que alguém jamais pintará

FERNANDO CAMECELHA







Luísa Erbe e Manuela Almeida



Alberto Picco