Desiluda-se a direita, este governo está para durar

A.M. GALOPIM DE CARVALHO


Já vai algum tempo que  não me meto na política nacional.

Sempre que o faço, sujeito-me a comentários discordante dos dois lados do leque partidário, o que é respeitável e bom, revelado de uma liberdade, apreciada, sobretudo, pela minha geração, que sentiu na carne falta dela. Devo dizer que, pura e simplesmente, bloqueei os autores dos comentários desrespeitadores da boa educação.

Eis, pois, o que hoje me ocorre dizer sobre a situação política nacional, depois de uma madrugada a preparar os textos que coloquei nesta minha página do FB.

“Como nos aviões que, ao ganharem altitude, atravessam a espessa cobertura de nuvens e atingem o esplendor do céu e da luz, acabámos de sair desta escuridão em que, com excepção de uns tantos privilegiados, fomos levados a viver.” Escrevi, em finais de 2015, quando, caiu o governo de Passos Coelho, conduzido sem qualquer sensibilidade social, em submissão a uma União Europeia cada vez mais afastada dos princípios que a fundaram, e sob a conivência do então mais alto magistrado da Nação. Escrevi ainda que “tenho esperança que o governo agora presidido por António Costa vingue e desminta os maus presságios que uns, hábil e interesseiramente, e outros, convicta, alienada e ingenuamente, anunciam”.

Respirámos de alívio com o fim de uma governação de má memória que conduziu os nossos destinos entre 2011 e 2015, nos asfixiou e empobreceu, destruindo muitas das nossas valências económicas, a par de escândalos de corrupção descarada e impune e do aumento do número e da riqueza dos ricos. De então para cá assistimos ao ressurgimento da economia e à redução do flagelo de desemprego e ao estancar da emigração de uma juventude que a democratização do ensino qualificou a níveis nunca antes conseguidos.

Alienados pela máquina do poder e ainda marcados por receios antigos, foram muitos os portugueses que não ousam questionar um governo que lhes mentiu, os desprezou e maltratou. Porém, os legítimos representantes da maioria dos portugueses puseram fim a um pesadelo de quatro longos anos. Vitoriosa nas urnas mas sem maioria para governar, esta direita viu o seu programa reprovado no Parlamento.

António Costa e os partidos à sua esquerda que, não obstante as grandes e respeitáveis divergências ideológicas, continuam a dar-lhe o inteligente e sábio apoio, têm sabido manter compostura democrática face aos ataques soezes que não cessaram de lhe serem dirigidos. António Costa, o PCP, o BE e o PEV sabem bem que a direita não perdoa e que, ajudada pela forças que bem conhecem cá dentro e lá fora, têm tentado e vão continuar a tentar o possível e o impossível para derrubar o governo e minar os entendimentos conseguidos.   Foi, por exemplo, no ano passado, a onda amarela, por ocasião do anúncio dos cortes de financiamento aos colégios privados, Foi, este ano, a vergonhosa, consertada e descarada oposição ao governo e ao primeiro ministro face ao drama e à tragédia dos fogos florestais, cujo número, intensidade e extensão permitiram, a muitos, suspeitarem terem sido o resultado de uma acção organizada. Foi o “roubo” de material de guerra em Tancos e o imediato aproveitamento político por parte da oposição. Foram as análises e recomendações (as “palavras duras”, como alguns se lhes referiram) do Presidente da República, quanto a mim necessárias e certeiros, que a direita aproveitou, fazendo dele um aliado, na luta política que a democracia, felizmente, consente. Mas enganou-se. Marcelo tem outros objectivos que não são difíceis de adivinhar e que eu, quase diria, outras certezas. Foi o caso da Legionella pneumophila e das mesmas vozes que logo se fizeram ouvir. Só falta acusarem o ministro Luis Capoulas Santos pela seca extrema que está a afectar gravemente a nossas agricultura e pecuária, e a Ministra Ana Paula Vitorino, pelo mau estado do barco que naufragou ao largo da Figueira da Foz e pela morte de quatro malogrados pescadores.

Todos sabemos que os tempos que se avizinham continuarão a ser difíceis mas, comprovadamente melhores do que os vividos entre 2011 e 2015. Não queremos voltar para trás. Estamos a viver com menos dificuldades e esperança de melhores dias, com um governo que nos respeita e nos tem vindo a restituir a dignidade.