Diapsida basais
Do Jurássico Superior (Kimeridgiano) da mina de Guimarota (Leiria), de Porto das Barcas e Porto Dinheiro (Lourinhã) são conhecidos vestígios de um pequeno Diapsida basal do grupo dos Choristodera - Cteniogenys reedi Seiffert, 1973.
Inicialmente foi julgado como sendo um "lagarto" primitivo (Lepidossauro) e como tal foi integrado no grupo dos Eolacertilia (Seiffert 1973). Novo material, posteriormente recolhido no Jurássico Médio de Inglaterra (Evans 1989, 1990, 1991), veio todavia revelar que não se tratava de um "lagarto", mas sim de um pequeno Choristodera.
Os Choristodera foram um grupo de Répteis de hábitos aquáticos encontrados em depósitos de águas doces do Mesozóico e Terciário. Incluem entre outros, os géneros Champsosaurus (fig.17) e Simoedosaurus do Cretácico Superior e do Terciário Inferior da Europa e da América do Norte.
Cteniogenys sp. era um pequeno réptil com cerca de 16 cm de comprimento (focinho/ cloaca) e de 30cm de comprimento total (incluindo a cauda). O crânio era dorso-ventralmente achatado, o mesmo devendo acontecer em relação ao corpo. O seu focinho largo e estreito e a sua maxila inferior provida de inumeros dentes, pequenos e afiados, são características que, em geral, estão associadas aos Répteis aquáticos, o que deveria ser o seu caso. As sua morfologia esquelética faz no entanto prever que também se poderia mover com certa agilidade nas suas eventuais incursões terrestres (Evans 1991a,b).
Estes animais (Cteniogenys) são conhecidos não só do Jurássico Superior de Portugal e Médio de Inglaterra mas também do Jurássico Superior da América do Norte (Formação de Morrison).
A posição dos Choristodera no contexto dos Diapsida tem sido alvo de certa controvérsia. Inicialmente foi considerado com um grupo de Lepidossauros Eossuquianos. Trabalhos mais recentes colocam-se na base dos Archosauromorpha (Archosauria+Prolacertiformes+ Rhynchosauria - Pough et al1999).
Um outro Diapsida basal, este do ramo dos Lepidossauromorfos, talvez com hábitos parcialmente aquáticos, é também mencionado do Jurássico Superior da mina da Guimarota, Marmoretta sp. (Evans 1991b).
Crocodilianos
Restos de um Crocodilo longirrostro, Teleosauridae, Machimosaurus hugii H. V. Meyer, foram encontrados em várias localidades da Estremadura e do Algarve: Guimarota/Leiria (Kimeridgiano), Cesareda (Kimeridgiano/ Titoniano ), Paimogo/ /Lourinhã (Kimeridgiano Superior), Praia de Stª Cruz/Torres Vedras (Titoniano) e Malhão/ Algarve (Kimeridgiano Inferior) (Teixeira 1943; Ktihne 1968; Krebs 1968; Thulborn 1973a; Dantas 1987).
Trata-se de um grande crocodilo marinho, com cerca de 9 metros de comprimento, de focinho muito alongado. Da mina da Guimarota, existem no Museu do Instituto Geológico e Mineiro, parte do focinho, várias peças da cabeça, vértebras e costelas, peróneo esquerdo e ossificações dérmicas, deste animal.
Estes crocodilos têm semelhanças com os do género Steneosaurus admitindo-se que possam ter derivado de alguma espécie deste género do Jurássico Inferior. Viveram do Oxfordiano (150 M.a., B.P.) ao Titoniano (135 M.a., B.P.), ao que parece confinados à Europa. Bons nadadores, necessitariam das águas relativamente profundas, do mar aberto. Talvez apenas viessem a terra para depositar os ovos. Na Guimarota e em Paimogo foram encontrados em ambientes de transição de águas salobras. Nos outros casos em sedimentos nitidamente marinhos. O seu focinho, muito comprido e com dentição homodonte, é característico de um animal que se alimentaria de peixes. Tais tipos de focinho encontram-se nos actuais golfinhos e gavialídeos e nos extintos ictiossauros. Do Jurássico Superior da Vieira de Leiria (Pedrógão) é também referido um outro crocodilo mesossuquiano, Goniopholis sp. (Thulbom 1973a). Sauvage considerou Machimosaurus como sinónimo de Goniopholis, mas tal parece todavia não acontecer (Krebs 1968).
De várias jazidas do Jurássico Superior da região da Lourinhã e da jazida da mina de Guimarota (Leiria) provém igualmente diverso material dentário e craniano atribuído a Goniopholis (Dantas 1987; Krebs & Schwarz 2000). Nesta última jazida foi encontrada uma boa parte de um indivíduo de Goniopholis (Goniopholis cf. simus Owen, 1878), incluindo o crânio, fragmentos mandibulares, osteodermos, várias vértebras, costelas, e elementos das cinturas escapular e pélvica (Krebs & Schwarz 2000).
Os Goniopholididae constituem o principal ramo dos Mesosuchia tendo sido muito abundantes do Jurássico Superior ao Cretácico Superior, na Europa e na América do Norte. Este ramo (Neosuchia) está ao que se admite directamente aparentado com os modernos crocodilos Eussuquianos. Deveriam ter sido grandes predadores omnívoros, de hábitos anfíbios.
No Jurássico Superior (Kimeridgiano) da mina da Guimarota (Leiria) foram encontrados restos de fragmentos de mandíbulas (Seiffert 1973) que inicialmente foram interpretados como pertencendo a duas espécies de Squamata Anguimorfos (Lepidosauria) -Lisboasaurus estesi Seiffert, 1973 e L. mitrocostatus Seiffert, 1973 - mas que, após sucessivas reinterpretações, parece agora poder concluir-se, pertencerem de facto a crocodilianos.
Num primeiro reexame destes vestígios Milner & Evans (1991) verificaram que o material tipo de L. mitrocostatus não revelava caracteres diagnosticantes suficientes e como tal deveria ser considerado nomem dubium. Quanto a L. estesi concluiram que a maxila, tomada como holótipo, pertencia de facto a um Archosauria e não a um Lepidosauria. Mais concretamente, deveria pertencer a um Dinossauro Maniraptora, provavelmente próximo dos Troodontidae ou do clado Avialae. Um pouco mais tarde (Elzanovski & Wellnhofer 1992, 1993) viriam também a considerar, num trabalho acerca das relações filogenéticas de um novo taxa, Archaeomithoides, que Lisboasaurus constituiria um grupo de Dinossauros "não-avianos" próximo dos Avialae.
Entretanto foi encontrado no Barremiano (Cretácico Inferior) de Las Hoyas (província de Cuenca, Espanha) um esqueleto quase completo de um pequeno crocodilomorfo (Crocodiliforme) cuja estrutura maxilar se revelou muito próxima da de Lisboasaurus estesi (Buscalioni et al.1996). Nesta perspectiva os vestígios de L. estesi (Seiffert 1973) da mina de Guimarota (Portugal) tal como o crocodilomorfo de Las Hoyas, são agora considerados como pertencendo a um grupo de crocodilomorfos (Crocodiliformes), provavelmente próximo dos Metasuchia basais, nomeadamente de Notosuchus (Buscalioni et al.1996).
É também possível que os restos atribuídos a L. mitrocostatus pertençam a um crocodilomorfo (eventualmente crocodiliforme). Dado porém que são manifestamente insuficientes as informações que deles se podem retirar, tal não se pode todavia afirmar com um mínimo de segurança.
Do Jurássico Médio e Superior de Espanha é também assinalada a presença de alguns crocodilianos (Quesada et al. 1998). Do Jurássico Médio são referidos Thalattosuchia de La Rioja e Teleosauridae de Teruel. Do Jurássico Superior são referidos: Thalattosuchia (Teruel), Montsechosuchus depereti (Mesosuchia/ Atoposauridae) de Lérida e Machimosaurus (género também dado para Portugal) de Badajoz e Cáceres. Este último género está também referido para o Cretácico Inferior de Valência e Teruel. Do Jurássico Superior/Cretácico Inferior são mencionados: Theriosuchus (Mesosuchia/Teleosauridae), Bernissartia fagesii (Mesosuchia/ Teleosauridae), Bernissartia sp., Goniopholis cf. crassidens (Mesosuchia/Goniopholididae) e Machimosaurus de Teruel; Montsechosuchus depereti de Lérida e Teleosaurus (Mesosuchia/Teleosauridae) e, com dúvidas, Mystriosaurus (género também assinalado no Jurássico Inferior de Tomarl Portugal) de Valência.
Pterossauros
No Kimeridgiano da mina da Guimarota foram descobertos vestígios inicialmente atribuídos a espécies de dois grupos diferentes de Pterossauros: aff. Rhamphorhynchus sp. (dentes e uma falange terminal de um membro anterior) e Pterodactylus sp. (dentes) (Kiühne 1968). Wiechmann & Gloy (2000) consideram porém que este material, dentes, bem como outro material ali encontrado - ossos dos dedos, ossos da cintura escapular esquerda e outros do esqueleto apendicular - apenas poderá ser atribuído a Pterodactyloidea, família incertae sedis.
A presença de Rhamphorhynchus sp. (Thulbom 1973a) é também referida do Jurássico Superior de Vieira de Leiria (Pedrógão).
Vários ossos apendiculares do Kimeridgiano Superior/? Titoniano Inferior de Paimogo (Lourinhã) parecem igualmente poderem ser atribuídos ao grupo Pterosauria (Dantas 1987).
Os Pterossauros eram Répteis voadores que floresceram no Jurássico e se extinguiram no fim do Cretácico. Embora parentes próximos dos Dinossauros constituiam um grupo bem distinto daqueles. Os Pterossauros mais primitivos, do grupo dos Rhamphorynchoidea, já presentes no Liásico, incluem os típicos Dimorphodon e Rhamphorhynchus. Tinham uma cauda comprida e as extremidades dos membros eram tipicamente reptilianas, salvo no facto de terem o 4° dedo do membro anterior extremamente alongado, dando suporte a uma estrutura cutânea alar. Nas formas mais evolucionadas, os Pterodactyloidea, a cauda reduz-se e, embora com enormes mandíbulas, verifica-se haver uma acentuada redução dos dentes.
Admite-se que tivessem derivado de Répteis trepadores arborícolas nos quais a membrana alar se tivesse desenvolvido, numa primeira fase, para ajudar o salto (em voo planado) de uma árvore para outra (Melendez 1986). Embora este tipo de voo planado fosse para muitos autores a sua forma generalizada de locomoção, outros, pelo contrário, defendem que teriam sido voadores activos e até, em parte em relação com este facto (e por eventualmente possuirem pêlos) pudessem ter sido mesmo endotérmicos como as actuais Aves. Durante muito tempo discutiu-se a possibilidade de os Pterossauros também se poderem deslocar em terra, apoiando-se, eventualmente, nas "mãos/asas". A descoberta em 1994 de pegadas (tridáctilas) das "mãos" destes animais, no Jurássico Superior de Crayssac (Quercy, Lot/França) parece demonstrar que tal se verificava efectivamente (Mazin 2000 b).
Evidências semelhantes foram observadas na "formação de Lastres" nas Astúrias/ /Espanha (Garcia-Ramos et al. 2000).
Este grupo de animais incluía formas cujas dimensões iam de gigantescas às de pequenos pássaros. Muitos dos Rhamphoryncóides tinham asas cuja envergadura alcançava os dois metros. O maior dos Pterodactylóides conhecidos, Quetzalcoatlus, tinha uma envergadura de asas que quase atingia os 15 metros (como as asas de um pequeno avião!). Pelo contrário, alguns Pterodactylus tinham dimensões semelhantes às de uma pequena ave.
Muitos dos depósitos onde foram encontrados Pterossauros localizam-se perto da costa o que sugere que muitos deles habitassem as arribas costeiras e que, como as actuais gaivotas e outras aves marinhas, capturassem peixes na superfície das águas, em voos rasantes. A diversidade manifestada nos seus caracteres osteológicos faz contudo supor que muitos outros tivessem hábitos alimentares bastantes diferentes.
Dinossauros
São muitos numerosos os vestígios deste grupo de Archosauria no Jurássico Superior e no Cretácico de Portugal, sistemas em que as formações geológicas se mostraram muito propícias à sua preservação.
Os Dinossauros começaram a ser conhecidos quando, em 1824, Buckland descreveu um dente, segundo ele, de um réptil de grandes dimensões, que por esse motivo designou de Megalosaurus. Um ano depois Mantell descreveu um outro dente, igualmente de um pressuposto réptil gigante que, pela sua semelhança morfológica com os dentes das actuais iguanas, denominou de Iguanodon. Foi no entanto Owen que em 1841 introduziu a palavra Dinossauro (dino/deinos=terrível; sauro/saurus=lagarto ) para designar no seu conjunto estes grandes Répteis (Carvalho 1989).
Ao contrário do que foi admitido durante muitos anos, os Dinossauros mais antigos que se conhecem não são exclusivos da América do Sul. Esta presunção resultava do facto de se pensar que as formações dos Ischigualasto (Argentina) datavam do Triásico Médio, o que parece não acontecer. Estudos mais recentes atribuem-nas ao Triásico Superior (Carniano/ 228 M.a. B.P.). Assim sendo, são mais ou menos contemporâneas de outras formações conhecidas não só na América do Sul, caso do Brasil, mas também da América do Norte, Marrocos e Índia, onde igualmente foram encontrados vestígios de Dinossauros.
Os Dinossauros mais antigos que se conhecem surgem portanto quase ao mesmo tempo por toda a Pangeia (Buscalioni 1990; Heckert & Lucas 1998). Incluem Prossaurópodes, carnívoros Herrerasauridae, vários Terópodes basais (Ceratossauros) e Ornitisquianos basais. É já uma fauna relativamente diversificada, o que faz naturalmente supor que tenham tido uma origem mais recuada, talvez durante o fim do Triásico Inferior ou no Triásico Médio.
Entre outros, são assinalados de Marrocos o Prossaurópode Azendhsaurus, da América do Norte, o Ceratossauro Camposaurus arizonensis e o Ornitisquiano Pekinosaurus, do Brasil, o Terópode Herrerassaurídeo, Stauríkosaurus pricei, da Argentina, o Herrerassaurídeo, Herrerasaurus ischigualastensis, o Ornitisquiano Pisanosaurus e o Terópode basal Eoraptor lunensis, e da Índia, o provável Terópode basal Awalkeria maleriensis (Heckert & Lucas 1998; Sereno 1999; Norell et aI. 2000).
Da mesma época é também referido da Europa /Escócia, o Terópode Saltopus elgeniensis que todavia foi posteriormente considerado como nomen dubium (Rauhut & Hungerbühler 1998).
A maior parte destes Dinossauros primitivos eram animais relativamente pequenos que não chegavam a atingir os 2 metros de comprimento, à excepção do Prossaurópode Azendhsaurus e de alguns Herrerasaurídeos que alcançavam os 3/4 metros.
No começo do Triásico Superior (Carniano) esta comunidade de antigos Dinossauros dominada essencialmente pelos Prossaurópodes e por carnívoros Herrerassaurídeos era ainda uma componente muito discreta das faunas de Vertebrados terrestres.
Nos estádios seguintes (Noriano/Reciano) os Prossaurópodes continuam a ser .o grupo de Dinossauros dominante. Entre os Terópodes assiste-se ao incremento dos Ceratossauros, no fim deste período representados por formas já bastante evolucionadas, caso do conhecido Coelophysis, e paralelamente, ao progressivo desaparecimento dos Herrerasaurídeos que acabam aparentemente por se extinguir.
Na Europa, excluído o caso de Saltopus elgeniensis a que atrás nos referimos (considerado nomen dubium), os primeiros Terópodes reconhecidos com certa segurança surgem durante o Noriano e são membros dos Ceratosauria/Coelophysoidea (Rauhut & Hungerblihler 1998). A julgar pela escassez do seu registo fóssil, este grupo ainda era muito raro na Europa, apenas com alguns representantes dos géneros Liliensternus (Alemanha e França), Procompsognathus/P.triassicus (Alemanha) e Syntarsus (Inglaterra) (ver: Rauhut & Hungerblihler 1998).
Os Dinossauros não-avianos extinguiram-se de forma aparentemente abrupta no fim do Cretácico, após terem dominado a Terra durante cerca de 170 M.a.. A explicação deste fenómeno tem sido matéria de acesa polémica. A este assunto nos referiremos mais adiante com maior detalhe.
As mais de 800 espécies hoje conhecidas de Dinossauros repartem-se por dois grupos maiores: Saurischia (sauripélvicos) e Omitischia (avipélvicos), cuja origem mono ou polifílética ainda se discute. Para alguns autores estes dois grandes grupos teriam irradiado dum grupo básico de Thecodontia de onde teriam igualmente emergido os Pterosauria e Crocodylia. Para outros, os Dinosauria, incluindo os Saurischia e Omitischia, constituiriam um grupo monofilético no seio do grupo dos Omithodira que incluiria também os seus mais próximos parentes, os Lagosuchus, pequenos Archosauria, bípedes, do Triásico Médio da Argentina, e os Pterosauria.
Segundo Benton (2000), o grupo-irmão dos Dinossauros é Marasuchus, do fim do Triásico Médio da América do Sul. Conjuntamente, Marasuchus e Dinosauria constituiriam os Dinosauromorpha. Marasuchus era um pequeno carnívoro bípede, de cauda comprida, com cerca de 1.3 metros de comprimento.
Como sucede noutros casos, também a sistemática dos Dinossauros (Saurischia e Omitischia) varia de autor para autor. Por esse motivo adoptámos nas suas linhas gerais a que é preconizada por Fastovsky & Weishampel (1996) (para uma filogenia/sistemática um pouco diferente, ver, por exemplo, Sereno 1999).
Segundo estes autores (F. & W.), os Saurischia compreenderiam dois grandes grupos: os Sauropodomorpha e os Theropoda e ainda um grupo muito mais restrito, os Segnosauria (constituído por três formas de Cretácico Médio da Mongólia, Segnosaurus, Erlikosaurus e Enigmosaurus).
Os Sauropodomorpha repartir-se-iam pelos sub-grupos: Prosauropoda e Sauropoda. Os Theropoda incluiriam os Ceratosauria e os Tetanurae e ainda duas linhas basais que integrariam Eoraptor e Herrerasaurus. O grande clado dos Tetanurae, englobando as antigas infra-ordens dos Theropoda, Coelurosauria e Carnosauria, arranjo taxonórnico agora caído em desuso, incluiria por sua vez os Avetheropoda e Maniraptora. Os Maniraptora conjuntamente com Compsognathus Wagner, 1861, corresponderiam ao grupo Coelurosauria.
Os Omitischia compreenderiam por sua vez uma linha basal, os Lesothosaurus e um grande grupo designado por Genosauria. Os Genasauria incluiriam, segundo aqueles autores, os Thyreophora e Ceratopoda. O primeiro englobando os Stegosauria e Ankylosauria (conjuntamente incluídos nos Eurypoda) e, além disso, os géneros Scutellosaurus, Emausaurus e Scelidosaurus; o segundo, incluiria os Omithopoda e os Marginocephalia e, igualmente, os Pachycephalosauria e Ceratopsia.
Em Portugal, os Saurischia Sauropodomorpha estão representados, conforme os dados de que dispomos, por Saurópodes dos géneros Lourinhasaurus Dantas et al. 1998 e Dinheirosaurus Bonaparte & Mateus, 1999, em qualquer dos quais se incluem muito provavelmente todos os vestígios inicialmente atribuídos a Apatosaurus Marsh, 1877 (ou a Camarasaurus Cope, 1877), ? Brachiosaurus Riggs, 1903 e ainda por um Titanossaurídeo indeterminado. Foram também referidos, embora desde logo com sérias reservas, outros Saurópodes, casos de Astrodon Jonhston, 1859, Bothryospondylus Owen, 1875 (ver: Dantas 1990; Hunt et al1994 ) e Pelorosaurus Mantell, 1850 ( ver: Dantas 1990). Estes dois últimos géneros são considerados taxa dubia por Norman (1985).
Entre os Theropoda são mencionadas espécies dos géneros Ceratosaurus Marsh, 1884 (Ceratosauria), Torvosaurus Galton & Jensen, 1979 (Tetanurae basal), Megalosaurus Huckland, 1824, Allosaurus Marsh, 1877, Lourinhanosaurus Mateus, 1998, Stockesosaurus Madsen, 1974 e Ricardoestesia Currie, Rigby & Sloan, 1990, cf. Compsognathus, Wagner, 1861, aff. Paronychodon Cope, 1876 e Euronichodon Telles Antunes & Sigogneau-Russell, 1991, e ainda formas de ? Troodontidae indeterminados, Dromaeosauridae/Dromaeosaurinae indeterminados, Velociraptorinae indeterminados, Tyrannosauridae indeterminados, Ceratosauria indeterminados e Allosauroidea indeterminados.
Aos Terópodes pertencia o bem conhecido Tyrannosaurus rex que com os seus 12 metros de comprimento por 6 de altura e cerca de 7 toneladas de peso foi durante muito tempo considerado como o maior e mais formidável carnívoro que jamais existira, mas que todavia se encontra hoje largamente ultrapassado. Primeiro, pelos ainda maiores Acrocanthosaurus, Deinocheirus, Saurophagus e Carcharodontosaurus e, depois, pelo ainda muito maior Giganotosaurus carolinii (Carcharodontossaurídeo do Cretácico da Argentina). Para se ter uma ideia dessa diferença basta referir que enquanto o crânio de T. rex media cerca de 1.4 metros, o de G.carolonii media cerca de 2 metros (Calvo & Coria 1998).
No que respeita aos Ornitischia, são referidos diversos representantes do grupo dos Stegosauria, alguns deles, porém, de classificação duvidosa ou indeterminada: duas espécies do género Dacentrurus Lucas, 1902, uma espécie do género Dracopelta Galton, 1980, outra do género Taveirosaurus Telles Antunes & H. Russell, 1991 e uma outra do género Craterosaurus Seeley, 1874. Do grupo dos Ornithopoda são mencionados várias espécies dos géneros: Iguanodon Mantell, 1825, Camptosaurus Marsh, 1885, Draconyx Mateus & Antunes, 2001, Allocodon Thulbom, 1973, Trimucrodon Tulbom, 1973, Hypsilophodon Huxley, 1869 e Phyllodon Thulbom, 1973 e, ainda, um Dryossaurídeo.
Aos Ceratopsia foram atribuídos, com muitas dúvidas, alguns vestígios encontrados em Taveiro/Coimbra (Antunes & Pais 1978).
Neste contexto taxonómico, o género do Liásico português, Lusitanosaurus Lapparent & Zbyszewski, 1957, constituiria, conjuntamente com Scelidosaurus Owen, 1859, um grupo basal dos Thyreophora que, como referimos, engloba os Stegosauria e os Ankylosauria, muito próximo dos Eurypoda (Ornithopoda e Ceratopsia) (Fastovsky & Weishampel 1986). Isto embora, e como atrás referimos, Combs (Jr.) et al. (1990) o proponham simplesmente como um Thyreophora nomina dubia.
Dinossauros do Jurássico Médio e Superior português
A maior parte das jazidas onde foram encontrados vestígios de Dinossauros estão localizadas na orla Meso-Cenozóico portuguesa, entre Aveiro e Sesimbra, muitas delas em arribas litorais da costa atlântica.
Vestígios de um pressuposto Saurópode Diplodocídeo, inicialmente identificado como Apatosaurus alenquerensis Lapparent & Zbyszewski, 1957, são referidos do Jurássico Superior de Alenquer, Foz do Arelho, S. Bernardino (Peniche), Alcobaça, Praia da Areia Branca (Peniche), Porto das Barcas (Lourinhã), Salir de Matos (Caldas da Rainha), Óbidos, Torres Vedras, Ourém e Castanheira (Lapparent & Zbyszewski 1957). Reexaminando este material Dantas et al. (1998) consideram contudo que este não corresponde a Apatosaurus Marsh, 1877 nem a Camarasarus Cope, 1877, como fora depois interpretado por McIntosh (McIntosh 1990; Hunt et ai 1996 e Wilson & Sereno 1998), mas que corresponderia a um novo género, Lourinhasaurus e, como tal, propuseram uma nova combinação para o designar, Lourinhasaurus alenquerensis (Lapparent & Zbyszewski em 1957) tomando por holótipo o mesmo que fora proposto por Lapparent & Zbyszewski em 1957.
Nesta nova espécie Dantas et al. (1998) incluiram também um espécime descoberto em 1987 no Jurássico Superior (Kimeridgiano) de Porto Dinheiro (Lourinhã) cujo achado foi depois e preliminarmente anunciado por Dantas et al. (1992b).
Mais recentemente, Bonaparte & Mateus (1999) embora considerando que, baseada no holótipo descrito por Lapparent & Zbyszewski (1957), a designação do novo género e espécie fora correcta, englobando eventualmente muitos dos vestígios inicialmente atribuídos a Apatosaurus alenquerensis, era contudo muito duvidosa a inclusão neste taxa do esqueleto incompleto que tinha sido encontrado em Porto Dinheiro e que se encontra depositado no Museu da Lourinhã. Argumentam que os vestígios disponíveis não permitem fazer comparações fiáveis entre os diferentes espécimes que foram encontrados. Enquanto que no exemplar de Porto Dinheiro se dispõe de vértebras dorsais e cervicais (mas não de restos apendiculares ou das cinturas pélvicas e escapulares), no restante material identificado como Lourinhasaurus, pelo contrário, embora existam peças apendiculares e das cinturas, não existem todavia quaisquer vestígios de vértebras. Assim sendo, e embora admitindo que estudos posteriores possam vir a revelar que todo este material pertence na realidade a uma única espécie, propuseram um novo género e espécie para o exemplar de Porto Dinheiro - Dinheirosaurus lourinhanensis Bonaparte & Mateus, 1999.
Os Apatosaurus, tal como os Camarasaurus e Dipiodocus, e presume-se que também Lourinhasaurus/Dinheirosaurus, eram gigantescos quadrúpedes herbívoros, com mais de 20 metros de comprimento e 20 toneladas de peso, de cauda muito longa e pescoço comprido, onde culminava uma pequena cabeça. Viveriam em manadas, em áreas baixas e planas.
Um outro Saurópode, do grupo dos Brachiossaurídeos, Brachiosaurus atalaiensis Lapparent & Zbyszewski, 1957 é mencionado do Jurássico Superior de Atalaia (Lourinhã), Ourém, Praia da Areia Branca, Ribamar, Maceira, Alcobaça, Porto Novo, Cambelas/Torres Vedras e da praia de Almoinhas (Lapparent & Zbyszewski 1957).