O Jardim dos Frades –
Deambulações pelo Aqueduto da Prata

Marjoke Krom e Mariana Valente

marjoke.krom@gmail.com e mjv@uevora.pt

 

 

 

 

 

Terceiro tempo: O olho e a mão preparam os primeiros elementos da ciência

“Now these matters are understood, I shall tell of certain marvels wrought through the agency of Art and Nature, and will afterwards assign them to their causes and modes. In these there is no magic whatsoever; because, as has been said, all magical power is inferior to these Works and incompetent to accomplish them.” (1)

(Ilustração13) O que sabemos de facto sobre o lugar que na memória oral ficou guardado sob o nome de ‘Jardim dos Frades’?

Dizem alguns que este se situava perto do ‘cano alto’ do Aqueduto da Prata, cujo trajecto cobre os alicerces dum antigo aqueduto romano, e cuja construção, atribuído aos arquitectos Arruda, data do reinado de D. João III na primeira metade do século dezasseis.

Brota aqui a água férrea da fonte que dá pelo mesmo nome, alimentando uma vegetação exuberante que raramente se associa à paisagem alentejana. Ainda se conseguem discernir vagamente os contornos do jardim pelos vestígios do muro que o cercava. (Ilustração14)

A nossa viagem espiritual levou-nos ao longo do ribeiro serpenteando “por alcantiladas margens ensombradas com centenários choupos cobertos de musgo, a Norte da arcaria imponente do Aqueduto”,  até dar com uma “ponte roqueira” cujas faces no tempo de Túlio Espanca mantinham vestígios de uma rude decoração e que parece datar dos princípios do quinhentismo (2).

Descendo o caminho invadido pelas ervas daninhas chegámos ao sítio que na memória popular é designado por ‘horta dos frades’.  

 Afirmam os testemunhos orais que os mesmos viviam lá perto, numa tapada incorporada na quinta de S. Pedro de Valcovo. (Ilustração 15 janela da capela)

Escondida numa paisagem que Túlio Espanca descreve como “a mais ubérrima zona arvense e frutífera de Évora”, distinguia-se desta ermida ainda o campanário despido de sino, “a porta de vergas de granito, hoje transformado em janela, com cruz de estuque sotoposta a simples óculo circular que ilumina o interior.” (3).

Perto da dita ‘tapada’ encontramos o muro da referida ‘horta dos frades’ - ou será melhor falar aqui de ‘horto’ já que Espanca refere a existência de um antigo pomar? (Ilustração 16 Fonte Mourisca-Jardim dos Frades)

Aqui damos por uma fonte ‘de mergulho’ a que Espanca chama “de tipo mourisca’,  com pórtico de quatro arcos, na memória oral chamado de cinco bicas e uma cúpula aguçada...  Mais do que frades, talvez seja mais fácil imaginar aqui as damas da casa senhorial da Quinta de S. Pedro a mergulharem os pezinhos na água da fonte.

Há mais indícios da presença dos frades na zona directamente envolvente ao nosso jardim: a Quinta do Mau Frade, a Quinta do Inquisidor, a Fonte do Abade...

Passamos ainda pelo Convento de Cartuxa da Ordem de S. Bento, cujos frades tomaram o hábito de deambular ao longo do Aqueduto da Prata, passando pelo nosso Jardim dos Frades.
(Ilustração 17 Frades a passear)

Notas
(1) R. Bacon (séc. XIII), De mirabile potestate artis et naturae, citado por Brian Clegg, The First Scientist, 145

(2) T. Espanca, Inventário Artístico de Portugal, 326

(3) T. Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 46

 

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Última Actualização:
15-Sep-2006