O JARDIM NOS MITOS DA CRIAÇÃO DO MUNDO
Alexandra Soveral Dias e Ana Luísa Janeira

INDEX

Sumário
PARTE I
O JARDIM NOS MITOS DA CRIAÇÃO DO MUNDO
A questão das Origens ou quem somos de onde vimos, para onde vamos?
O jardim original
Outros jardins mitológicos
Árvores mitológicas
Conjecturas sobre a origem do Jardim do Éden

PARTE II
EXPLICAÇÃO, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO NOS MITOS DE CRIAÇÃO:
A recriação do mito fundador do Éden por terras brasílicas
Explicação, compreensão e interpretação nos mitos de criação
A recriação do mito fundador do Éden por terras brasílicas

NOTAS E REFERÊNCIAS

Explicação, compreensão e interpretação nos mitos de criação

No caso dos mitos da criação, as exigências de uma perspectiva globalizante impõe um caixilho configurativo que possibilite conjugar o todo, o antes e o depois do nada, com uma espécie muito significativa de jogos e de tensões entre o virtual e o real. A arqueologia do processo requer as competências que procuram articular a grandeza inexplicável e a capacidade de a interceptar pelo pensamento-sentimento.

De facto, trata-se de uma gestação complexa com mecanismos muito prementes e anódinos entre o que a razão concebe a seu modo e o que o afecto ergue com ardor, num conjunto de elementos heterogéneos.

Situação onde a hermenêutica disseca múltiplas ambiguidades que parecem ter sido escolhidas propositadamente para preencherem vazios e hiatos de ignorância. Quer isto dizer que o surto alegórico ou fabuloso faz escolhas entre quase impossíveis e reúne peças dispersas numa possibilidade integradora.

Daí o tom encantatório com que se constrói, significante prosseguido entre um acontecimento arquetípico que é preciso contar e uma estória que se quer ficcional desde a primeira palavra.

Estrutura que no limite encontra o seu suporte integrador nas cosmogonias, essas magníficas explanações apostadas em fazer reviver os primeiros passos do universo, a partir de uma explanação que outorga para si o direito de falar da totalidade com os termos e as preocupações do local, a partir do qual emerge a narrativa.

Daí que cada cosmogonia represente sempre um retrato das vivências individualizadas da comunidade que a faz nascer.

Fazendo-o, aliás, em função de um espaço preciso e de um tempo concreto. Ou seja, a cosmogonia, e consequentemente o mito de criação seu particular, retroprojecta as características de uma sociedade determinada e os projectos como ela se revê, numa mistura entre real e ideal. Talvez por isso, as dificuldades que a leitura sente para acompanhar as formas de contar os primórdios, primórdios do que escapa por essência.

Na verdade, correspondem a uma integração com desníveis variados e muitas vezes difíceis de conciliar, à distância… Assim sendo, constituem fontes privilegiadas para quem conhecer os hábitos e atitudes das colectividades que os viu nascer.

Por isso mesmo, dizer que a Natureza tem uma permanência neste tipo de mitos é uma afirmação óbvia. Com efeito, corresponde a uma presença imprescindível quando o espírito congemina como era no princípio, a ponto de se poder avançar que o pensamento parece recusar a existência de um cosmos sem natura, qual inconsistência lógica tocando o absurdo.

“Aspecto que deve igualmente ser completado pela constatação de como são possíveis as mesmas aproximações, face a permanências e alternâncias, relativamente a ritmos de vida-morte durante o processo de subsistência.

Orientadas para descrever os primórdios – onde e como o nada gerou o todo –, as cosmogonias tratam das condições gerais de formação do mundo. Inserem, por isso, uma narrativa focada para contar momentos cruciais de um tempo sem história, mas ao qual é devido o surto originador da cronologia. E existem principalmente para memorizar o que não deve ser esquecido, sem dano maior.

A origem absoluta das coisas recorre-se de correlatos, fundamentos e filiações de palavras que falam de criadores e de criaturas, de humanos e de animais, de pedras e de flores: céu e terra, fogo e água que põem em marcha a máquina do mundo.

O cosmos é precedido pelo caos. A ausência de forma abre espaço para expressões de uma matéria individualizada. Como consequência, a Natureza intervém como cenário de mudanças decisivas a relevar configurações intensas, na generalidade das Culturas.

Segundo a generalidade dos mitos da criação, a amálgama primitiva irrompe numa Natureza primordial marcante, figura saliente da cena, num quadro geral onde os humanos vão inscrever uma série de actos pré-formativos, ligados a aventuras que irão imprimir destinos perdurantes para a Humanidade.

Não se extrapole, contudo, que a situação é genericamente a de um jardim. Realmente, seja por um centrismo judaico-cristão conjugado ao facto de ser porventura a passagem bíblica mais difundida, há propensão para supor que a imagem também estará espalhada pela maioria das cosmogonias, o que é falso.

Por outras palavras, o modo de actuar de um pensamento dominante sobre os demais provoca, também aqui, o funcionamento totalizante dos preconceitos logocêntricos a pender para generalizações abusivas.

Muito provavelmente, a configuração semita ligada ao deserto terá gerado a necessidade de conceber o princípio como traslado de um oásis ordenado, por oposição. Ao invés, os povos da floresta, como os amazónicos, terão mantido a ideia de uma luxúria natural intensa e desordenada, por semelhança.

A fenomenologia da planificação veicula a formação de um universo, harmonia particular gerada a partir de princípios arquetípicos, orientados para genealogias estruturantes. A emergência do itinerário relativo às fases e aos momentos do curso criativo comporta sequências marcadas por ritmos, quando os corpos ocupam os lugares, por via da virtualidade transformada em actualidade.

As energias intelectuais e afectivas que alimentam o “pro-jecto”, que quer dizer precisamente “lançado para a frente”, enquadram todos os corolários, dos continentes aos conteúdos. Parece, por isso mesmo, serem esses os elementos a constituir o âmago que regista o encontro entre o sem-tempo e o tempo, com equivalências unindo o sabido e o sem-tempo ou o não-sabido e o tempo. O tempo, esse mesmo, entra no contexto, para significar precisamente aquilo que vai potencializar os instantes e os acontecimentos “por-vir”.

Em muitas cosmogonias, as más escolhas – que como anota Claude Lévi-Strauss nas Mythologies (23) estão associadas a uma gestão dos sentidos errada – acarretam perdas: a brevidade da vida, a morte como condição inclusive. No caso, as más escolhas do paisagista – maus esquemas hidráulicos, plantas inadequadas, localizações solares erradas – transportam perigos para a organicidade. Por carência ou por excesso, condenam-no à fragilidade ou à sobrevivência efémera e desoladora, como aconteceu, entre outras génesis, com o Jardim do Éden.” (24)

Apenas

"Naturarte" e "Lápis de Carvão"
Comunicações aos colóquios em livros de cordel, publicados pela
Apenas Livros Lda.

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Última Actualização:
29-Jun-2006




 

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