Cavaleiro do Templo

PAULO BRITO E ABREU


CAVALEIRO DO TEMPLO

( invoco, para a Musa minha, o 9 de Copas )

à Maria Azenha
ao Jacob Levy Moreno
à Hermética Irmandade dos Amigos da Luz

Cavalgava noite fria,

O ar gelava como açoite,

E a Voz assim dizia:

«Cavaleiro, boa-noite.»

Travessei pelo Deserto

Toda a noute, e onde a Esp’ rança?

E a Voz me disse perto:

«Cavaleiro, ora descansa.»

Venho exausto, o mar é longe,

Fui corrido pela aldeia…

E a Voz me disse monge:

«Senhor Padre, aqui a ceia.»

Sou Templário, minha freira,

Dá-me cota e armadura…

E a Voz era fagueira:

«Senhor Padre, é noite escura.»

E sonhei que em pleno dia

Era a nuvem colombina,

Era meigo rouxinol:

«Cavaleiro, eu sou Maria,

Sou a tua pequenina,

Dorme, dorme sob o Sol.»

In «Poetânea 6», livro colectivo.
Coordenação de Julião Bernardes, Junho de 2007.


ACRÓSTICO FIEL

Manhã tardia de noite sedenta,

Íman electrizante, inexplicável,

Noite, Mãe e filha da mais violenta,

Hora do Amor doentio mais saudável.

Amanhecer diário sem se notar,

Transportando nos olhos o meu poema,

Enquanto nos lábios, pra me abraçar,

Resguarda, pra me dar, ternura amena.

E nesses beijos, formas de dizer,

Seguros de que um V’ rão enorme e quente

Apareceu em si pra a aquecer,

Vai firmíssima pelo Amor em frente,

Amando incapaz de retroceder,

Zangar-se, ou deixar de ficar contente.

Lisboa, 29/ 06/ 1980
AMOR MAGISTER EST OPTIMUS
JOÃO BELO


IDÍLIO FRANCISCANO

( avoco, para a Musa minha, o Ás de Paus )

«in memoriam» do Padre Manuel Antunes

 

À hora dessas rezas, à noitinha,

Afogado em tristezas, e em pena,

Doce luz eu vi, pois, que se avizinha…

Perguntei-lhe: «Quem sois?» – «Meu nome é Lena.»

E tudo era color, ó Rosa minha,

Que à hora do fulgor, a Bela ordena…

Citereia lá vinha, era Rainha,

Que andorinha tu és, e flor amena.

E pois que a meiga branda, em flor de lis,

Demanda, meu Senhor, pela Sophia,

E pois que é deleitosa, e cor d’ Assis

A Rosa numa veiga se anuncia,

Eis Bela, a avena bela, é Beatriz,

Que a flor de anis anelo, e nasce o dia.

In «Loas à Lua», SOL XXI, 1996.


NA PARTIDA DA SENHORA BEATRIZ

( inspirado no «Alma minha gentil que te partiste» )

 

( avoco, para a Musa minha, o 3 de Copas )

de todo o coração, ao José Manuel Rabaça

Amada Beatriz, que em tua Sorte

Sofreste cá da mágoa o cruel gume,

Repousa lá no Céu, sem azedume,

E viva eu de saudades e de morte.

Se lá, no divo assento, onde és tu Norte,

Memória desta vida se presume,

Tu dá-nos, lá do Céu, teu vivo lume

E pede ao Pai que a dor, a pena corte.

E se vires que ali podes lembrar-te,

Amada Beatriz, no teu fulgor,

Dos filhos e dos netos por quem Marte

E Apolo e Vénus foram teu louvor,

Diz a Deus, diz a Deus, que Ele também parte

Quando parte uma esposa do Senhor.

 

MISERANDO ATQUE ELIGENDO
In «Loas à Lua», SOL XXI, 1996.


RESTAURANTE SUL-AMÉRICA
Este poema foi escrito em homenagem ao Café-Restaurante «Sul-América»
e a tudo o que nele existe.

( avoco, para a Musa minha, o 3 de Ouros )

à memória do Doutor Agostinho Maldonado

 

«Sul-América» ruiva de minhas sensações morfinas,

Rapariga doida e prenhe em espasmos de dar à luz,

Doce a parir todos os nascidos pelo Universo todo,

Boca de jogadora precoce a subtilizar todas as questões

Que não precisam de ser subtilizadas,

Homem másculo e mascarado em mim mesmo fora de mim

A indicar-me o caminho perene,

Cortinados de veludo por sobre a minha sensação

Mais que colorida, ferida e abandonada

Num cais-dormitório à balada da meia-noite,

À balada triste da meia-noite;

Por tudo isso, Sul-América,

Sul-América raiva de minhas sensações morfinas,

Doce perene a indicar-me o caminho triste da salvação,

O caminho triste da salvação totalmente desconhecido daqueles

Que já têm a salvação por não a possuírem completamente,

Ribanceira por mim abaixo a pronunciar palavras de amor,

Tenra, tão noite, querida, mito de Pitagorismo surrealista.

Por tudo isso, Sul-América.

In «Viola Delta VI», livro colectivo, Edições Mic, 1979.
In «Cântico Jovem para a tua Rebelião», Edições Mic, 1984.
In «O Livre e a Lavra», Universitária Editora, 1999.


SÉTIMO ENCONTRO TRIPLOV NA QUINTA DO FRADE
Casa das Monjas Dominicanas . Lumiar . Lisboa .  17 de Novembro de 2018
Quinta do Frade (nas traseiras da Praça Rainha D. Filipa), Lisboa, 1600-681 Lisboa .

Metro: Linha amarela . Estação: Quinta das Conchas.
encontrostriplov@triplov.com