Maçonaria

Feminina

Texto extraído do Dicionário de Maçonaria de Joaquim Gervásio de Figueiredo - 33º
 

Em sã consciência, na Maçonaria e em seus rituais nada existe de que a mulher não possa participar, e em sua antiga tradição nada há que justifique a recusa e afastamento do elemento feminino das cerimônias e iniciações maçônicas. E a julgar pelo que se observa em todas as religiões e igrejas, a admissão da cara-metade do homem nos templos maçônicos, hoje tão vazios em toda à parte, só lhes poderia dar maior colorido e vitalidade, e enriquecer sua cultura, sua moral e sua utilidade social.

Tornaria a Loja maçônica mais completa em seu significado filosófico-espiritual e mais autêntica em seu conteúdo simbólico, a ser verdadeira (como o é) a lenda maçônica de que uma Loja é o símbolo do universo, ou o universo em miniatura. Ora, no universo de Deus não há nenhuma distinção entre os sexos; não existem ali leis femininas; as leis iguais para todos, homens e mulheres, anjos e humanos, vivos e mortos. Se esse é o exemplo que nos dá o G.'.A.'.D.'.U.'., por que fazerem os homens coisa diferente no mundo, e especialmente na Loja maçônica, reflexo desse Universo? Portanto, sob o critério filosófico, a Maçonaria se destina tanto ao homem como a mulher, complementos que são um do outro e destinados como estão a constituir a família como base celular de uma sociedade bem organizada.

Examinando este assunto à luz da tradição maçônica, se remontamos sua origem aos antigos Mistérios do Egito, Grécia e Roma, sem esquecer a escola de Pitágoras, fundada em Crotana, em 529 ªC., calcada nesses mistérios, e depois difundida pela Grécia, ali encontramos iniciados homens e mulheres, passando todos igualmente pelas mesmas provas e cerimônias. Se, ao contrário, preferimos encurtar a idade da Maçonaria e situar sua origem nas Corporações Operativas da Idade Média, se então nada descobrimos expresso claramente a favor dessa tese, também nada deparamos contra. Essa foi uma época tenebrosa para a Maçonaria, em que ela foi forçada a trabalhar em completa clandestinidade, devido às perseguições da Igreja Católica e dos governos ditatoriais. Some-se a isso a sua característica de sociedade secreta, que nada deixava escrito, e a do trabalho profissional de seus membros, que era de natureza masculina, e tem-se a completa explicação. No entanto, o exame dos mais antigos documentos maçônicos existentes na Inglaterra, que são minuciosos em pormenores e em proibições, não nos mostra nenhuma proibição contra as mulheres, e há mesmo indicações de que elas por ali andaram. O primeiro Escrito com o nome de Freemason que aparece, é um ato do Parlamento do ano de 1350, 25º do reinado de Eduardo I, regulamentando a profissão de pedreiro; é minucioso, mas omisso em relação à mulher.

Depois vem o chamado "Manuscrito Régio" ou "Manuscrito de Halliwell", descoberto por um antiquário não-maçom e aparentemente sacerdote católico, no Museu Britânico de Dnodez, escrito em 1390 e publicado no Magazine Free-mason de junho de 1815, porém que, segundo alguns autores, era cópia de um escrito mais antigo. Trata-se de um pequeno livro em papel de vitela, redigido em poema, com 794 versos em inglês antigo; as linhas 1 a 86 tratam da antiga tradição da corporação, e em seguida, divididos em duas partes, os 15 pontos da lei, aumentados de 15 pontos amplificativos denominados Plures Constitutiones. Dos versos 97 ao 794, que são de estrito teor legal maçônico, não se encontra nenhuma consignação de ser a Maçonaria privativa tão-só do homem. Bem ao contrário, deparam-se ali provas de que a Maçonaria Operativa daquela época tinha, no mínimo, a colaboração feminina. Com efeito, em seu artigo 10 º, versos 203 e 204, se lêem: que nenhum Mestre suplante outro, senão que procedam entre si como irmão e irmã. No ponto 9º versos 351 e 352 se dizem: amavelmente servindo-nos a todos, como se fôssemos irmã e irmão.

Em todo esse histórico documento, básico para uma autêntica enumeração dos "Antigos Limites", ou Landmarks, existe só uma proibição: a de admitir como Aprendizes os servos (verso 129) e os inválidos (verso 154). Também a Constituição de York (cf. YORK, Carta ou Constituição), de 926, em seu artigo 11º assinala a condição obrigatória de o candidato à Iniciação não ser servo, inválido ou de maus costumes nada expressa contra a iniciação da mulher. Igualmente nada se encontra em outros documentos antigos, como o "Manuscrito de Watson", datado de 1440, o qual coincide bastante com o "Manuscrito Régio" e com o "Manuscrito de Rawlison", levando o nome de quem o descobriu na Biblioteca Bodleina de Oxford.

Afinal, no regulamento elaborado em Londres, em 27 de Dezembro de 1663, numa assembléia geral, em que Henry Jermin, Conde de Sto. Albano, foi eleito Grão-Mestre, consta em seu artigo 2º que "ninguém seria admitido na confraria que não fosse são de corpo, de nascimento honrado, de boa reputação e submetido às leis do país". Ainda uma vez nenhuma referência à mulher. Mais recente ainda é as Constituições da Grande Loja de Hamburgo e os Estatutos da Grande Loja e da Dieta Alemã. Essas Constituições foram aceitas e aprovadas em 10 de Março de 1782, sendo Frederico Guilherme da Prússia o Grão-Mestre e Protetor da Ordem. Elas reproduzem com esmerada exatidão os "Antigos Limites", sob a denominação mais moderna de "Charges Landmarks", e nenhuma alusão fazem à mulher ou contra a sua admissão na Maçonaria. A primeira vez que tal proibição aparece, na longa história da Maçonaria, é no "Livro das Constituições", compilado e publicado em 1723, por James Anderson, presbítero anglicano e Gr.´. Vig.´. da Gr.´. Loja de Londres, em seu artigo 3º, que diz, no final: "As pessoas admitidas a fazer parte de uma Loja devem ser boas, sinceras, livres, de idade madura; não são admitidos escravos, mulheres, pessoas imorais e escandalosas, mas exclusivamente as que gozem boa reputação."

Esta proibição foi repetida posteriormente no 18º Landmark compilado por Mackey em sua Enciclopédia. Donde teria James tirado tal proibição para enxertá-la em sua Constituição? É difícil saber-se agora. Tê-la-ia inspirado o Antigo Testamento, em que a lei mosaica era tão dura e cruel com a mulher (João 8:4, 5) e tão liberal com o homem (I Reis 11:3), ao cometerem o mesmo pecado? Ou teve de jungir-se a algum preconceito inglês daquela época, talvez mesmo apoiado em lei que, mesmo no século XIX foi tão difícil e dolorosa a emancipação política da mulher naquele país, como bem o atesta a luta desesperada das sufragistas? Ramsay, contemporâneo dos reformadores, é desta opinião (V.RAMSAY, Miguel André, 5º). A não ser assim, é inexplicável como se veio a admitir e criar esse óbice à mulher justamente na ocasião em que se ampliaram os horizontes da Maçonaria, transformando-a de operativa em especulativa, e pelas mesmas mãos que codificaram suas leis e princípios!

O fato é que a Maçonaria continental jamais se conformou com tratamento tão esdrúxulo. Conseqüentemente, em 1730 esboçou-se na França a Maçonaria de Adoção, para as mulheres, em quatro graus. Outras Ordens surgiram depois, como a de Moisés em 1738 fundada por alemães, e a dos Lenhadores em 1747, derivada dos Cabonários na Itália. Mais associações similares vieram depois, como a Ordem do Machado e a Ordem da Felicidade, na França, cujo Grande Oriente acabou criando um novo Rito em 1774, chamado de Adoção, com seus regulamentos e sob o patrocínio de uma Loja regular. Em 27 de Julho de 1786, o conde Cagliostro funda em Lyon, França, a Loja-Master Sabedoria Triunfante, do Rito da Maçonaria Egípcia, adaptado a homens e mulheres. E finalmente as Lojas de Adoção se espalharam por toda a Europa e depois pela América do Norte, e o movimento culminou na fundação em 4 de abril de 1893, pelo Dr. Georges Martim e sua esposa, da Ordem Maçônica Mista Internacional "O Direito Humano", também conhecida por Co-maçonaria Internacional, que outorga igual direito a homens e mulheres "livres e de bons costumes" e os admite ao mesmo nível de igualdade.

(Cf. Anderson, reverendo James; Co-maçonaria; Landmarks; Luminares; Mistérios; - Cretenses, 2 e as suas outras divisões; Rito Egípcio de Adoção, de Cagliostro; York, Carta ou Constituição de.)

A.'.V.'.C.'.B.'.:: http://www.carbonaria.org/vendas/vendas60.htm
"Cuando los que mandan pierden la vergüenza,
los que obedecen pierden el respeto"
Página Principal - Mapa do Sítio - Naturalismo - Alta Venda