A ALQUIMIA NO FUNDO BIBLIOGRÁFICO
DA ESCOLA  POLITÉCNICA
PILAR PEREIRA

INTRODUÇÃO

As origens da Química poderão, talvez, remontar à conquista e salvaguarda do fogo pelo Homem, que desde os tempos mais recuados a aplicava, ignorando-lhe a existência. Apesar do nome de Química ter aparecido relativamente tarde, esta “ciência” começou nas oficinas do forjador, do oleiro, do vidraceiro, do ourives, do pintor, do tintureiro, etc.

A Química conheceu durante a sua evolução histórica diversos períodos de conteúdos científicos muito diferentes. Assim temos um período pré-histórico (dos tempos pré-históricos até certa do ano 1500 antes de Cristo), um período alquímico (do ano 1500 a. C. até cerca do ano 1650 da nossa era), um período iatroquímico (de 1500 a 1700), um período flogístico ( de 1650 a 1750), um período quantitativo-pneumático (de 1750 a 1900) e um período quântico-mecânico-estatístico (de 1900 até aos nossos dias). São obvias as sobreposições históricas destes períodos não estanques, pois qualquer mudança demora sempre vários anos a implementar-se definitivamente. A ciência química, como hoje nos é apresentada, começa verdadeiramente no séc. XVII, diferenciada da alquimia.

Antes de iniciarmos propriamente o tema que nos propusemos tratar, passamos de imediato a expor as ideias mais elementares da Alquimia. Assim começamos por perguntar qual será o seu país de origem? As opiniões dividem-se entre o Egipto e a China.

Desde a mais alta Antiguidade que os chineses fabricavam cerâmicas e metais e conheciam a pólvora para canhão ; preparavam remédios a partir de produtos e fabricavam objectos por processos de simples rotina : sal-gema, índigo, açucares, mel, agulhas, carvão vegetal, enxofre, arsénio, óleos, armas, ...

Os egípcios sabiam extrair o ouro e a prata, um certo número de outros metais e preparavam pomadas, unguentos, emplastros, pílulas, vermífugos, etc..

Mais perto de nós, os gregos e os romanos exploravam minas de ouro, cobre e ferro, fabricavam cerâmica, vidros e possuíam uma indústria e um artesanato bastante consideráveis.

Abordemos agora a etimologia da palavra alquimia.

Como o artigo AL o indica, é árabe (al-kimya) ; a origem do vocábulo Kimya, segundo algumas hipóteses, viria do egipcio Kemeia (negro), que pode ter dois sentidos:

a) A “terra negra”

b) Negro, que era a matéria original da transmutação, isto é, a arte de tratar o “metal negro” para daí extrair os metais preciosos.

Para outros, a palavra química poderia vir do grego Khymeia “fusão”, isto é, a arte de fundir o ouro e a prata.

Segundo Plutarco a Alquimia seria a ciência do Egipto, por excelência. Graças à Escola de Alexandria e à contribuição dos árabes, a Alquimia prosperou e encontrou um novo sopro durante toda a Idade Média (sécs. VI-XVI).

O centro das preocupações dos alquimistas era a descoberta da PEDRA FILOSOFAL.

Ela devia permitir fabricar ouro a partir de metais comuns; para uns, esta famosa pedra poderia ser, tanto sulfurio de mercúrio natural de um belo encarnado vermelhão como enxofre; outros reconheciam-na no cádmio, que amarelecia o cobre ou branqueava o arsénio; para alguns iluminados era uma coisa sobrenatural, que não podia ser agarrada senão em condições excepcionais. Para todos era uma substância que devia transmutar os metais em ouro e procurar a riqueza. Esta Pedra no estado líquido chamava-se elixir filosofal ou panaceia universal; ela devia transmitir longa vida, juventude e saúde e, porque não, conferir a imortalidade!.

A censura que se pode fazer à alquimia é a de ter sido uma prática secreta, hermética, com ligações à magia e sobretudo de ter ignorado o método científico e o sentido crítico.

O hermetismo desta prática deixa supor que se conheciam muitas coisas, que se dissimulavam e que são consideradas, nos nossos dias, como de origem moderna.Um exemplo é o chamado “banho-maria”, que permite aquecer uma substância sobre um recipiente com água que ferve à temperatura máxima de 100º; e da alquimia árabe provém o alambique, tão útil para as destilações. Não podemos esquecer que este período foi marcado pela intolerância dogmática e que a alquimia como ciência oculta e secreta era circunscrita a poucos adeptos, os quais estavam sujeitos a penas muito severas caso fossem comprovadas as suas práticas de feitiçaria, magia ou contacto com o Demónio.

..Não podemos neste curto intervalo de tempo alongar-nos . Fizemos aqui uma breve introdução com os traços essenciais do que foi a Alquimia. Apresentamos agora o plano que vamos seguir:

Na 1ª parte apresentaremos as fontes bibliográficas antigas mais relevantes e utilizadas pelos alquimistas.

Uma 2ª parte, cronológica, será consagrada aos alquimistas mais célebres durante a Idade Média.

Finalmente apresentamos a introdução da alquimia na Europa, incluindo Portugal com a apresentação das obras que versam a alquimia e que fazem parte do Fundo Bibliográfico da Escola Politécnica.

 
 
II Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas (1999)

IN: Discursos e Práticas Alquímicas. Volume II (2002) - Org. de José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço. Hugin Editores, Lisboa, 330 pp. hugin@esoterica.pt

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