A Violência Onírica no Banheiro Químico

RICARDO AKIRA KOKADO


Meu nome é Ricardo Akira Kokado. Nasci e moro em São Paulo – Brasil. Sou poeta e haicaísta. Tenho haicais publicados nos livros “100 Haicaístas Brasileiros”, Editora Aliança Cultural Brasil-Japão, 1990; “As Quatro Estações – Antologia do Grêmio Haicai Ipê”, Massao Ohno Editor e Aliança Cultural Brasil-Japão, 1991; “Antologia do Haicai Latino-Americano” (Humberto Senegal, org.)  Massao Ohno Editor e Aliança Cultural Brasil-Japão, 1993. Atualmente estou postando meus haicais no blog Ninho de Tulipas: https://ninhodetupilas.blogspot.com. Escrevo também poesias surrealistas que estão sendo postados no blog Nirvana com Quiabo: https://nirvanacomquiabo.blogspot.com.


A Violência Onírica no Banheiro Químico

 

a vertigem absorve

a luz negra

bonecas carnívoras

de seios

intumescidos praticam o sexo

nas cercanias

do paraíso

tiro à queima-roupa

ramos de paradoxo descem

ao inferno até

as antípodas da crueldade


Um Copo de Frenesi

 

berço da dissociação

primícias

da matéria

as chamas que suscitam

o susto

são portadoras do pensamento

selvagem

o verbo à deriva provém

do Nada & promove a violência

poética

eis a poterna da geena

legado herdado

pela nova

geração de anjos caídos


 O Parto da Estrela Cadente

 

o Ouroboros

visita os lugares de poder

os Arcontes moram

em tulipas

& organizam a Saturnália

no solstício da beleza

bruma de Pleroma

teia de ilusão

que conserva o fogo

astuto

os Ídolos traduzem os poemas

para a linguagem

das árvores

a tribo de totens

bombardeia a primavera

bailarinas

rodopiam seus corpos cravejados

de piercings

revelando o Deus travesso

o padroeiro

dos poetas malditos


A Substância Sublime do Corpo

 

seu corpo

boneca transexual

proveniente da soma de vários

sentidos

devassa meus cinco sentidos

abrindo com a chave

da alegoria

as portas da percepção

seus lábios

contém o fruto do verbo

que me emblema & significa


A Órbita do Eco

 

o satori é uma jaula

de cometas

sutra solar sutra lunar

fértil em desordem

a arte bruta

é o fruto

numinoso do inconsciente

o grito consagra

o andrógino

cobrindo-o de todo

pesadelo


Fantoches de Deus

 

a fênix tem olhos

de arco-íris

gérmen de uma nova aurora

fogos de artifício relincham

na noite caolha

amor ao gênero ambíguo

difundido

pelos sacerdotes do Livro Mudo

Jacob Boehme

desperta do sono tectônico

com o seu corpo

sideral

pintura nas muralhas

do inconsciente

eis a revelação de Deus

a alucinação iniludível

a imagem poética

invadindo o domínio do verbo


O Reino das Pétalas

 

a orquídea hipnotiza

seis dragões

que escutam o rumor

revolucionário

nas vísceras dos pássaros

serafins carecas

constroem a catedral gótica

mênstruo da melancolia

buracos negros

proliferam nas águas da alta

licenciosidade


O Pergaminho do Escárnio

 

Para Glauco Mattoso

 

filho do apocalipse

seus sonetos

são o evangelho apócrifo

do Marquês de Sade

coquetéis molotov

de terrorismo poético

sua língua

é esponja de saliva viva

que limpa as solas

de sapatos inimigos

sem perder

o compasso do humor negro

você dispõe milhares

de sonetos

para ávidos & anônimos

onanistas


O Covil de Dionísio

 

palhaços

coaxam no purgatório

sátiros criam

anomalias no paraíso

iconoclastas

sequestram as pinturas

paleolíticas

enquanto hieróglifos inundam

o céu de samsara

com alucinações musicais


A Vidência dos Vagalumes

 

ossadas nos cemitérios

clandestinos

a chuva negra fragmenta

o niilismo

nas trincheiras

do anarquismo

geometria da fúria

carbonários carbonizados

nas areias movediças

a medula

reconstitui a ancestralidade

do círculo

coração de eclipse

angústia tatuada

no crepúsculo sem pele

teatro de sombras

na cova da serpente