A viagem do artífice de Poesia

MARIA AZENHA


Abertura ao VII Encontro Triplov na Quinta do Frade

 

 «Vivemos em cidades, em ofícios, em famílias.  Mas o lugar
onde vivemos em verdade não é um lugar.” C. Bobin.

 

O ser humano busca reunir, unir, integrar a parte material do seu ser à sua contraparte espiritual. O processo inicia-se através de uma Viagem pelo Mundo da Criação, executada no plano da Dualidade. Cronos é o seu tempo, um tempo destronado. Os Antigos consideravam que a Viagem era realizada num tempo circular- um tempo sagrado- simbolizado pela serpente que morde a sua própria cauda, o Ouroboros.  O Viajante prosseguirá e subirá à Montanha, à Sabedoria primordial.

Louis Claude Saint- Martin escrevia: “não há nada mais comum do que os desejos e nada mais raro do que o Desejo”. Este Desejo que não é um impulso instintivo, antes, uma emoção irresistível que provém do coração do homem, no sentido de retornar ao seio de Si- ao Coração. O Amor, parceiro da Viagem do Conhecimento, pede que a Alma, a noiva do Cântico dos Cânticos, utilizando a Via que lhe compete, descubra e reconheça o seu Mestre Interior e se funda com ele: a Alma unindo-se a Sophia.

 

***

 

Não te aproximes deste poema
No centro tem uma romã
Foi desenhado com uma esfera de silêncio

Dentro queima
Até que Deus queira destruir-lhe o Som.

 

***

 

Amor, aceita este meu horto de sangue.
Plantei-o com romãzeiras e o alaúde da minha língua.

 

***

 

Vi na tua boca uma estrela de seis pontas.

Ardia num fruto da romãzeira.
E tu vieste de noite ao meu encontro.

 

In “ A Sombra da Romã”, Maria Azenha, “Apenas livros”,  Colecção Naturarte http://apenas-livros.com/pagina/apenas_de_cordel?id=458


ΘSétimo Encontro Triplov na Quinta do Frade
Casa das Monjas Dominicanas . Lumiar . Lisboa
17 de novembro de 2018