venda das raparigas . britiande . portugal . abertura: 2006

Stella Carbono M.'. M.'.C.'.

TRABALHOS DE UMA LENHADORA

TERCEIRA PARTE: ARTE

Arboreto

 

BRITIANDE - PORTO

2010

 Para a Isaura Baptista Guedes
que leva os primos e amigos para a sua quinta
e lhes dá a mamar das árvores

ARBORETO - INDEX

Quelha dos Loureiros

Sigo pela Quelha dos Loureiros
os muros de pedra
rescendentes a memórias boas.
Oiço as pisadas marciais
dos soldados romanos
e depois as levezinhas
das sandálias moçárabes
que também viveram antes de nós.

Árvores árabes que dão tângeras
e tangerinas de Tânger
entre louros Laurus nobilis
tudo tempera o agnus dei.
Bissmilahir Irrahman Irrahim
Al-Hamdo Lilahil...
Árabes são árvores com raízes
louro agarrado aos muros antigos
abrigo de ninhos e lagartixas...
Porém a laurissilva
quem a vê?
Ali na encosta madeirense
penetrada de húmidos açúcares
os loureiros são altas árvores altas
que só vê quem erguer os olhos para o céu
ou enfim pousar na chapa de identificação
onde ainda se lê Laurus azorica.
A chapa de identificação
define o lugar
como arboreto.
Dele faz parte mostrar
que o nome mudou
passando a Laurus canariensis.
Birras de botânicos tão beras
como Broteros
certamente.
O perfume da coroa de louros embebeda
o siso perde-se na imodéstia louca
de supor terra nostra
a terra-mãe
e destruir a sua cobertura arbórea.
Sinto-me a pisar veludo numa mesquita em Fez
o cheiro a pés numa onda pesada
mas olha para cima
Muhammad
- Abençoado seja o Teu nome –
olha para o céu
pois é no céu que abre
a copa altíssima de Sua Majestade
o loureiro macaronésio.
Na Quelha da Azenha
com toda a minha modéstia
e não menos de 25cms de comprimento
vou-me plantando em estacas de louro culinário
destinado a cobrir-me de glória.
 

 

Maria Estela Guedes
Britiande . Porto, Agosto/-, 2010